Ele percorreu 10 mil quilômetros em 12 dias. Enfrentou ventos superiores a 55 km/h, tempestades, ondas gigantes e correntes contrárias. Em alto-mar, o veleiro Macif – vencedor da classe Ultime e primeiro da Regata Jacques Vabre a atracar em Itajaí – já parecia grande. Em terra, seu tamanho surpreende. Nesta semana, antes que o barco deixasse o litoral catarinense, O Sol Diário pôde fazer uma visita e conhecer os detalhes da rotina dos velejadores.

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Vê-lo de perto faz qualquer um se sentir pequeno. Ainda mais pisando em telas para se locomover pelos três casos do trimarã – imagine na água o quão emocionante isto pode ser. Com 30 metros de comprimento e 21 de largura, o barco Macif tem o mastro do tamanho do Cristo Redentor (35 metros). Esta é a primeira vez que veleiros tão grandes vêm ao Brasil.

A velocidade dele também é um prato cheio para quem adora adrenalina. Um dos mais rápidos barcos a vela do mundo, esse gigante de 102 pés já chegou a 42 nós – o que equivale a 77 km/h. Porém, pode ser ainda mais ágil, chegando a mais de 100 km/h.

Se por fora o barco é gigante, rápido e seguro, por dentro a situação muda. O compartimento interno é escuro e pequeno, geralmente acomoda comida, água e outros materiais da equipe. Embaixo há também saídas de emergência – janelas redondas para que os velejadores consigam escapar caso a embarcação capote.

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No casco central ficam ainda dois timões e o controle de velas. Ali os velejadores franceses François Gabart e Pascal Bidégorry se revezavam a maior parte do tempo. Durante a travessia entre a França e o Brasil, eles perderam o piloto automático e precisaram ficar no leme o tempo todo – tornando o trajeto ainda mais cansativo.

Atrás dos controles, fica a cabine. Essa parte reúne apenas uma cama, cozinha para esquentar a comida desidratada e dessalinizar água, kit de primeiros socorros e uma cadeira para o navegador. Tudo muito apertado e com conforto zero. Apesar disso e do pouco tempo de contato com o barco antes da regata, Pascal Bidégorry garante que a adaptação foi tranquila. O Macif foi lançado em meados do ano e a vinda para o Brasil foi sua primeira competição oficial.

As medidas do Macif:

ENTREVISTA | “O tamanho do barco dá uma segurança muito grande”

Pela sexta vez em uma disputa na Transat Jacques Vabre, o velejador Pascal Bidégorry foi o vencedor da classe Ultime da regata ao lado do parceiro François Gabart. O título se iguala ao desempenho do ano de 2005, quando o atleta foi o primeiro colocado na classe Multi60 com o Banque Populaire. Pascal já conhece bem Itajaí: em dois anos esteve três vezes na cidade. A última visita foi durante a Volvo Ocean Race, em abril, a bordo do Dongfeng Race Team. Confira a entrevista com o velejador:

O que mais gostou em Itajaí?

A cidade está em pleno desenvolvimento. É impressionante chegar na Praia Brava, ver as construções e o tamanho dos imóveis. Não tem prédios pequenos, são prédios enormes e em pouco tempo estará tudo pronto. Isso vai fortalecer o turismo local.

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Como foi o percurso da Jacques Vabre e as dificuldades?

O percurso da Jacques Vabre é muito rico e parecido com a primeira etapa da Volvo Ocean Race, em que temos a oportunidade de navegar pelo hemisfério Norte. Ali temos a saída do canal da Mancha, um ponto muito importante do trajeto. Logo depois pegamos uma mudança de vento muito brusca no Golfo de Biscaia e ainda teve a chegada aos Alísios (corrente de vento), onde o vento tem a tendência de se alterar. Também passamos pela região de Doldrums, onde não há vento. Depois passamos pelo anti-ciclone de Santa Helena e em Recife, na costa brasileira, voltamos a pegar um vento instável. Quando chegamos em Cabo Frio a temperatura também tende a cair por algumas horas e o vento muda completamente de sentido. Por último, tem a descida para Itajaí. Fizemos tudo isso em um barco como o Macif, que vai muito rápido. Então a mudança de vento e das condições meteorológicas o torna mais ágil que outro barco.

Como é velejar em um barco tão rápido?

O tamanho do barco dá uma segurança muito grande. Ele tem 35 metros de mastro. Na última edição da regata participei com um barco menor e o perigo era muito maior, porque é o mastro que dá segurança. Em nenhum momento nesta edição da Jacques Vabre eu e o François sentimos algum tipo de medo de que pudesse acontecer alguma coisa ruim, mas sei que os multi-cascos podem virar.

Como foi a rotina no barco durante a regata?

Não teve uma regra de ter duas ou três horas de descanso e depois mudar. Ficamos à vontade para poder descansar quando cada um quisesse. Próximo à chegada trabalhamos um pouco mais, mas pouco a pouco negociávamos quem iria descansar. Durante o trajeto acho que dormi quatro horas e meia ou cinco horas por dia.