Barbra Amorim Lacerda, de 32 anos, já tinha saído de Joinville com a filha, de 3 anos, para fugir das ameaças e agressões do ex-companheiro, relata a mãe da vítima, Lucianira Amorim da Silva, 59. Barbra foi morta a tiros na última terça-feira (26), em frente a uma oficina mecânica em que era proprietária.
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Lucianira conta que a filha deixou a cidade em setembro deste ano após separar-se do marido e passou cerca de um mês na casa da mãe, que vive em São Francisco do Sul. No entanto, a mulher conta que ela não se adaptou à cidade e, somado aos problemas financeiros que sua empresa vinha enfrentando, resolveu retornar à Joinville.
– Uma semana depois que ela voltou, ele foi até a casa onde ela tinha alugado e tentou estrangulá-la. Ela foi socorrida por um vizinho, senão ele teria concluído [o assassinato] naquele dia. Ela chegou a sangrar pelo nariz – lembra Lucianira.
Após esta agressão, que ocorreu na noite de 16 de outubro, no dia seguinte, Barbra registrou um boletim de ocorrência contra o ex-companheiro e solicitou uma medida protetiva, que foi concedida pela Justiça na sexta-feira (22), quatro dias antes de ser assassinada.
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De acordo com o delegado Dirceu Silveira Júnior, titular da Delegacia de Homicídios, o ex-marido, de 42 anos, é o principal suspeito pelo crime e ainda não foi localizado. O delegado ainda confirmou que o homem já respondeu na Justiça por tentativa de homicídio. Lucianira conta que, quando Barbra conheceu o suspeito, há cerca de dez anos, ele ainda estava em liberdade assistida.
Mudança de comportamento
A pedagoga social lembra que o início da relação de Barbra com o ex-marido foi tranquilo, ambos tinham planos e demonstravam paixão e cuidado um pelo outro. Com o passar dos anos, o casal construiu uma oficina mecânica, inicialmente, um local pequeno e de poucos clientes.
À medida que o negócio se expandiu, o casal, à época, decidiu mudar-se para um local maior, foi quando alugaram o espaço na rua Grão Pará, no bairro Itaum, zona Sul da cidade.
– A partir de março [de 2021], as coisas começaram a ficar difíceis. Fomos notando diferença no comportamento dele, até no trato com os funcionários. A empresa perdeu muitos mecânicos bons por causa disso – conta a mãe da vítima.
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Por causa desta situação, Lucianira relata que a filha deixou a empresa aos cuidados do homem e decidiu abrir um salão de beleza. Foi quando, segundo a mãe, iniciaram as crises de ciúmes por parte do ex-marido. Ele passou a afastar-se da família e, segundo Lucianira, também não deixava Barbra visitar a mãe.

– Ele já tinha um pouco de ciúmes, mas ficou ainda pior, porque, com o salão, ela saiu da vista dele. Aí ele parou de trabalhar na oficina, todas as frotas de clientes que ela tinha conseguido foram saindo e a empresa ficou com uma grande dívida, porque ele só ia lá para tirar dinheiro – relata.
A partir de então, Barbra não teve mais sossego, conta a mãe. Ela vivia com medo e intimidada pelas atitudes do homem, que transformou os últimos meses de sua vida, nas palavras de Lucianira, “num inferno”.
– Neste tempo todo a relação já tinha se desgastado. Ela sofreu injúrias, ameaças. Ele ostentava uma arma, andava com ela visível na cinta, para intimidá-la. Ele começou a queimar e quebrar as coisas dela, inclusive uma televisão que eu tinha dado pra ela. As ameaças foram se intensificando nos últimos meses e eu a encorajei a deixá-lo – lembra a mulher.
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Filha viu a mãe machucada
Lucianira conta que Barbra era uma mulher responsável e dedicada. Seu espírito empreendedor a fez alçar voos altos e transformar a mecânica, até então sob seus encargos, em um local de potencial e com grande clientela.

Mas foi justamente esta responsabilidade que a fez deixar a casa da mãe em São Francisco do Sul, no início de outubro, e voltar para Joinville, mesmo contra a vontade da família. Ela queria resolver os problemas financeiros da empresa causados pelo ex-companheiro, afinal, as dívidas estavam em seu nome.
– A Barbra me surpreendia como pessoa, bastante responsával e dedicada, e também como mãe. Ela criou uma menininha muito inteligente, esperta. A menina aprendeu muito com ela e a amava demais – diz a mulher.
Assim que retornou a cidade, as ameaças continuaram e o ex-marido, inconformado com a separação, foi até a casa da vítima e tentou matá-la pela primeira vez. Mas, neste dia, ela foi salva por um vizinho.
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Lucianira conta que a filha do casal estava na casa no dia da agressão e, apesar de não ter visto o ato do pai, acordou com o barulho e viu a mãe machucada. Naquele dia, bastante assustada, a menina questionou a avó se Barbra ficaria bem.
– Assim que aconteceu eu já conversei com ela [com a neta], o quanto o papai tinha machucado a mamãe. Ela estava dormindo, mas assustou com o barulho e encontrou a mãe naquele estado lastimável. Desta vez, ela perguntou de novo: “ela vai ficar boa, vovó?”, eu tive que dizer que não. Quando o corpo chegou, eu precisei dizer a ela que seria a última vez que veria a mamãe. Foi um dos momentos mais difíceis, mas eu tenho me apegado à minha fé, é o meu sustentáculo. Sem ela, não estaria aqui – desabafa Lucianira
Medo e revolta
Lucianira conta que, depois que o homem conheceu Barbra e ela engravidou, que a família da jovem ficou sabendo que ele tinha dois filhos de outro casamento. Afastado da família, a mulher conta que nunca presenciou o homem sendo agressivo com a neta, mas hoje em dia teme pela vida das duas.
– O problema é que ele era agressivo com a Barbra na frente da filha. Eu tenho muito, muito medo. Estou com a filha dele. Como teve sentimento de posse com a mãe, pode ter com a filha. Estou buscando proteção, mas ele sabe onde estamos. Enquanto não tiver sido localizado e preso, estamos em risco aqui – teme a mulher.
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Apesar de a vida de sua filha ter sido tirada de forma tão precoce e violenta, Lucianira não cultiva sentimentos de raiva. Ela, que já havia perdido uma filha de 27 anos em um acidente de trânsito, diz que a morte em si não lhe revolta, mas o motivo pelo qual a vida de Barbra foi ceifada. Seu desejo é por justiça.
– Pela experiência que vivi com a minha filha, fiz o que estava ao meu alcance, mas esta é uma situação que saiu do controle. Então eu digo para as mulheres se amarem mais que amam aos homens covardes com quem vivem. Olhem para si mesmas e vejam o ser lindo e maravilhoso que são e que não merecem violência – finaliza a mãe.
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