Em movimento contrário ao êxodo rural motivado nas últimas décadas pela industrialização em diversas cidades do País, Joinville vem despertando no campo novas oportunidades que incentivam a permanência dos agricultores, em especial os jovens, nas propriedades rurais. Fatores como o avanço da tecnologia, a busca por melhor qualidade de vida, independência financeira e profissionalização refletem na escolha e abrem caminho para novos modelos de agronegócio.
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A decisão de deixar ou não a lavoura, cabe aos cerca de 17 mil habitantes rurais de Joinville, que compõem a maior população rural de Santa Catarina. Desses, aproximadamente ¼ são jovens, e é entre eles que o incentivo de “ficar” no campo tem se intensificado, principalmente nas áreas produtivas de diferentes cultivos como do arroz, da banana, do aipim e da pupunha. Isso porque, recai neles a missão de seguir ou não na atividade iniciada pelos seus antepassados.
A novidade é que continuar na zona rural já não se trata de uma imposição para manter a produção familiar entre uma geração e outra, o uso da força também deixou de ser empecilho, assim como não há limitações no acesso aos espaços de lazer da área urbana. De acordo com Ana Lúcia Ribeiro, gestora do Centro de Treinamento da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), hoje permanecer no campo é uma decisão profissional.
De acordo com Ana Lúcia Ribeiro, gestora do Centro de Treinamento da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), hoje permanecer no campo é uma decisão profissional.
— Os jovens de hoje eles são agricultores por opção, essa é a diferença do novo perfil do jovem rural catarinense, porque antigamente muitos permaneciam na roça por falta de oportunidades. Hoje não, muitos cursam faculdade, são protagonistas e enxergam outros modelos de negócio — destaca.
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A opinião é compartilhada pelo engenheiro agrônomo Onévio Zabot. Ele afirma que a automatização na lavoura, por exemplo, humanizou o trabalho no campo e ajudou a quebrar o estigma de “colono” como sendo um termo pejorativo ou de indício de menor escolaridade. Conforme ele, para atuar na agricultura são exigidos conhecimentos tão abrangentes quanto em qualquer outra atuação.
— Não existe mais aquele trabalho feroz, está menos desgastante e mecanizado, mais humano. Você consegue trabalhar com drones, máquinas agrícolas e equipamentos modernos. Essas inovações tiram o peso da enxada e melhoram muito a qualidade de vida na agricultura — ressalta ele.
Ensinamentos repassados ao longo de quatro gerações
Dar sequência aos cultivos da família, no futuro, nunca foi tido como um fardo para os irmãos Joelmir Pabst, de 20 anos, e Geovane, de 18, que deixam claro o desejo de ficar no campo e ver a terra onde cresceram, prosperar. Eles ajudam na produção de alface em hidroponia, taiá-japão e tomate desde crianças, quando o serviço ainda era liderado pelos avós Oscar e Elfrida e pelos pais, Nilson e Inelda. De lá para cá, não só pegaram gosto pela atividade, em Pirabeiraba, como também começam a modernizar o trabalho na roça.
Uma circunstância que transcende os ensinamentos repassados ao longo de quatro gerações. Agora o que contam são as ideias dos garotos no emprego de novos recursos que visam tornar o trabalho menos pesado, mais eficiente e de maior renda para a família.
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— Era tudo tocado à cavalo e na mão no engenho, nada era elétrico. Mudamos muito e temos tratores, arrancadeira, plantadeira. Os filhos quiseram comprar os tratores para substituir o trabalho dos cavalos. Às vezes, ainda faço da forma antiga, porque aprendi dessa forma, só que com a ajuda deles e do maquinário, reconheço que a vida na lavoura melhorou 100% — conta o pai, Nilson.
A modernização dos processos e a autonomia nos negócios foram determinantes para os jovens decidirem não deixar o interior.
— Minha motivação em ficar é a rentabilidade, porque muita gente diz que lavoura não dá dinheiro, mas se souber trabalhar dá e muito. A tecnologia também é importante e acredito que não ficaria caso o serviço fosse braçal — diz Joelmir.
Tanto ele quanto Geovane pouco a pouco começam a sucessão no comando das atividades da família e participam da plantação, colheita e venda, feita em verdureiras da cidade. Conforme eles, são apenas 15 minutos que distanciam a propriedade da área urbana, diferencial que pesa a favor da permanência no local.
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A tendência é seguida em outras propriedades que rodeiam o município, na avaliação de Zabot – a par do cotidiano das famílias rurais há pelo menos três décadas. “Nossa região tem a característica do agricultor pluriativo, não é como algumas regiões que têm o êxodo rural, aqui há o êxodo da atividade, mas não do rural. O jovem sempre teve muitas oportunidades e proximidade com o consumidor e as “benesses” da cidade, o que impulsiona o agronegócio”, justifica.
Retorno para o campo
Uma comodidade que viabiliza a manutenção da produção, mesmo sem abrir mão da vivência na cidade. Um dos exemplos vem do jardineiro Jeferson Luis Rothert, de 30 anos, que mora no centro de Pirabeiraba e mantém ativo o plantio de aipim às margens da SC-418. Criado na propriedade rural, o rapaz decidiu voltar a trabalhar na terra para preservar a herança da mãe, falecida há 12 anos.
De acordo com o agricultor, ele se criou no campo, mas mudou para a cidade quando casou e seguiu outros ramos, como o da indústria. Porém, para não se desfazer das terras decidiu largar o trabalho e atualmente investe, há quatro anos, na lavoura.
— Decidi tentar sozinho. Primeiro, alugava um trator para arar o terreno e plantei dois pés de aipim, no ano seguinte, aumentou para 20 pés, quando vi, já tinha meia roça. Comprei um trator e continuo aplicando por acreditar que o agricultor será mais valorizado, pois muitos deixaram a atividade, mas precisam se alimentar e vão depender dessas áreas de cultivo no futuro — considera.
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