Mais de 50 viaturas da Polícia Militar e do Departamento Estadual de Administração Prisional (Deap), com apoio da cavalaria, ambulâncias e grupos de operações especiais, entraram nas galerias e pavilhões das duas unidades prisionais de Joinville na manhã desta quarta-feira.
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A Operação Integrada de Segurança Prisional (OISP) começou ainda de madrugada e teve o objetivo de retirar armas, drogas, celulares e separar facções criminosas dentro das unidades. A ação surpreendeu presos e familiares que chegavam ao local para mais um dia de visitas.
O clima ficou tenso. Houve um princípio de rebelião durante o início da operação policial. Os presos resistiram à abordagem em alguns pavilhões e os policiais jogaram bombas, ocuparam o telhado e os pontos mais altos dos muros do Presídio Regional.
Do lado de fora, cerca de 40 familiares, principalmente mães, esposas e irmãs de presos, se desesperavam a cada nova gritaria ou estrondo. Todos os 1,4 mil presos (cerca de 700 em cada uma das unidades) foram levados para os pátios externos enquanto os agentes realizavam as revistas estruturais e de busca nas celas e em todos os ambientes prisionais.
O diretor da Penitenciária Industrial de Joinville, João Renato Schiitter, se aproximou do grupo de familiares para explicar que não haveria visitas ou a entrada de qualquer material nas unidades ontem. Ele disse também que a operação tem o objetivo de evitar o que tem ocorrido em outros presídios do País, com um grande número de mortes em confrontos.
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– Queremos evitar o que tem acontecido pelo resto do País. É uma operação que tem caráter preventivo – disse Schiitter.
As facções criminosas que atuam em Joinville, segundo o diretor, foram separadas dentro das unidades. Representantes do Ministério Público de Santa Catarina, do Poder Judiciário e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) acompanharam a ação.
A Secretaria de Justiça e Cidadania informou que pelo menos 150 agentes prisionais atuaram na operação. Além disso, foram chamados policiais militares do 8º e do 17º batalhões de Joinville, policiais civis, bombeiros voluntários da região, cães farejadores das guardas municipais de Balneário Camboriú e de Florianópolis.
Durante todo o dia, ninguém além dos agentes da operação, pôde entrar nas duas unidades. E os presos do regime semiaberto não saíram para trabalhar. O integrante da Comissão de Assuntos Prisionais da OAB de Joinville, Olmar Costa, esteve no presídio e conversou com administradores durante a operação para acompanhar o trabalho do Deap.
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Balanço traz celulares e armas artesanais apreendidas
A Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania (SJC), por meio do Deap, informou que a operação realizada no Presídio Regional e na Penitenciária Industrial de Joinville foi concluída às 18h desta quarta-feira. Durante todo o dia, não houve incidentes graves registrados.
Membros do Ministério Público acompanharam a operação dentro das unidades prisionais. Representantes do Judiciário e da OAB também estiveram no local. Conforme a SJC, os procedimentos ocorreram sem a necessidade de intervenções de alta complexidade pelas equipes do Deap e da PM. Foram recolhidos celulares, carregadores, substâncias similares a maconha e armas brancas artesanais.
Segunda operação realizada pelo Deap em Joinville em quatro meses
Esta foi a segunda operação especial no sistema prisional de Joinville nos últimos quatro meses. No dia 4 de outubro, o Deap também coordenou uma ação que culminou com a apreensão de dezenas de objetos, incluindo telefones celulares, pequenas facas e espetos artesanais que poderiam ser usados como objetos perfurantes, além de uma quantidade não especificada de drogas.
À época, aproximadamente 200 presos foram remanejados internamente com o objetivo de evitar brigas entre grupos rivais. O secretário adjunto de Justiça e Cidadania, Leandro Soares Lima, que já foi o diretor do Deap, acompanhou toda a operação de Florianópolis.
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Desde o começo do ano, mais de 140 presos foram mortos dentro das prisões na guerra entre facções no País. A crise nos presídios tem alterado a rotina nas prisões do Sudeste, do Norte e do Nordeste. Em Santa Catarina, até agora, houve apenas um motim no Presídio Regional de Lages, no começo do ano. Em Joinville, por duas vezes nos últimos dias, a Polícia Militar foi acionada para participar de reuniões e encontros.
Juiz corregedor diz que ação ocorreu dentro da normalidade
O juiz corregedor do sistema prisional de Joinville, João Marcos Buch, considerou a ação desencadeada pelo Deap, ontem, nas unidades de Joinville, preventiva após os acontecimentos recentes em presídios do Norte e Nordeste do Brasil. Na avaliação do juiz, nenhuma unidade prisional do País, por mais segura que possa parecer, está imune a ataques e rebeliões organizados, na maioria das vezes, por facções criminosas.
Para Buch, a melhor solução para se evitar a violência ainda é com ações preventivas.
– Permaneci em contato direto com os diretores do presídio e da penitenciária o tempo todo e também estive lá (à tarde) para acompanhar a operação. Posso garantir que o procedimento ocorreu dentro da normalidade e nenhum preso ficou machucado ou ferido – disse o juiz.
Segundo ele, os familiares dos presos que estavam do lado de fora do presídio ficaram preocupados com a possibilidade de haver transferências de detentos para outras unidades do Estado. Buch descartou essa possibilidade, reforçando não haver motivos para se adotar tal procedimento, salvo algum caso especial.
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Questionado sobre o uso de bombas de efeito moral durante a vistoria – estrondos e gritos foram ouvidos pelas pessoas que estavam no local na parte da manhã -, o juiz disse ter tomado conhecimento e condenou o uso desse tipo de artefato.
– Não há motivos para usar bombas nesse tipo de ação. Isso não é normal. Conversei com as autoridades e soube que se tratou de um caso específico – explicou.
Familiares ficam preocupados do lado de fora
Cerca de 40 pessoas que chegaram para as visitas no Presídio Regional de Joinville e na Penitenciária Industrial de Joinville ontem tiveram que ficar do lado de fora, numa área distante cerca de 500 metros da entrada principal. A cada estrondo ou gritaria que ocorria na parte interna do presídio, o desespero tomava conta de mães, das esposas e das irmãs de presos que estavam no local.
– A gente não tem informação nenhuma. Dizem que é uma operação de rotina, mas se fosse só isso, não precisaria jogar bombas e dar os tiros que a gente está ouvindo – disse Aline Silva, uma das visitantes que viajou de Florianópolis para visitar dois familiares, um irmão e um cunhado, presos em Joinville.
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Por volta das 11 horas, após mais um estrondo, os familiares dos presos bloquearam o trânsito na rua Boehmerwald, cerca de 100 metros da rua que dá acesso às unidades prisionais de Joinville, por cerca de 20 minutos. Foi preciso a intervenção da Polícia Militar para liberar a passagem dos veículos.
Os familiares exigiam a presença de João Marcos Buch, juiz corregedor da Penitenciária Industrial e do Presídio Regional, que era informado de tudo no Fórum de Joinville e se deslocou até as unidades no começo da tarde para acompanhar a operação e conversar com os familiares.