A estudante Magridt Besen, 25 anos, tem todos os dias um destino certo, além da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde estuda Letras: algum semáforo bastante movimentado de Florianópolis. Acompanhada de seu violino, ela tem exatos 60 segundos para mostrar aos motoristas parados a sua arte e, como recompensa, embolsar uns trocados. Entre as músicas clássicas que compõem o vasto repertório de Magridt, ela destaca o ritmo irlandês:
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– Essa aqui é minha música da sorte, que faz parte do folclore da Irlanda – diz sorridente, enquanto toca para a reportagem do Hora de Santa Catarina na manhã desta sexta-feira, 3, no semáforo em frente ao Shopping Iguatemi, no bairro Santa Mônica.
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A despeito da vontade do pai da jovem manezinha da Ilha, que queria que a filha fosse pianista, Magridt sentiu-se confortável quando encaixou confortavelmente o violino entre o rosto e o ombro pela primeira vez, aos 11 anos, após vender o piano e comprar seu novo instrumento preferido.
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Desde então, a paixão pela música clássica só aumentou. Tanto que há quase um ano, depois de tocar em orquestras sinfônicas de comunidades, na Orquestra de Câmara da UFSC, na Orquestra Sinfônica de Florianópolis, Santa Catarina e do Instituto Federal de Santa Catarina, ela dedica-se exclusivamente aos acordes musicais.
Por vezes, Magridt encontra concorrência.
– Mas é uma disputa amigável. Todos querem espalhar cultura. Ei, Aruanã, não vai roubar meus carros – brinca a violinista para o companheiro do dia, o estudante Aruanã Silveira dos Santos, 26 anos, que distribui poemas de autoria própria, de amigos e de autores clássicos, como Charles Baudelaire.
Independentemente de darem dinheiro aos artistas de rua, todos se impressionam com os acordes clássicos da violinista. Alguns deixam de olhar para o celular para contemplá-la, outros viram o pescoço conforme ela vai caminhando pelo asfalto e há quem, finalmente, aplauda.
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Menina canta e encanta quem passa pelo Centro de Florianópolis
Acesso à cultura
Magridt parece gostar da composição musical que resulta do ruído de violino, carros e buzinas. Ela acredita estar auxiliando a difusão da música clássica pelas ruas da cidade.
– Gosto de estar aqui. É diferente de quando você se apresenta em um teatro, por exemplo, onde as pessoas pagaram por aquilo e tem expectativas. Na rua, eu gosto de surpreendê-las – explica a estudante.
Ela também orgulha-se de contribuir com a propagação da cultura, principalmente para pessoas que, geralmente, não estão habituadas à música clássica.
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– É justamente esse público que eu quero alcançar. Porque não adianta você ficar criticando que não tem cultura, e não fazer nada a respeito. Então é uma maneira de se manifestar – arremata a artista, cujo nome inclusive pode ser visto como uma homenagem ao pintor belga surrealista, Renné Magritte.

Público parece gostar da música erudita na rua. Foto: Betina Humeres