É uma segunda-feira qualquer, e o barulho normal do dia (carros, buzinas, gritos de crianças) é interrompido pela dramaticidade de violinos, violoncelos, violas e contrabaixos. O som alto vem de uma casa na rua Joe Collaço, área majoritariamente residencial de Florianópolis, mas que abriga um ou outro comércio. Quem produz a melodia é um grupo heterogêneo de músicos. Alguns são mais velhos e outros parecem ter idade para serem filhos destes. Mas quem chama a atenção é uma violinista de cabelos grisalhos abrigados em um corte moderno e roupas e acessórios coloridos. Iva Nunes Giracca, 45 anos, é uma gaúcha de Santa Maria que há 20 anos se apaixonou por Florianópolis e resolveu que aqui seria seu lar.
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A casa de onde parte a melodia é na verdade o “QG” da Camerata de Florianópolis. O grupo foi fundado em 1994 pelo maestro Jeferson Della Rocca. A história de Iva com os músicos da Capital — chamados carinhosamente de atletas dos pequenos músculos — começou com um show e, logo depois, veio para Florianópolis para trabalhar.
— Naturalmente é muito fácil se encantar por essa cidade, que é maravilhosa — diz Iva.
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No ensaio de segunda, Iva sentou bem próxima ao maestro Della Rocca. Só tirava os olhos das partituras espelhadas em um tablet quando ele interrompia a música para fazer uma observação ou contar uma história. Vestia uma calça roxa que contrastava com o magenta da case de seu violino. Estava atenta. Atenção é uma característica que a música deixa transparecer naturalmente.
Iva percebeu quando o grupo de violinistas não conseguiu entrar na música no compasso certo. A gaúcha também se apressou para falar sobre as roupas que os colegas deveriam usar na gravação de um clipe (só tecidos que não fossem barulhentos) e também repetiu baixinho as datas dos próximos eventos ditos em voz alta pelo maestro, mas que ela já tinha decorado.
A violinista experiente dispensa o pronome de senhora nas conversas informais e usa um dueto gravado com o marido Roger Corrêa como cartão de visitas de seu canal no YouTube. Ela no violino e ele no acordeon. A dupla já está junta há três anos.
Eles vivem na Agronômica, bairro que acolheu a violinista há duas décadas e segue sendo seu lar em Florianópolis. A cidade de Iva é ali, mas é também o Centro Integrado de Cultura (CIC) — para onde geralmente se desloca de bicicleta elétrica, muitas vezes de vestido de gala e sapato de salto alto —, um canto da ponta do Sambaqui próximos às pedras e árvores e o Espaço Cultural Wagner Segura, no Santa Mônica.
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Esse último representa para Iva muito do que a cidade é: um local de efervescência cultural tão ativo e cheio de representantes como Barcelona e Nova York. A casa transformada em espaço cultural há um ano recebe cantores, professores de desenho, de artesanato e músicos como a violinista.
— É um lugar onde você conhece pessoas interessantes e interessadas — comenta Iva.
Tocar ali é parte de uma agenda atribulada da música que com certeza não tem rotina definida. O domingo, dia de descanso para a maioria, para ela é muitas vezes de trabalho. Tem mala pronta para viagem e pelo menos oito opções de roupas para eventos mais formais ou menos.
Diz não saber se trocaria a música por outra coisa. Mas ama o que faz.
Mais de 53 mil gaúchos vivem em Florianópolis
Ela faz parte dos 53 mil gaúchos que moravam em Florianópolis quando os recenseadores do Instituto Brasileiiro de Geografia e Estatística (IBGE) bateram às portas dos moradores de Florianópolis atrás de informações para compor o Censo de 2010.
Apesar de já ter prévias do Censo de 2023, o IBGE ainda não diferenciou os dados de quantas pessoas de foram moram aqui atualmente. O que já foi divulgado é que a população cresceu. Conforme dados divulgados até março, são 574.200 mil com DDD 48.
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Segundo o dado da Florianópolis de 12 anos atrás, a população de 421.240 habitantes era formada em sua maioria por catarinenses (293.262) e depois por quem veio de outros estados para cá. Gaúchos (53.476), paranaenses (22.363), paulistas (19.624), cariocas (7.988) e estrangeiros (4.622).
De lá para cá a cidade cresceu e a estimativa do IBGE é que vivam aqui agora 574.200 mil pessoas moram aqui. Entre elas, a música
Floripa 350 anos
A história de Iva faz parte do projeto Floripa 350 anos, que celebra o aniversário da cidade. De março até dezembro serão contadas histórias sobre a cidade para celebrar a cultura, história e também sobre como Florianópolis cresceu ao longo dos anos.
Veja o vídeo sobre o aniversário de Florianópolis
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