Adiantado para o serviço nesta segunda-feira, o designer digital Tássio Guichard desceu do metrô na estação Martin Place, em Sydney, e levou seis minutos para chegar de skate até o escritório onde trabalha. O relógio marcava 8h45min (horário local). Menos de uma hora depois, a 600 metros do prédio onde estava o porto-alegrense de 31 anos, um homem armado rendeu funcionários e frequentadores do Lindt Chocolat Cafe e estampou na vitrina uma bandeira preta com dizeres em árabe: “Não há outro Deus que Alá, Maomé é o mensageiro de Alá”. Era o início da ameaça de um ataque terrorista – e o fim do dia de trabalho de Tássio e de milhares de funcionários do centro financeiro da cidade australiana.

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Pela proximidade do edifício onde trabalha com o estabelecimento que virou cenário de um cárcere privado, o designer e os colegas foram orientados pela polícia a não deixar o local: ninguém entraria, ninguém sairia. A notícia rapidamente se espalhou pelo escritório, e informações saltavam de sites de notícias e redes sociais – nem todas verdadeiras. Apesar de rumores de que quatro bombas teria sido instaladas pela cidade – inclusive na Opera House, tradicional ponto turístico de Sydney – Tássio afirma que a calma predominou:

– Ficou difícil trabalhar. Estava claro que a polícia não queria ninguém em pânico, toda a instrução era de que ficássemos calmos – diz.

Tássio não pôde sair do prédio onde trabalha devido à proximidade com a cafeteria

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Foto: Arquivo pessoal

Localizado na Bridge Street, o local de trabalho do porto-alegrense que vive em Sidney há sete anos fica ao lado do prédio da Bolsa de Valores e cercado das maiores instituições financeiras do país – equivalente ao World Trade Center australiano, exemplifica Tássio.

– É tido como um lugar assegurado porque pode ser alvo de ação terrorista – aponta.

O designer – e todos que estavam nos edifícios ao redor – só foram liberados ao final do expediente, por volta das 18h no horário australiano, mesmo com o cárcere em andamento. Agora, ele vive a mesma incerteza do restante da população de Sidney: não se sabe se a terça-feira será de expediente normal ou de apreensão pela segurança dos cidadãos.

Estudante de Marketing na cidade australiana, Mariana Corbellini, 24 anos, já tem ideia de que a terça-feira não será como os demais. Moradora de um subúrbio do centro, separada por duas estações de metrô do ponto onde ocorre o ataque, a jovem recebeu um e-mail da instituição onde é aluna. As aulas de terça estão suspensas, avisa a mensagem. Trabalhando como assistente administrativa em um ponto afastado da área central, ela teve notícias do ataque por colegas.

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– Meu chefe entrou nas salas perguntando se tínhamos familiares ou amigos em Martin Place. Logo, comecei a receber mensagens de familiares perguntando se estava tudo bem – conta. – A cidade inteira estava em alerta porque circulava a informação que tinham bombas espalhadas. Chegou um ponto que não se sabia mais o que era verdade ou não.

Mariana mora próximo ao local do ataque

Foto: Arquivo pessoal

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Por grupos e comunidades no Facebook, brasileiros que moram na Austrália trocam informações sobre o fato. A aflição compartilhada diz respeito à escassez de novidades, já que as autoridades locais têm se limitado a boletins resumidos. O sequestrador teria exigido uma bandeira do Estado Islâmico (IE), mas a polícia não atribui a autoria do ataque ao grupo. Cinco reféns saíram do café, porém não foi informado se eles foram libertados ou se conseguiram fugir. Nem mesmo o número de pessoas mantidas sob cárcere é preciso – mas a presença de uma brasileira foi confirmada pela família. Fala-se entre 13 e 30 reféns.

Outra porto-alegrense afetada indiretamente pelo ataque, Fernanda Ruschel, 24 anos, estava na agência de turismo onde trabalha no momento que teve início o crime. A pouco mais de 650 metros de distância do Lindt Chocolat Cafe, a administradora de empresas foi orientada a retornar para casa. Fernanda encontrou uma amiga que fazia compras na região e, com pontes e estações de metrô fechadas, teve de voltar de ferryboat até a praia onde mora.

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– Quando saí, a cidade já estava vazia. Só via uma moto da polícia e táxis passando. Virou uma cidade fantasma – relata.

Fernanda Ruschel teve de deixar o serviço

Foto: Arquivo pessoal

Veja o local onde ocorre o cárcere:

Confira imagens do cárcere em Sydney:

* Zero Hora