Tem certas coisas que a gente só consegue observar quando se distancia. Claro, eu sempre soube que nós, brasileiros, somos displicentes e imprudentes quando se trata de educação no trânsito. Não à toa, noticiamos, todas as semanas, a carnificina nas estradas. Em Santa Catarina não há um fim de semana sequer sem pelos menos cinco ou seis mortes no trânsito. Mas achava que a gente estava melhorando. Isso até chegar na Espanha para minhas férias, que acabaram há poucos dias.
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Recém chegada a Madri, paro em uma esquina supermovimentada, com carros indo e vindo de todas as direções. Não há sinaleira naquela rotatória. Primeira coisa que penso: nunca vou conseguir atravessar essa rua.
Chego perto da faixa de segurança para pedestres e paro. Em segundos, todos os carros param e dão passagem para mim e mais umas três ou quatro pessoas que estão do meu lado.
– Nossa, que legal, todos eles pararam. Deve ter sido coincidência – comento.
Em outra faixa de segurança, paro de novo. Em seguida, todos os automóveis, ônibus, táxis e motos param também. Fico encantada com a educação do povo, e aceno a um motorista que me deu passagem.
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Meu amigo – que é brasileiro mas mora há 20 anos na Espanha – me pergunta:
– Ué, você conhece esse cara que está dirigindo o carro?
– Claro que não. Só estou agradecendo por ele ter parado na faixa.
– Agradecendo por quê? É a obrigação dele!
É verdade, eu sei, mas aqui no Brasil, quando algum motorista para na faixa – o que não é muito comum (infelizmente) -, eu agradeço a gentileza.
Em compensação, vi também um motorista espanhol gritando palavrões para um grupo de pessoas que atravessou a rua enquanto o sinal estava aberto para os carros. Eles ficam furiosos, e com razão. E sabem de onde era o grupo? Do Brasil.
Outro dia, fomos a um bar em Barcelona onde servem os tradicionais “tapas”, que são sanduichinhos e outros salgados que se pode comer com a mão. No balcão, uma variedade de mais de 30 pratos de tapas, todos eles “enfeitados” com um palito de madeira. Perguntei ao atendente como era o esquema da casa. Ele disse: o preço é por unidade. Você escolhe o que quer comer, coloca no prato e guarda os palitos. Na saída, eu conto o número de palitos e calculo o preço final.
Demorei para entender que não precisava pagar antes de comer e que ninguém iria controlar se eu estava realmente juntando todos os palitos do que consumi.
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Comemos, levamos os palitinhos até a saída, pagamos e fomos embora. Fiquei encantada. Você consegue imaginar um bar que funcionasse assim por aqui?
O meu amigo que mora lá disse que nem todos são honestos na Espanha, e que eles sabem que sempre há aquele que esconde palitos no bolso ou atira no chão. Mas estes são exceção. Coisa de primeiro mundo?
Uma terceira – e última – historinha. Entramos num ônibus urbano. Meu amigo tem um destes cartões de estudantes e paga metade da passagem. Fez questão de pagar a nossa também.
Passou o cartão três vezes pelo leitor eletrônico. Eu reparei que no ônibus não tinha cobrador.
– Como assim? Quem controla se você está ou não pagando a passagem? – me perguntei.
Ele contou que, a princípio, o motorista é que deveria fazer este papel de fiscalizar, mas eles não fazem porque dizem que a obrigação deles é dirigir. Então, fica na consciência de cada usuário.
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