Falando da vida e das paisagens ligadas ao mar, o catarinense Virgílio Várzea entrou para a história da literatura nacional como o escritor marinhista, que fez deste tema a identidade literária. Destacou-se ao escrever sobre as aventuras e desventuras de marujos, pescadores, litorâneos e também as belezas naturais de Florianópolis, das pessoas e costumes.
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O escritor viveu entre o final do século 19 e os anos 1940, período de intenso desenvolvimento urbano na Ilha de Santa Catarina, que impulsionou grandes mudanças na ocupação. A família morava em uma localidade distante do Centro, no extremo Norte da Ilha, na praia de Canasvieiras. Cresceu a bordo de embarcações, acompanhando o pai capitão da Marinha Adolescente, atravessou oceanos entre os portos das Américas e para lugares mais distantes como a África e a Ásia.
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“Mares e campos” (1895) e “Histórias rústicas” (1904) estão entre as principais obras dele e mostram essa familiaridade com o mar. Em poesias, contos, romances, crônicas e ensaios, retratou a vida sujeita a ventanias, tempestades, naufrágios e também a satisfação em obter o sustento da família. Naquela época do romantismo em decadência que transbordava emoções intensas e idealismo, representou a renovação literária por meio do Realismo-naturalismo, mais centrado na objetividade do mundo exterior e também na ciência.
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Participou do grupo literário “Ideia nova”, que se mobilizou com a chegada de Gama Rosa. Natural de Uruguaiana (RS), recém-formado em medicina no Rio de Janeiro, onde teve contato com as novidades culturais trazidas da Europa, o jovem foi designado para o cargo de presidente da Província de Santa Catarina. Quando mudou-se para Florianópolis, encontrou afinidades culturais nas rodas dos saraus que participavam Virgílio Várzea e Cruz e Souza.
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Os dois escritores catarinenses já eram amigos desde a adolescência, quando começaram a participar de grupos de teatro. Em 1885, em parceria, publicaram “Tropos e fantasias”. Ambos também colaboraram em jornais e revistas. Várzea ainda ganhou notoriedade como professor e em cargos políticos e governamentais, como deputado estadual, promotor público e secretário da Capitania dos Portos, entre outros. Alguns deles, sob a influência de Gama Rosa, o presidente da Província.
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Depois, deixou Florianópolis para fixar residência no Rio de Janeiro, onde viveu até os 78 anos, escrevendo livros e colaborando em jornais. Foi a literatura que o perpetuou na história por meio das obras e como um dos imortais da Academia Catarinense de Letras (ACL), desde a sua fundação em 1920.
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Além de se destacar por levar o mar para suas obras, Várzea preservou, nos escritos dele, mais do que a paisagem das belas praias de uma Florianópolis de 100 anos atrás. Ele mantém até hoje o frescor dos ambientes e das sensações de sua gente e seus costumes. Para conferir, uma recomendação é o livro “Santa Catarina: a ilha” (1900).
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*Texto de Gisele Kakuta Monteiro
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