Roberta Fischer, 24, tinha medo. A jovem mulher assassinada a facadas em Pouso Redondo, no Alto Vale do Itajaí, neste domingo (28), não escondia o pesadelo que vivia por causa do ex-marido, principal suspeito de cometer o crime. E mesmo que quisesse ocultar, os olhos tristes denunciavam o aperto constante no peito. Durante o casamento, afastou-se de amigos devido ao perfil agressivo do então companheiro. Quando resolveu dar um basta, temeu pela própria vida e pela dos três filhos pequenos.
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Costureira habilidosa, Roberta começou a trabalhar muito cedo, lembra a amiga de infância, Daniela Schultz. Aos 10 anos não sabia o que era ser criança. Da escola onde sempre teve as melhores notas seguia direto para casa para ajudar a mãe nas entregas das peças de roupas. Saía muito pouco e colecionava responsabilidades que não combinavam com a idade que possuía. Mesmo assim, não reclamava. Daniela apenas tem recordações da amiga com um sorriso no rosto.
— A vida dela não foi fácil. Ela só queria ser feliz, construir uma família e ter as coisas dela — lembra.
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O desejo levou Roberta a se casar muito cedo. Antes dos 15 já estava com quem se tornaria o pai dos três filhos dela, de 3, 5 e 7 anos. Depois de um tempo, a relação passou a mostrar sinais de violência. Daniela se recorda que quando o marido da amiga bebia, a situação piorava. Roberta chegou a ser agredida durante a gravidez e quase perdeu o bebê. Separou-se diversas vezes, mas voltava por pena dos filhos e pelas ameaças.
Sempre muito fechada e vivendo um uma relação baseada no medo, distanciou-se de algumas pessoas queridas, como a amiga de infância. A jovem sorridente passou a ter um olhar triste. No trabalho, uma confecção da cidade, no entanto, não conseguia esconder os problemas. Aos poucos foi se abrindo com as colegas que se tornaram amigas, uma delas Maiara Picoli, que chora ao resgatar uma conversa que teve na semana passada com Roberta:
— Sonhei que ele tentou matá-la e que ela ficou na cadeira de rodas. Quando contei, ela disse: “eu sinto que vou morrer, estou preparada”. Eu pedi para ela ir embora, ela falou que não podia, que tinha dívidas — revela Maiara.
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“Meu pai é malvado”
No começo do ano Roberta terminou de vez com o esposo. Depois de tantas agressões, humilhações, episódios de ciúmes, boletins de ocorrência e de ter de manter a casa sozinha inúmeras vezes, estava decidida a deixar o relacionamento abusivo para trás. Ela chegou a conseguir na Justiça uma medida protetiva contra o homem e precisou acionar a polícia ao menos em duas ocasiões. Em liberdade, ele a ameaçava constantemente.
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> Mulher é morta a facadas na presença da mãe e dos filhos em Pouso Redondo, no Alto Vale
Em uma das vezes quebrou o carro que ela ainda estava pagando. Em outra, invadiu a casa para esperá-la voltar do serviço. Naquele dia Roberta dormiu na residência de uma amiga para evitar o encontro e logo se mudou para o imóvel dos pais. As ameaças eram contra Roberta e também contra a vida dos filhos. Mãe dedicada, não deixava faltar nada para os pequenos. Fazia horas extras na empresa com frequência. Parte para poder pagar as contas com mais tranquilidade, parte para evitar a realidade lá fora, acredita Maiara.
Nas últimas semanas, contudo, Roberta se apaixonou. Mesmo assim, teria pedido ao novo namorado que se afastasse com medo que algo acontecesse também a ele, mas o homem se recusou. Queria construir uma vida diferente com Roberta. Ele tentou socorrer a amada no momento da agressão e foi ferido. O ex-marido tentou se matar na sequência e ambos estão no hospital de Rio do Sul. Assim que receber alta o autor da agressão será preso em flagrante por homicídio e tentativa de assassinato.
— Ela vivia com medo. Não merecia nada disso. Era uma pessoa do bem, responsável, amava os filhos dela. Encontrou esse rapaz e estava radiante, disse que nunca havia se sentido amada antes — lamenta Maiara.
No próximo dia 11 Roberta faria 25 anos. Batalhadora, fez a carteira de habilitação, comprou o próprio veículo e queria sair do aluguel e ser professora. Humilde e muito educada, tinha um desejo simples como meta de vida: o de ser livre e feliz.
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— As duas crianças mais novas viram ela ser morta. No enterro uma disse: “meu pai é malvado”.