No momento em que a Bolívia se envolve em polêmicas internacionais sobre energia elétrica com a Espanha, outro mal-estar diplomático tem se intensificado silenciosamente na fronteira com o Brasil, divisa entre o Acre e o departamento boliviano de Pando.

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Cerca de 380 famílias brasileiras, em sua maioria de coletores de castanha e seringueiros, vivem na franja de 50 quilômetros que se estende da fronteira para o interior da Bolívia – o que é proibido para estrangeiros.

O secretário de Justiça do Acre, Nilson Mourão, concorda em tese com a Bolívia, que tenta preservar uma área estratégica como costumam fazer todos os países – no caso do Brasil, a faixa é de 150 km (o triplo). Discorda, porém, da prática boliviana e reforça o tom para acusar uma “intolerância com o Brasil”, sustentada pelo temor “equivocado” de um suposto imperialismo brasileiro.

– Foi feita uma operação militar extemporânea, sem comunicar nosso governo. Usaram de violência contra os brasileiros, tacaram fogo em casas e animais. Entraram em território brasileiro armados, violando o direito internacional. Disseram para as pessoas que devem deixar o local até 25 de maio, o que não é verdade. Elas serão removidas até 31 de dezembro, conforme acordo celebrado – reclama.

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Já houve 525 famílias brasileiras na fronteira – 150 foram realojadas para o interior da Bolívia (onde um projeto de reassentamento conta com ajuda de US$ 10 milhões do Brasil) e para a cidade acreana de Capixaba. Um terreno em Plácido de Castro está sendo comprado. Nos dois municípios, serão abrigadas 200 famílias.

As autoridades brasileiras demonstram boa vontade para resolver o impasse até o final do ano.

– É questão de soberania. É justo – reforça Henrique Corinto, presidente do Instituto Socioeducativo do Acre.

Quanto aos métodos, discorda, fazendo coro com o secretário Mourão:

– Houve excessos.

O ministro conselheiro da embaixada do Brasil na Bolívia, Eduardo Sabóia, foi a Capixaba, conversou com brasileiros, viu fotografias, formulou um relatório e o enviou às autoridades bolivianas. O Exército despachou 35 soldados para a fronteira. Junto, um pedido aos bolivianos: investiguem o caso.

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Como reforço, o secretário-geral de Relações Exteriores do Brasil, Ruy Nogueira, telefonou para o vice-chanceler boliviano, Juan Alurralde. Disse estar preocupado. Reiterou: o Brasil exige uma apuração. E uma satisfação.