A empolgação mais recente de Lucimara Cordeiro Schneider, de 46 anos, era com o mais novo integrante da família: o primeiro neto. Ela recebeu a notícia sobre a gravidez da filha, Hellen, na semana passada. Antes que pudesse vir a conhecer o bebê, no entanto, a avó acabou sendo vítima neste sábado (4) do que as autoridades suspeitam ser um caso de feminícidio em Porto União, no Planalto Norte catarinense.
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— Ia ser o primeiro netinho dela, que, infelizmente, não vai conhecer ela, e ela também não vai conhecer. Acho que essa é a minha maior dor no momento. Ela estava muito feliz. Falou que ia ficar do meu lado, que ia me dar todo o apoio, que eu não ia perder minha juventude, que poderia ir para a academia, estudar, sair, porque ela iria cuidar do netinho dela — diz Hellen, de 25 anos, ao AN.
As duas voltaram a morar juntas há cerca de um mês, quando a mãe rompeu o namoro com Valdinei Wenningkamp, de 38 anos, o suspeito de ter cometido o feminicídio contra Lucimara e que também morreu na ocasião. Os dois ainda seguiam, no entanto, em fase com idas e vindas, segundo Hellen.
A filha diz que o casal se conheceu há cerca de três anos, quando Valdinei ficou viúvo e já era pai de quatro filhos menores de idade. Hellen diz que a mãe, dona de casa, se apegou às crianças, o que dificultou o rompimento em definitivo com o namorado, que já fazia ameaças contra o término.
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— Eles ainda estavam com dificuldade de romper de vez o relacionamento, então acabavam saindo de vez em quando. E foi em uma dessas saídas, ontem [sexta à noite], que aconteceu o que aconteceu. Ele já ameaçava ela, não aceitava o fim do relacionamento. Mas as crianças eram muito apegadas a ela, por isso que ela mantinha contato também — afirma Hellen.
A filha diz que o pai, com quem a mãe foi casada durante 25 anos e ainda mantinha relação amistosa, também chegou a ser ameaçado, devido ao suposto receio de Valdinei de que pudessem reatar.
Como foi o crime
O corpo de Lucimara foi encontrado em um carro na rua Vereador Francisco Feijó, no bairro São Pedro, por volta das 4h da madrugada, após a PM ter sido acionada por um morador que ouviu um disparo.
A testemunha relatou ter visto a mulher inconsciente e suja de sangue no banco do motorista, enquanto Valdinei tentava conduzir o carro ainda no espaço do passageiro, quando bateu com o veículo no muro de uma casa. Ele tinha uma arma na mão, o que despertou a suspeita da PM de que o caso se trate de um feminicídio seguido de suicídio. O morador que viu tudo também acionou os bombeiros.
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Quando o socorro chegou, a mulher já estava morta com um tiro e o homem seguia com vida, apesar de ferido. Ele chegou a ser levado ao Hospital São Camilo, mas não resistiu.
O Instituto Geral de Perícias e a Polícia Civil também estiveram envolvidos no atendimento à ocorrência, indo ao local para coletar evidências para esclarecer o que ocorreu dentro do veículo.
Valdinei Wenningkamp tinha passagens policiais por abandono de incapaz e lesão corporal. À reportagem, a PM de Porto União informou que ele tinha registro da arma de fogo utilizada no crime. Nas redes sociais, o suspeito mantinha fotos e vídeos com armamento em mãos, exibindo animais que teria abatido durante uma caça e acertos a um alvo em visita a um clube de tiro.
Despedida
O velório do corpo de Lucimara Cordeiro Schneider ocorreu no sábado, na Capela Municipal de União da Vitória, município do Paraná que faz divisa com a catarinense Porto União — as duas formam uma mesma cidade para os moradores, separadas apenas por uma antiga linha férrea.
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Já o sepultamento ocorreu neste domingo (5), no Cemitério Municipal de União da Vitória, com a presença de receber muitas pessoas próximas da cidade, segundo a filha, Hellen.
— Ela sempre foi uma mulher de muita luz. Todo mundo adorava ela. Ela se importava com as pessoas, conversava com vizinhos, perguntava se precisavam de algo. Era presente na vida das pessoas — diz.
Além da filha, Lucimara deixou também um filho de 21 anos e três irmãos.
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