*Por Geneva Abdul
Manchester, Inglaterra – Quando um bloqueio nacional foi imposto em março, a entregadora de refeições Hanna Scaife viu suas horas semanais despencarem de 30 para cinco e depois para zero, porque os restaurantes em Teesside, no nordeste da Inglaterra, fecharam as portas.
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Os negócios não melhoraram muito desde então.
“Está sendo muito difícil”, disse Scaife, que trabalha há mais de um ano fazendo entregas em domicílio. Ela descreveu os últimos meses como um ato de equilíbrio: “Por quanto tempo posso confiar no meu cartão de crédito? E no meu cheque especial? O que posso fazer sem o pagamento dessa semana? Realmente preciso dessa quantidade de gasolina no meu carro?”
Em vez de esperar o negócio melhorar, Scaife, de 24 anos, está desistindo do trabalho de entregadora e tomando uma direção totalmente diferente: ela se matriculou em uma escola de arte cujas aulas começam em setembro, com planos de se transferir para a Universidade de Sunderland para estudar cerâmica e vidro.
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O colapso econômico causado pelo coronavírus colocou em xeque o futuro econômico de milhões de pessoas. Mais de nove milhões foram postas de licença no Reino Unido, ou 29 por cento da força de trabalho do país, e 2,8 milhões recorreram ao seguro-desemprego. Alguns campos, como hospitalidade ou entretenimento ao vivo, parecem especialmente incertos, deixando algumas pessoas com um dilema: esperar que a situação dos negócios e do emprego melhore ou deixar para trás um trabalho e uma carreira e tentar algo novo?

Para Scaife, a escolha acabou sendo simples à medida que o bloqueio foi passando. Sem sua renda semanal de cerca de 400 libras (US$ 500) do trabalho de entrega de refeições, ela conta agora com um novo emprego de meio período em um posto de gasolina perto de casa e as economias de sua mãe para honrar suas despesas mensais.
Ir para a escola de arte é algo que ela queria fazer havia anos, além de, talvez, abrir sua própria loja de cerâmica à beira-mar. Quando seu trabalho minguou, ela percebeu o pouco apoio que tinha no emprego de entrega de comida, e não está claro quão estável esse trabalho pode ser.
“Acho que a pandemia me trouxe essas questões à mente. Penso que é hora de mudar”, afirmou ela.
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Ela ainda precisará trabalhar durante meio período enquanto frequenta a escola, mas disse que procuraria um emprego melhor do que entregar comida. O Reino Unido tem um programa para apoiar trabalhadores autônomos com até 80 por cento de seus lucros mensais médios, mas, como entregadora de alimentos que inicialmente ganha pouco, ela só conseguiu receber 240 libras, que teriam de durar três meses. “Parece um tapa na cara”, lamentou ela.
‘Dividida’ entre a estabilidade e uma longa carreira

Nicola Block, de 35 anos, estudou teatro e trabalhou na indústria por dez anos, produzindo cenários e figurinos de Sydney a Londres. Quando o coronavírus chegou, ela estava trabalhando como designer de teatro em uma escola independente. Foi posta em licença e a escola garantiu seu salário integral até o fim do contrato, em junho.
Mas o futuro do teatro ao vivo está cercado de incertezas. Mesmo quando puder ser retomado, não se sabe quantas pessoas estarão dispostas a se arriscar comparecendo a uma apresentação em um local lotado do West End.
Block decidiu mudar de carreira. Em setembro, começará um contrato de 12 meses como assistente de ensino em uma escola primária no sudeste de Londres. A decisão não foi fácil. “Estou realmente dividida. É algo que me interessa e que quero fazer, o que é ótimo, mas, por outro lado, sinto que estou abandonando algo”, disse.
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Ela acredita que o ensino oferece muito mais segurança profissional do que o teatro. “Não haverá muito trabalho, portanto faz sentido capitalizar as habilidades que tenho.”
Menos dinheiro, mais felicidade

Angela Saunders, de 39 anos, está animada com o futuro. Na última década, ela montou um negócio de recrutamento para o setor de hospitalidade com seu marido em Scarborough, no nordeste da Inglaterra, encontrando trabalhadores para empregos em restaurantes e hotéis, incluindo o luxuoso Savoy em Londres.
Isso tudo terminou com o advento da pandemia. O negócio que já chegou a render nove mil libras por mês (cerca de US$ 11.500) despencou para zero. “Foi um pesadelo”, contou ela.
Mas a súbita interrupção de sua vida profissional teve um benefício inesperado. “Passei mais tempo em casa. Mudamos a maneira como vivemos, e me sinto muito mais feliz”, garantiu ela, que tem dois filhos, de sete e dez anos.
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Agora, contando com quase 1.500 libras em pagamentos de licença do governo todos os meses para ela e seu marido, o tempo em casa lhe deu a oportunidade de reconsiderar como se recuperar da pandemia.
Com toda a incerteza que cerca hotéis e restaurantes e com sua empresa provavelmente se mantendo fechada, Saunders e seu marido planejam começar a comprar e vender roupas vintage. É um empreendimento que tiveram anos atrás, trabalhando em feiras vintage e mercados locais em todo o país. Saunders já criou uma página no Facebook.
“Embora o recrutamento possa nos render muito dinheiro, dar um passo atrás me fez perceber, realmente, que prefiro ter uma quantidade apenas suficiente de dinheiro e mais felicidade.”
Buscando uma saída

Para muitos trabalhadores, a transição para posições mais seguras será difícil, porque estas vão exigir reciclagem e educação superior, e os trabalhadores terão de competir com uma enxurrada de outras pessoas desempregadas, disse Michael Koch, professor assistente de gestão de recursos humanos e comportamento organizacional da Universidade de Kent.
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“A economia dos bicos vai crescer como resultado da Covid”, afirmou ele, já que as empresas terão como objetivo empregar trabalhadores em contratos de curto prazo ou usar mão de obra mais casual para manter a flexibilidade, caso um bloqueio seja estabelecido novamente. O Reino Unido já tem 4,7 milhões de trabalhadores nesse tipo de emprego.
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