Mesmo que eu queira, não consigo me concentrar em outra coisa para escrever hoje*, pois um só pensamento ocupa a minha cabeça: como é que pode um menino de apenas 19 anos, com a vida inteira pela frente, simplesmente morrer, assim, de uma hora para a outra?
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Perdemos Lucas, nosso colega e “mascote” da redação aqui no DC, em um estúpido acidente de carro.
Muito machucado, ele foi levado para o hospital, mas morreu menos de 24 horas depois. Ou seja: num dia, ele estava aqui, alegre, brincalhão e bem disposto como sempre, mostrando a todos, com seu trabalho e dedicação, que teria um belo futuro no jornalismo (e na vida). No outro dia, a cadeira que ele ocupava estava vazia, para sempre. Ele não iria voltar. Como acreditar nisso?
E só um pensamento me vem à cabeça, o tempo todo: o que será da família de Lucas, a partir de agora? Sim, sei que a vida continua e que o tempo é o melhor remédio contra todos os males, mas nada aplaca a dor da perda de um filho, ainda mais de uma forma tão trágica e repentina.
Como mãe, não consigo parar de pensar no sofrimento da mãe de Lucas. É uma dor maior do que todas as palavras. Transcende a qualquer descrição.
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Lucas não foi o primeiro jovem a morrer na direção de um carro. E infelizmente não será o último. São centenas, milhares, todos os dias, perdendo a vida de maneira brutal no trânsito, sendo arrancados de suas famílias, da convivência com os amigos, deixando um vazio que jamais será preenchido. Estes exércitos de meninos e meninas partem justamente na melhor época da vida, em que tudo é descoberta, alegria, expectativa. É como sair da festa antes do Parabéns a Você. Tantas perguntas ficam sem respostas, tantos amores não têm tempo de ser vividos, tantos planos não saem do papel…
O pior é que nós, pais, muito pouco podemos fazer para evitar que tragédias assim se repitam. Por mais que peçamos calma e atenção ao volante, repetindo os mesmos conselhos todos os dias, todas as horas, os jovens continuam acreditando piamente que desgraça só acontece com os outros. Tenho um filho da mesma idade de Lucas e, outro, um pouco mais velho.
Cada vez que eles saem de carro, rezo para que voltem sãos e salvos, e fico apreensiva. Eles riem, claro. Provavelmente só saberão o que é esta angústia quando tiverem seus próprios filhos.
À noite, só consigo dormir quando ouço o barulho da chave na fechadura da porta da rua. Aí, sim, respiro aliviada. Esta é a melhor sensação do mundo para uma mãe: saber que seus filhos estão seguros. Não tem dinheiro que pague.
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(*) Este texto foi escrito na sexta-feira, 8 de outubro, data em que Lucas foi sepultado, em Florianópolis.