No dia em que começa a ser decidido o título da Libertadores de 2012, zhEsportes convidou dois torcedores ilustres de Boca Juniors e Corinthians para falar sobre o sentimento de estar na final. Gustavo Grabia, editor do diário esportivo Olé, e Juca Kfouri, comentarista da ESPN Brasil, trazem a visão argentina e a visão corintiana do duelo desta quarta-feira na Bombonera, às 21h50min.

Continua depois da publicidade

GUSTAVO GRABIA, Editor do diário esportivo Olé, da Argentina

Dizem que a Bombonera não pulsa; treme. Pelo rugido, pelo fervor de seus torcedores que engrandece o time e apequena os rivais. Quando as 50 mil almas que ocupam as arquibancadas se põem a saltar e cantar, o formato do estádio faz o som retumbar por todos os lados _ é ensurdecedor. Há de se estar lá dentro para entender.

Hoje, mais do que nunca, os torcedores estarão empurrando o time para conquistar sua sétima Libertadores, para converter o Boca no maior campeão da História junto com o Independiente. Aqui na Argentina, já faz tempo, não se fala em outra coisa além dessa possível coroação. É um título tão esperado que pouco importou, 10 dias atrás, o Boca ter perdido a chance de vencer também o campeonato nacional. Porque todos, no Boca e ao redor do Boca, têm uma obsessão chamada Libertadores.

Há algo fundamental também para o bostero, como se chamam na Argentina os fiéis seguidores do Boca: ele crê que a partida se ganha nas arquibancadas, que sua respiração contribui para oprimir o adversário e agigantar os jogadores. Além disso, existe o mito de que o Boca é um time copeiro, que cresce quando enfrenta brasileiros. Já se consagrou três vezes no país vizinho _ na final de 2000, no Morumbi, derrotou nos pênaltis o Palmeiras; em 2003, no mesmo estádio, bateu o Santos por 3 a 1; em 2007, no Olímpico, fez 2 a 0 no Grêmio. Na Libertadores de 2012, eliminou o Fluminense no Rio. A situação de jogar a segunda partida no Brasil se repetirá nesta decisão diante do Corinthians.

Continua depois da publicidade

A noite de hoje será de festa. Os ingressos estão esgotados faz tempo, e se espera que o estádio esteja lotado uma hora antes do apito inicial. Nas ruas, vive-se um clima de euforia: ninguém supõe que o Corinthians possa ferir este Boca. Seus torcedores acreditam, sempre, que o clube é o maior de todos. E dizem que esta noite, custe o que custar, isso será provado.

JUCA KFOURI, Comentarista da ESPN Brasil

Para o corintiano que nasceu até meados dos anos 60, nunca haverá um título mais importante que o do Campeonato Paulista de 1977, depois de quase 23 anos de jejum.

E é duvidoso que São Paulo viva uma festa igual àquela, até mesmo se o Corinthians vier a ser decacampeão mundial de clubes.

Porque aquilo foi o fim de um período de humilhação, de provação, que poucas torcidas suportariam pelo mundo afora. E que precisava ser superado para dar à luz aos novos tempos, como um rito de passagem.

Continua depois da publicidade

Para os alvinegros nascidos de 1990 em diante, o título do primeiro Mundial de Clubes da FIFA tem um gosto maior, por motivos óbvios.

O título inédito da Libertadores não chega a tanto, a ponto de outro dia o libertador do jejum, Basílio, ter dito que quando o Corinthians disputou o torneio continental em 1977 os jogadores queriam se ver livres logo para dar dedicação exclusiva ao…estadual. Sim, porque não é verdade que o Corinthians esteja na fila da Libertadores desde 1960.

Ninguém ligava muito para ela em São Paulo até que, em 1991, não só o Boca Juniors eliminou o Corinthians como, ainda por cima, em 1992,o São Paulo a conquistou.

E depois que, em 1999, o Palmeiras também a levou, virou obrigação. Obrigação muito mais por exigência dos não corintianos do que dos próprios.

Continua depois da publicidade

E, é verdade, para os fiéis nascidos no século 21 esta será a maior conquista.

Mas não são poucos os corintianos, como eu, que a esperam, tão logo chegue ao Parque São Jorge, para poder quebrá-la em caquinhos e distribuir a todos os torcedores que cobravam que o Corinthians a vencesse. “Vocês não queriam, tomem, fiquem com ela”, diremos.

Porque Corinthians é Corinthians.