O vereador de São José Antônio Carlos da Silveira Júnior, que foi vítima de injúria racial durante uma sessão da Câmara, no início de junho, ainda se recupera dos ataques. Ao Hora, o político afirmou que apesar de a busca pelo autor do crime não ter reparo sentimental no que o momento causou, ele vai lutar “até o fim” para que a situação não se repita. 

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Toninho defendia um projeto de lei quando foi atacado no chat do YouTube, onde a sessão era transmitida ao vivo. O vereador é o único negro do Plenário e foi chamado de “macaco” por um perfil da rede.  

O político conta que teve crise de ansiedade após a sessão e precisou passar a madrugada do dia seguinte no hospital. 

— Não é só se esconder atrás do computador para fazer qualquer agressão, a pessoa será achada sim. Tem delegacia pra isso — afirma.

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A Polícia Civil afirmou que está investigando o caso, mas que não vai repassar detalhes até a finalização do inquérito. Segundo o delegado responsável, Arthur Loppes, as investigações devem ser finalizadas dentro de um mês.

Confira a entrevista:

Hora: Onde aconteceram os ataques?

Toninho: A sessão é transmitida no canal da TV Câmara e também no YouTube e Facebook. Mas no YouTube, abre o chat na lateral e foi lá que foi feita a injúria.

O que estava sendo discutido na sessão da Câmara?

No momento, a discussão era sobre um projeto que abre vagas de matrículas prioritárias para crianças com qualquer tipo de deficiência em escolas próximas às suas residências. Eu estava defendendo o projeto que é de minha autoria.

São José passava por um momento crítico com a greve dos servidores, então tinha muita gente na própria Câmara e muita gente acompanhando a sessão de casa. Durante a minha explanação do projeto, algumas pessoas faziam comentários sobre a situação do município, por exemplo, “do que adianta as vagas, se a educação está em greve”.

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Você está acompanhando a investigação da Polícia Civil?

Sim, estou acompanhando. O primeiro passo foi a minha denúncia, aí depois a gente juntou provas, inclusive o setor de Tecnologia da Informação da Câmara ajudou, e depois prestei depoimento. Agora eles estão em fase de investigação para descobrir de onde vieram os ataques.

A pessoa já foi identificada por vocês através da conta que fez os ataques?

O setor de TI da Câmara identificou o perfil, só que ele foi apagado. Pode ser sido uma conta fake.

Como você sentiu quando ficou sabendo dos ataques?

No momento, a minha reação foi de indignação. Não fiquei com ódio, mas de indignação e injustiça porque eu estava defendendo um projeto muito importante para as famílias. Aí eu recebi uma agressão, isso me causou muita frustração.

Na mesma noite eu tive uma crise de ansiedade terrível, fui parar no hospital e precisei virar a madrugada lá.

Como você acha que a polícia pode ajudar agora?

Independente dos ataques, as pessoas precisam entender que não é só se esconder atrás do computador e fazer qualquer agressão que não serão achadas, eu vou até o fim. E essa pessoa que me agrediu vai servir de exemplo para que outras não saem agredindo desenfreadamente nas redes sociais.

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É uma violência virtual, mas tem punição pra isso, tem delegacia pra isso. Não quero reparar essa questão que já aconteceu, não vão conseguir reparar, mas quero que isso tenha um caráter pedagógico, de ensinar a sociedade que não é simplesmente agredir atrás de uma máquina. A pessoa será achada e punida.

Entenda o caso

O vereador é o único político negro do plenário de São José e enquanto defendia um projeto de lei sobre a prioridade de vagas e matrículas a crianças e adolescentes com qualquer deficiência física e/ou cognitiva, foi vítima de ataques raciais na internet.

Nos comentários da transmissão pelo YouTube, um perfil teria feito um comentário com três emojis de macaco e dois de palminha enquanto o político falava. Pelas redes sociais, Toninho se manifestou após a sessão.

— Hoje, pela primeira vez dentro da Câmara Municipal de São José, recebi um ataque racista enquanto manifestava sobre um projeto de lei nosso. […] Ela não estava, provavelmente, concordando com a minha cor e não com o projeto. O projeto faria muito bem para São José, mas a minha cor talvez não — disse o parlamentar.

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O Legislativo afirmou em nota que repudia qualquer manifestação racista e que defende a igualdade de raça.

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