Décio Lima quer surpreender. O primeiro candidato do PT a chegar a uma disputa de 2º turno para o governo de Santa Catarina tem um grande desafio na eleição deste domingo (30). Vencer o candidato bolsonarista no Estado que deu a quarta maior votação proporcional do país ao atual presidente no 1º turno da Eleições 2022 seria triunfar em um cenário de adversidade. Na trajetória do político, não seria a primeira vez.

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A primeira superação de Décio foi exigida ainda na infância. Vítima da poliomielite, não podia jogar bola ou ir à praia pela sequela da atrofia em uma das pernas e pelo preconceito. Precisou fazer 11 cirurgias para melhorar a condição de mobilidade. Carrega até hoje as marcas da doença e um inconformismo com as teses negacionistas que hoje fazem cair os índices de vacinação contra a pólio. Uma queixa expressada até mesmo nos debates da campanha eleitoral deste ano.

A infância foi vivida em Itajaí. A convivência com o pai, líder comunitário, o fez crescer em um ambiente onde a política estava sempre em pauta. Já na vida adulta, cursou Direito na Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e comandou diretórios acadêmicos. Em um discurso contra o aumento de mensalidades, chamou a atenção da então estudante de Enfermagem Ana Paula, hoje deputada federal eleita e companheira de Décio há 36 anos.

Outra influência foi o ex-deputado federal Luiz Cechinel, com quem Décio trabalhou. Os dois estão entre os primeiros filiados ao Partido dos Trabalhadores no Estado. Vem daí também a relação de proximidade com o ex-presidente Lula, fundador do PT nacional e presença frequente em eventos dos primeiros anos do partido em SC. Uma proximidade que aumentou depois de Décio abrigar na casa dele a filha do ex-presidente Lula, Lurian, durante uma temporada dela em SC.

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A provocação de Décio Lima a Jorginho Mello no último embate antes do resultado das urnas

Em 1982, Décio concorreu a deputado estadual pelo novo partido, mas não venceu. Tornou-se, então, advogado de sindicatos de trabalhadores. A habilidade em negociações salariais fez despertar novo convite para a política. O namoro com a vida pública foi retomado 10 anos depois, ao ser eleito vereador de Blumenau, em 1992.

Uma nova superação de Décio ocorreu na política. Candidato a prefeito de Blumenau na eleição seguinte, em 1996, Décio era coadjuvante em uma campanha pesada, que tinha como favoritos Dalírio Beber (PSDB) e Wilson Wan-Dall (PFL). No dia da votação, com os eleitores descontentes pelo tom da campanha entre os dois principais concorrentes, as urnas apontaram a vitória de Décio. Um resultado que mudou o rumo da carreira do petista.

— Foi uma surpresa para todos nós. Quando abriram as urnas e a imprensa toda estava na porta, ficamos meio assustados, porque uma cidade importante como Blumenau, sempre foi uma referência para o Brasil, uma marca importante… Éramos muito jovens, com tamanha responsabilidade — lembra a esposa Ana Paula Lima, que atribui o resultado ao fato de Décio ter feito uma campanha sem ataques aos adversários.

Décio Lima diz apostar em voto silencioso para virada contra bolsonarismo em SC

Décio se preparando para o debate da NSC TV
Décio se preparando para o debate da NSC TV (Foto: Tiago Ghizoni / DC)

As paixões de Décio

Passados o susto e as primeiras noites sem dormir após a vitória para a prefeitura, Décio governou a cidade e implantou projetos que eram marcas petistas, como o orçamento participativo e o banco do povo. Em 2000, foi reeleito, mas encerrou o segundo mandato sem conseguir fazer o sucessor. Após um período na superintendência do Porto de Itajaí, Décio voltou a se dedicar a um cargo legislativo. Foi eleito deputado federal em 2006 e permaneceu no cargo por três mandatos consecutivos, até 2018.

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O ex-prefeito e agora candidato ao governo do Estado é apenas uma face de Décio, que também é marido, pai de três filhos e avô de cinco netos. O fato de não fazer campanhas políticas atacando ou agredindo adversários, mesmo em um cenário de tensão como a disputa deste ano no país, é elogiado pela esposa. Nos debates e encontros políticos, conversa com os adversários em clima amistoso.

No decorrer da campanha, Décio repetiu ser o “candidato do amor” e “movido pela paixão”, citando o filósofo Spinoza. No dia a dia, uma das paixões é acordar cedo para pedalar. Quando está no Litoral, percorre “cada cantinho” e chega a ir de Balneário Camboriú a Barra Velha sobre as duas rodas. Também gosta de cozinhar para a família. Moqueca e receitas com peixes são especialidades da casa. Também gosta de recitar poesias que ele mesmo compõe ou deixá-las anotadas em papéis pela casa.

Em fotos, veja como foi o último debate entre Décio Lima e Jorginho Mello

Em busca de uma nova façanha

No período como deputado federal, Décio viveu a ascensão e a queda das gestões petistas em Brasília. Navegou na popularidade de Lula e Dilma nos anos de bons resultados econômicos e chegou a presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais cobiçada da Câmara dos Deputados. O colega da bancada e deputado federal reeleito, Pedro Uczai, define o candidato como um homem de sensibilidade e “profunda cultura geral”. Dos tempos de Legislativo, destaca a disposição do petista para o diálogo com forças políticas diferentes e para lutas como a ampliação dos institutos federais e a duplicação da BR-470.

— Ele tem na sua trajetória não um lugar ao lado, mas um protagonismo, com a prefeitura de Blumenau, uma das maiores cidades do Estado, e como deputado federal chegando a presidir a principal comissão da Câmara, disputada por todos — afirma Uczai.

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Décio também virou vidraça com o aumento do antipetismo. Perdeu a outra eleição que disputou para prefeito, em 2008, e viu a esposa perder outras duas disputas à prefeitura (2012 e 2020). Presidente do partido em SC, divide opiniões internas sobre a condução da legenda, em especial este ano, ao atrair nomes ligados ao centro, como Dário Berger e Gelson Merísio, para o projeto da esquerda.

Em 2018, com o ex-presidente Lula preso em Curitiba e o partido no centro da Lava-Jato, Décio foi candidato a governador pela primeira vez e terminou em 4º lugar. Na campanha, fez sempre a defesa de Lula e críticas à força-tarefa de Curitiba.

— Se perguntares se a gente sofreu com alguma derrota em 2018, quando passamos por um processo eleitoral, não sofremos, porque a gente sabe que esse é o processo. Mas choramos muito e ficamos muito entristecidos quando houve um golpe em nosso país (menção ao impeachment de Dilma Rousseff), e principalmente quando houve a prisão de Lula — relembra Ana Paula.

Em 2022, o candidato que superou a doença na infância, a rejeição ao partido e alcançou resultados improváveis, como a vitória inesperada em Blumenau e a inédita ida do PT ao segundo turno em SC, depara-se novamente com uma tarefa reconhecidamente difícil: derrotar o favoritismo de Jorginho na disputa pelo governo de SC. Pelo histórico de Décio, convém não duvidar.

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Perfil

  • Nome: Décio Nery de Lima
  • Idade: 62 anos
  • Profissão: Advogado
  • Cidade de nascimento: Itajaí
  • Estado civil: Casado