O prefeito de Tubarão, Joares Ponticelli (PP), e o vice Caio Tokarski (União) negaram em depoimento ter recebido pagamentos de pessoas ligadas à empresa Serrana Engenharia. Os dois estão presos preventivamente pela Operação Mensageiro desde fevereiro deste ano. De acordo com o Ministério Público, eles seriam suspeitos de receberem uma “mesada” de R$ 30 mil da empresa por ao menos 15 vezes em troca de vantagens no contrato de destinação de lixo na cidade.

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Em depoimento que a reportagem da NSC teve acesso, Joares e Caio, além de negarem o recebimento de propina e conversas com representantes da empresa, também comentaram sobre suposto encontro de um gerente da prefeitura de Tubarão com o “mensageiro” e responderam perguntas sobre o termo “vinhote”, que aparece em trocas de mensagens.

As afirmações em que Joares e Caio negam ter recebido valores e também afirmam não terem se encontrado com representantes da empresa ocorreram em depoimentos a que a reportagem da NSC teve acesso.

Questionado diretamente em depoimento se teria recebido algum dinheiro da Serrana ou de pessoas que se referiam ao nome da empresa, o prefeito de Tubarão negou:

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— Nunca recebi qualquer dinheiro.

Joares também afirmou, no depoimento, que não acredita em direcionamento da licitação para que a Serrana fosse favorecida.

— Tenho plena convicção, pela briga que foi a licitação, como eu disse, pelo aquilo que o Tribunal de Contas e Tribunal de Justiça colocaram de olhar em cima, eu não tenho dúvida que o processo foi feito com toda a lisura e transparência — afirmou.

Vice-prefeito nega ter recebido “mesada”

Já o vice-prefeito Caio Tokarski admitiu ter se encontrado com um representante da Serrana antes das eleições municipais de 2016, quando foram eleitos para o primeiro mandato, mas disse que o assunto tratou de uma possível oferta de doação legal da empresa para a campanha eleitoral, e negou ter recebido qualquer valor.

— O prefeito que estava na frente não era muito bom e ele estava vendo a dificuldade, porque a gente estava em terceiro, e ele perguntou como poderia ajudar. Eu falei: “O senhor pode fazer uma doação oficial”. (Ele disse:) “Mas quanto” e tal? (Respondi): “Ah, senhor, daí eu não sei quanto, como que eu vou quantificar, o dinheiro seu” — afirmou.

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Depois disso, o representante da empresa que teria dificuldade caso fizesse a doação porque candidatos de outros municípios também passariam a pedir, e ficou de pensar. Segundo Caio, o empresário acabou não fazendo nenhum pagamento a ele.

Suposto encontro de gerente com “mensageiro” em posto

O prefeito Joares também respondeu perguntas sobre um encontro registrado pelos investigadores entre Darlan Mendes da Silva, ex-gerente de gestão municipal, e o “mensageiro” — a pessoa contratada pela empresa para entregar valores de propinas a agentes públicos. As imagens obtidas pelo MP mostram que eles ficaram poucos segundos com os carros lado a lado, em um posto de combustíveis em Tubarão, à noite. O Ministério Público afirma que seria para entrega de propina.

— Eu sei que ele reconheceu que houve esse encontro para passar uma avaliação que ele teria feito sobre uma licitação que a Serrana estava participando em outro município e que ele teria sido consultado para dar uma opinião sobre edital, não sei se era um questionamento, uma impugnação. Acho que foi nesse sentido, que ele teria feito uma avaliação disso a pedido da Serrana — afirmou.

O prefeito também negou qualquer encontro em que teria sido informado por algum representante da Serrana em que o suposto pagamento de propina seria suspenso pela desconfiança de que a empresa estivesse sendo investigada. A suposta reunião foi narrada em depoimento do dono da empresa Serrana.
Joares afirma que encontrou com o dono da empresa apenas uma vez, na prefeitura.

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— Acho que chegando [na prefeitura], passei para cumprimentar lá apenas, não tive nenhum assunto para tratar com ele — afirmou em depoimento.

Perguntas sobre o termo “vinhote”

Joares e Caio também foram questionados no depoimento sobre o termo “vinhote”, que teria sido usado em trocas de mensagens pelo celular com o ex-gerente Darlan. Em uma das frases enviadas ao vice-prefeito, ele teria dito “Tenho um vinhote pra te entregar” e “falei com ele ontem”.

Termo “vinhote”, usado em conversas de servidor investigado com prefeto e vice, foi alvo de perguntas no depoimento (Foto: reprodução)

Joares negou saber o que seria o termo “vinhote”, mas afirmou que era presenteado com vinhos por secretários nos finais de ano e próximo a seu aniversário.

Caio também respondeu sobre as mensagens relacionadas ao termo “vinhote”.

— Fatalmente ele deve ter me entregado algum tipo de bebida alcoólica, era pontual isso — pontuou.

Ele também negou saber o que seria o termo “vinhote”.

No fim do depoimento, o prefeito Joares faz um desabafo em que afirma estar vendo “escoar pelo ralo” a sua história política de 27 anos e pediu celeridade e direito a ampla defesa aos investigadores.

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— Que isso possa andar rápido para a gente poder restabelecer a minha e a dignidade dos que me cercam — afirmou.

Contrapontos

A defesa do prefeito de Tubarão, Joares Ponticelli, afirmou à reportagem da NSC que por ora não vai se manifestar.

Em nota, a defesa do vice-prefeito Caio Tokarski afirmou que ele “nega veementemente os fatos que lhes são atribuídos na denúncia”. Também afirma que “colaboração premiada não é prova, mas meio de obtenção de prova”, e que vai demonstrar a inocência de Caio na instrução processual.

A defesa de Darlan Mendes da Silva, ex-gerente de gestão da prefeitura de Tubarão, informou também por nota que “ratifica sua inocência e informa que todas as manifestações serão feitas exclusivamente nos autos dos processos judiciais”.

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A Serrana Engenharia, agora chamada de Versa Engenharia, informou que todos os esclarecimentos e manifestações vão ser realizados exclusivamente nos respectivos processos da Operação Mensageiro.

A Operação Mensageiro

A Operação Mensageiro apura um suposto esquema de pagamento de propina a agentes públicos em troca de vantagens em contratos de coleta de lixo em cidades de SC. No total, 16 prefeitos já foram presos preventivamente. O Ministério Público afirma que o esquema pode ser “o maior escândalo de corrupção da história de SC” e diz que a movimentação de propinas pode ter chegado a R$ 100 milhões.

* Com informações da NSC TV

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