Moradia, alimentação, transporte, energia elétrica, gás. Difícil pensar em um orçamento doméstico que não tenha esses itens como os gastos mais representativos de uma família. Em 2021, a sensação de que este seria o ano em que as coisas voltariam ao normal aos poucos deu lugar a um novo período de restrições e impactos da pandemia na economia e na inflação. Afinal, viver ficou mais caro em SC?
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Para Fabiane Pavani Santana, do bairro Monte Cristo, em Florianópolis, sim. Há três anos, ela vende doces e salgados por encomenda e sentiu na pele o aumento vindo de todos os lados. O botijão de gás, que saiu por R$ 90 em um mês, custou R$ 110 no mês seguinte. Para fugir, uma saída seria a fritadeira elétrica, mas o óleo também disparou no supermercado, assim como a carne, o leite condensado e outros ingredientes para os pratos.
– Para mim é bem ruim porque trabalho com produtos caseiros e não posso subir o preço das minhas encomendas, porque assim muitos clientes já reclamam. Eu perco cliente, perco vendas – conta.
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A reportagem do Diário Catarinense levantou a alta de preços em cinco itens que afetam o orçamento doméstico, desde o início do ano e nos últimos 12 meses. Para medir o impacto que os catarinenses de fato têm nos gastos do dia a dia, foram considerados sempre que possível indicadores de Santa Catarina, como a média do preço de gás de cozinha e gasolina no Estado e o indicador de inflação de alimentos calculado pela Escola Superior de Administração e Gerência (Esag) da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).
O resultado é uma inflação que confirma a sensação do consumidor de que os gastos essenciais ficaram mais altos em 2021. O Índice de Custo de Vida (ICV) geral da Udesc aponta inflação de 5,31% desde janeiro até julho, quatro vezes mais do que no mesmo período de 2020.
No período dos últimos 12 meses, a alta é de 8,92% em SC, próximo da inflação oficial do país nesse mesmo período (8,35% até junho – o indicador de julho ainda não foi divulgado). Mas o consumidor sabe que em alguns itens do dia a dia essa alta pode ser bastante superior, como no caso do gás de cozinha (confira abaixo).

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A economista e professora de Economia e Finanças Públicas da Udesc Esag, Ivoneti Ramos, explica que esse aumento no custo de vida é causado por uma conjunção de fatores. Entram nessa conta o aumento de uma demanda que esteve reprimida em 2020 e a retomada de atividades que necessitam de combustíveis, o que eleva o preço do petróleo. Soma-se a isso ainda o fato de as matérias-primas terem ficado mais caras, pela redução da produção e dificuldade de circulação no início da pandemia, e até mesmo questões como a injeção de recursos do auxílio emergencial, que permitiu a mais pessoas comprar alimentos, o que também faz os preços subirem.
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O doutor em Finanças Comportamentais e consultor do Jornal do Almoço da NSC TV, Jurandir Sell, lembra que altas como a da energia elétrica e combustível afetam basicamente tudo, porque aumentam o custo de produção ou transporte são repassados aos produtos. Ele alerta ainda que a pandemia agravou ainda mais a concentração de riqueza.
– Os 25% mais pobres empobreceram muito, e os 10% mais ricos enriqueceram muito. E a situação dessas pessoas está desesperadora. Basta andar nas cidades para ver o número de pessoas pedindo. Bares, lanchonetes, pequenas empresas que normalmente empregam pessoas com menor qualificação profissional, simplesmente fecharam – alerta.
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Gás de cozinha
Dos indicadores consultados, o que mais aumentou no último ano foi o gás de cozinha, novo vilão dos gastos domésticos. O aumento foi de 35,7% no período de um ano, na comparação entre o preço médio do produto em SC segundo a pesquisa da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Em julho de 2020, o botijão de 13 quilos custava R$ 72,50 em SC e, no último mês, o valor médio apontado foi de R$ 98,41. Na “vida real”, o botijão chega a custar R$ 110 em alguns estabelecimentos do Estado. Vendedores de gás da Capital relatam que alguns clientes já estão aderindo aos fogões elétricos para tentar escapar da alta – ainda que a energia também tenha aumentado.
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Por que aumentou?
A atual política de preços da Petrobras prevê o reajuste de combustíveis, como gasolina, diesel e também o gás de cozinha, com base na variação do mercado internacional. São considerados principalmente o custo do barril de petróleo, que vem subindo com a retomada econômica, e a cotação do dólar, que sofreu forte alta durante a pandemia impulsionado por fatores como a busca por investimentos mais seguros. Como não há periodicidade definida nos reajustes, é possível que o gás continue aumentando de acordo com as oscilações do mercado externo.
Moradia – aluguel
Outro item que apresentou forte alta foi a chamada inflação do aluguel – o Índice Geral de Preços Mercado (IGP-M), usado como referência para reajustar os contratos de locação de imóveis. Em 12 meses, o indicador acumulou alta de 33,83%, o que levou muitos locatários a precisarem renegociar seus contratos com proprietários e imobiliárias. Em 2021, a alta do IGP-M já é de 15,98% até julho.
Moradia – construção
Mas a despesa com moradia também pode estar atrelada ao Custo Unitário Básico da Construção (CUB) para quem está construindo ou comprou imóvel na planta. Esse indicador também sofre forte alta. O custo do metro quadrado construído no Estado aumentou 18% nos últimos 12 meses, saltando de R$ 1.974,30 em julho de 2020 para R$ 2.329,85 em junho de 2021. Somente nesse ano o índice já tem aumento de 10,2%, que já é sentido nas parcelas por quem tem financiamento reajustado por essa taxa.
Por que aumentou?
O IGP-M é composto por três índices que consideram, além de preços de alimentos e serviços, também as variações do dólar e das commodities agrícolas no mercado internacional. Com a pandemia de Covid-19 e os reflexos dela na economia, como a alta da moeda americana, o índice ficou muito acima da inflação “real” do país, medida por outro índice, o IPCA, e que considera apenas uma cesta de produtos de maior consumo nas famílias.
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No caso do CUB, a construção também ficou mais cara pela redução da atividade industrial, que fornece produtos necessários às edificações e aumento da energia elétrica. Influenciam também a alta de insumos com o aço e um aumento da demanda, já que com as pessoas em casa por mais tempo, os gastos com reformas aumentaram.
Alimentação
Outros gastos com alimentos também aumentaram e são percebidos por quem costuma ir às compras. A alimentação em domicílio, que reflete os aumentos dos preços em supermercados, teve aumento de 7,25% nos últimos 12 meses. Já a alimentação fora de casa, que calcula preços de bares e restaurantes, também subiu – alta de 9,38% no último ano.
Por que aumentou?
Muitas variantes interferem na alta de preços dos alimentos. A alta no preço de matérias-primas, em boa parte impulsionada pela subida do dólar, os gastos maiores com transporte por causa da alta no diesel, o aumento da demanda pelo fato de as pessoas estarem mais tempo em casa durante a pandemia e precisarem preparar suas próprias refeições são alguns dos pontos que explicam essa inflação sobre a alimentação.
Além disso, prejuízos sofridos na safra do milho, importante ingrediente da ração de aves e suínos, e o o auxílio-emergencial, que garantiu algum poder de compra às famílias, utilizado na alimentação, também teve influência na alta de alimentos, segundo a economista da Esag Udesc, Ivoneti Ramos.
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Energia elétrica
A energia elétrica sofreu apenas o reajuste anual em agosto do último ano, de pouco mais de 8% em SC, mas no mês passado a tarifa passou a contar com a chamada bandeira vermelha faixa 2. Por sinal, essa faixa da cobrança adicional também teve aumento, passando de R$ 6,24 para R$ 9,49 a cada 100 kWh, um aumento de 52%.
E o que está ruim pode ficar pior. Em 14 Estados já foram autorizados os reajustes anuais a que as empresas têm direito. Em SC, a Celesc informou ainda não haver discussão sobre aumento da tarifa, mas no ano passado, a revisão do valor ocorreu neste mês de agosto.
Por que aumentou?
Como se não bastasse todo o cenário de pandemia e danos à economia, o Brasil também enfrentou nos últimos meses uma crise hídrica. A falta de chuvas fez baixar o nível das usinas hidrelétricas, responsáveis pela maior parte da energia gerada no país. Com isso, foi necessário aumentar a produção de usinas termelétricas, mais prejudiciais ao meio ambiente. Quando isso acontece, a tarifa de energia ganha a cobrança adicional chamada de “bandeira”, que pode ser amarela ou vermelha, a depender da situação energética do país. Em julho, as contas tiveram a taxa extra prevista na bandeira vermelha faixa 2, a mais alta, e que ainda foi reajustada.
Gasolina
Terror dos motoristas, o preço do litro da gasolina em SC também voltou a pesar no bolso das famílias. Depois de um leve respiro nos meses de restrições mais severas da pandemia, quando o consumo e consequentemente o preço caíram, o combustível só faz subir. O valor passou de R$ 4,10 em julho de 2020 para R$ 5,51 na pesquisa de julho – uma alta de 34,4%.
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Desde janeiro, o valor saltou de R$ 4,48, o que representa um aumento de 23% somente nos sete meses de 2021. Vale lembrar que a alta de combustíveis como a gasolina e principalmente o diesel ainda têm reflexo nos preços dos produtos e alimentos, já que o transporte das mercadorias ocorre na maior parte por meio rodoviário.
A situação pode ficar ainda pior, já que nesta terça-feira a Petrobras anunciou novo reajuste da gasolina, com possibilidade de que o preço chegue a até R$ 5,99 por litro em SC.
Por que aumentou?
A exemplo do que ocorre no gás de cozinha, a gasolina também é reajustada pela mesma política de preços da Petrobras. Novamente, a alta do dólar e a retomada do preço do barril de petróleo no mercado internacional são repassados ao produto no país pela empresa estatal. O formato de aumentos nos preços já gerou crises e polêmica até na mudança da presidência da Petrobras, mas continua incidindo nos preços. Em Florianópolis, entidades do setor estimam que a gasolina possa chegar a R$ 7 no segundo semestre.
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Como tentar reduzir os gastos?
Como lidar com os preços que aumentam tanto e o salário que nem sempre acompanha essas altas? O especialista Jurandir Sell reconhece que para quem já está com a “corda esticada”, fica cada vez mais difícil escapar dessas altas apenas com medidas simples no dia a dia, e defende um recado para as classes mais altas que possam ajudar as camadas mais pobres nesse momento.
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Ainda assim, para a economista da Udesc Esag, Ivoneti Ramos, algumas dicas podem ajudar a economizar na energia elétrica e na gasolina, por exemplo:
– Pesquisa de preços pela internet, de produtos que possam substituir itens que aumentaram muito;
– reduzir o tempo dos banhos;
– utilizar lâmpadas de LED e apagá-las quando não estiverem em uso
– passar roupas todas de uma vez só
– não deixar aparelhos ligados na tomada em stand by
– Adotar a carona para reduzir gastos com carro
Controle da Covid pode ser alento contra alta de preços
Para os próximos meses, Jurandir Sell aponta que o controle da doença é bastante importante e pode ser um alento ao país, retomando consumo em bares e restaurantes, geradores de emprego, e fortalecendo a indústria.
Ivoneti Ramos também indica que a retomada aos poucos da economia após a vacinação pode trazer algum controle à disparada de preços.
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– O aumento da taxa Selic atrai mais investidores externos, com isso circula mais dólar no país, baixando o câmbio. Isso auxilia a reduzir a pressão sobre matérias-primas importadas. Mas vale lembrar que ainda estamos em pandemia, a vacina ainda está em andamento, então o cenário de muita incerteza com relação a desdobramentos. É fundamental que as famílias façam seus ajustes orçamentários considerando um prazo maior – orienta.
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