O culto da Igreja Quadrangular, nos Ingleses do Rio Vermelho, não terá música hoje. E o pastor que conduzirá os trabalhos será um auxiliar, chamado às pressas. A pastora titular da casa, Rosangela Zorteia, não se sente em condições de substituir o marido, o também pastor Valdir Carlos Zorteia, que costuma estar à frente da Igreja.

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Ele viajou para acompanhar, em Itapiranga, no Extremo-Oeste catarinense, o velório de um dos fiéis companheiros da casa, Antônio Marcos Teixeira, que morreu junto com outras quatro pessoas da mesma família num acidente de trânsito na BR-282, em Campos Novos, no Meio-Oeste.

Muito difícil de acreditar

– A gente não se conforma. Está sendo difícil de acreditar. Ele conquistava a todos com seu testemunho – conta Rosangela.

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Antônio era tecladista oficial dos três cultos semanais da Igreja que frequentava há 10 anos. No altar onde ficava tinha também a companhia da mulher Noeli e da filha mais nova, Valéria, que participavam dos cantos. As duas morreram na tragédia. Era uma família muito dedicada à religiosidade.

– Ele vai fazer muita falta. Vai ser difícil olhar para o altar e não vê-lo mais lá – afirma a tesoureira da Igreja, Maria José Pequeno.

Colegas de trabalho usam laço preto

No posto de combustíveis onde Antônio trabalhava como vigia de madrugada, em Santo Antônio de Lisboa, os funcionários passaram o dia com um laço preto preso ao uniforme, em luto.

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Antônio era funcionário há 11 anos. O cunhado dele, Janir, também havia sido frentista por pouco mais de quatro meses no local, mas pedira demissão para se dedicar ao trabalho de pedreiro.

– Os dois eram muito prestativos. Gostavam de trabalhar e estavam sempre felizes. O Antônio sempre chegava uns 15 minutos antes para me ajudar a fechar o caixa. Eram boas pessoas – conta a caixa Gabriela Maria da Silva, 29 anos.

O livro de recados para as equipes tinha uma mensagem, deixada pela proprietária do posto: “Que esse Deus o possa recebê-lo de braços abertos como um filho merece”.

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Quem eram

Antônio Marcos Teixeira, 37 anos

Era muito dedicado à Igreja Quadrangular. Atuava como pastor auxiliar e era o tecladista oficial dos três cultos semanais da casa. Além disso, fazia todo o tipo de serviço para a Igreja: todos os dias, ele comparecia no local para dar uma olhada no que precisava ser feito. Há 11 anos, também trabalhava como vigia noturno em um posto de combustíveis na SC-401, na região do Bairro Santo Antônio de Lisboa, na madrugada.

Noeli Almeida Teixeira, 39 anos

Era mulher de Antônio. Há muitos anos atuava como governanta de uma família em Jurerê, Norte da Ilha. Também costumava fazer trabalhos terceirizados para o Resort Costão do Santinho, onde já foi camareira. Acompanhava o marido nos cultos da Igreja Quadrangular, onde cantava com a filha no altar e era presidente do grupo de mulheres. Nos últimos meses, estava em preparativos para se tornar uma pastora auxiliar, como o marido: em dezembro se formaria no curso de teologia da casa.

Valéria Almeida Teixeira, 10 anos

Filha mais nova de Antônio e Noeli, cursava a 5ª série da Escola de Educação Básica Intendente José Fernandes, nos Ingleses, pela manhã. Costumava acompanhar os pais em todos os cultos da Igreja Quadrangular. Às vezes, também cantava com a mãe no altar.

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Sueli de Almeida, 46 anos

Irmã de Noeli, havia se mudado para Florianópolis com a família há menos de um ano, em busca de melhores condições de vida. Há poucos meses começara a frequentar a Igreja Quadrangular, incentivada pela irmã.

Janir Barbosa, 37 anos

Marido de Sueli, trabalhava como pedreiro em serviços no Norte da Ilha. Por cerca de cinco meses, conseguiu conciliar dois trabalhos: além das construções, atuava como frentista no mesmo posto de combustíveis do cunhado Antônio. Há cerca de um mês e meio, abandonou o emprego para se concentrar na outra função. Sonhava em ver o filho mais velho crescer e se tornar jogador de futebol.