Pombos à procura de comida já se tornaram parte da paisagem urbana nas grandes cidades. No Centro de Florianópolis, por exemplo, além da presença dos animais, já passou a ser também comum ver muitos deles sem os pés. Mas por qual motivo há tantas dessas aves mutiladas ou com ferimentos?

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Pesquisador do departamento de Ecologia e Zoologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Guilherme Brito diz que essas aves sofrem machucados nos pés ao prenderem eles em lixos e fios enquantos rastejam pelo chão em busca de alimento. O asfalto quente e objetos pontiagudos também podem causar as deformações.

— Já foram observados esses bichos com várias coisas amarradas aos pés, inclusive fios de cabelo, que acabam cortando ou se enrolando. Isso acaba cortando a circulação, e os dedos vão definhando e caindo. Não é só cabelo, mas qualquer tipo de fio. Fios finos de plástico, linhas de pesca — afirmou em entrevista ao g1 SC.

A hipótese citada pelo professor era apontada já em uma pesquisa de 2019 feita na cidade de Paris, na França. Ao relatar as conclusões de seu estudo, o pesquisador Frédéric Jiguet diz que a incidência de animais com pés mutilados e deformados em áreas urbanas e perto de salões de beleza é maior do que em regiões menos populosas.

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“Pombos que frequentam as calçadas com mais fios e pêlos estariam mais expostos e sujeitos a mutilações”, escreveu Jiguet no artigo.

Apesar das deformações, segundo afirma Brito, as aves parecem ter se adaptado muito bem às cidades, onde encontram grande disponibilidade de comida e também ampliaram o número de itens de sua dieta.

Há relatos de que elas tenham chegado ao Brasil no século 16, vindas do leste europeu com viajantes que as usavam para consumo ou criação doméstica como ornamento, além do serviço de pombo-correio.

A adaptação às cidades também foi facilitada forma como são construídas e pela cor dos prédios, que ajudam a simular os rochedos em que os animais da espécie naturalmente se abrigavam.

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— Eles conseguem colocar dois, três gravetos e botar o ovo sem muito problema. Também se abrigam em qualquer canto — explicou o professor da UFSC.

Saúde e proteção

Em Florianópolis, a Secretaria Municipal de Saúde orienta que a população não alimente nem disponibilize abrigos a esses animais. O manejo e normas sobre esses animais ocorre somente com autorização do Ibama.

Em caso de presença indesejada das aves, o governo municipal atende denúncias por meio do Centro de Controle de Zoonoses e faz visitas para orientar a adoção de medidas específicas para cada imóvel.

Desde 2018, segundo a administração municipal, 25 casos de criptococose, popularmente conhecida como doença do pombo, foram confirmados na cidade. Ela pode trazer problemas respiratórios. A espécie também traz risco de meningite, doença causada por um fungo presente em suas fezes.

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Ainda segundo a prefeitura de Florianópolis, não há uma lei específica sobre as aves, mas elas são protegidas pela legislação ambiental, que defende os animais indiscriminadamente. Com isso, matar pombos é crime, com pena de até cinco anos de prisão.

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