A Identificação Geográfica (IG) é um reconhecimento concedido a produtos que são característicos do local de origem e se distinguem em relação aos similares disponíveis no mercado. Esse certificado vitalício foi concedido a produtos como o champagne, espumante produzido exclusivamente em uma região da França, e o vinho do Porto, de Portugal.
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No Brasil, o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) é a instituição que concede o registro legal de IG, sob duas formas: a Indicação de Procedência e a Denominação de Origem.
A Indicação de Procedência indica a origem do item, com base na reputação da região que, em geral, é famosa por produzir tal produto de acordo com suas tradições locais. É o caso dos chocolates artesanais da região de Gramado (RS), que recentemente receberam o registro.
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Já a Denominação de Origem é concedida quando as características do produto têm influência essencial ou exclusiva da região em que ele foi produzido, tanto por fatores naturais quanto humanos.
Santa Catarina tem sete produtos que receberam o reconhecimento de Identificação Geográfica com Denominação de Origem.
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Com um clima variável e solo fértil, Santa Catarina tem sete produtos únicos, que só são produzidos aqui, e receberam o reconhecimento de Identificação Geográfica com Denominação de Origem. São eles:
1) Vinho dos Vales da Uva Goethe

Há mais de 120 anos, imigrantes italianos produziram as primeiras garrafas de vinho da Uva Goethe em Santa Catarina. A bebida, fruto de tradições antigas, precisou ser adaptada às condições do Brasil, e ganhou identidade própria. A bebida tem sabor cítrico e frutado, com aromas de frutas brancas, como abacaxi, pêssego, umbu e cupuaçu.
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Em 2011, o vinho produzido nos vales dos rios Urussanga e Tubarão, no Sul do Estado, recebeu a primeira Identificação Geográfica de Santa Catarina. O território Vales da Uva Goethe compreende os municípios de Urussanga, Pedras Grandes, Cocal do Sul, Morro da Fumaça, Treze de Maio, Orleans, Nova Veneza e Içara.
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Os fatores climáticos e geográficos do local, somados às características culturais dos imigrantes vindos do norte da Itália, onde os vinhos brancos aromáticos são tradicionais, tornaram a bebida única. A tradição de produção do vinho Goethe é passada dentro das famílias da região, que produzem até 40 toneladas da uva por hectare.
A certificação de Identidade Geográfica incentivou o turismo nos municípios produtores que recebem visitantes interessados em conhecer os vinhedos e provar a bebida artesanal exclusiva desta região. O município de Pedras Grandes, inclusive, criou a Festa Nacional do Vinho Goethe, que ocorre anualmente, para divulgar ainda mais a região.
2) Banana Corupá

Por muito tempo a banana produzida na região de Corupá, no Norte do Estado, era desprezada pela aparência menos atrativa. Em 2018, a fruta produzida em agricultura familiar nas cidades de Corupá, Jaraguá do Sul, Schroeder e São Bento do Sul recebeu o registro de Identificação Geográfica e foi reconhecida como a banana mais doce do Brasil.
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– Foram 14 anos de projeto, para a gente conseguir diferenciar a nossa produção do restante da produção de bananas do Brasil. Esse é o primeiro título de bananas do país – declara Eliane Müller, diretora da Associação dos Bananicultores de Corupá (ASBANCO).
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A banana é uma fruta tropical, precisa de uma temperatura de 28 °C para ser produzida com excelência. No entanto, a região de Corupá está no subtrópico, as temperaturas variam de -3 °C até 42 °C. Segundo Eliane, isso faz com que a aparência dela não fique tão atrativa.
– No inverno, acontece um fenômeno na casca da fruta chamado “Schilling”. Quando a temperatura atinge 10 °C, os ventos frios fazem com que a seiva interna na casca da banana extravase. Quando essa banana é maturada, ela fica com cor amarela pálida. É uma cor que, aos olhos dos consumidores, não é atrativa – explica a especialista.
Ao mesmo tempo, o inverno acaba segurando a fruta no pé por mais tempo: de três a quatro meses. Quanto mais tempo no pé, maior o acúmulo de amido na fruta, que é convertido em açúcar. Resultado: ela fica mais doce.
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Além de ser comercializada em Santa Catarina, cerca de 15% da produção é exportada. A fruta é vendida principalmente para Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e, em menor escala, para outros estados brasileiros. Também é exportada para Uruguai e Argentina.
3) Queijo Artesanal Serrano

O Queijo Artesanal Serrano tem quase 300 anos de história e reúne características únicas e o “saber-fazer” que atravessou o Oceano Atlântico com os portugueses e foi passado entre gerações. O produto é totalmente artesanal, feito por cerca de 1,5 mil famílias catarinenses. A região produtora abrange 18 municípios de Santa Catarina e 16 do Rio Grande do Sul, segundo dados da Epagri.
Em Santa Catarina, o queijo é produzido nos municípios de Anita Garibaldi, Bocaina do Sul, Bom Jardim da Serra, Bom Retiro, Campo Belo do Sul, Capão Alto, Cerro Negro, Correia Pinto, Lages, Otacílio Costa, Painel, Palmeira, Ponte Alta, Rio Rufino, São Joaquim, São José do Cerrito, Urubici e Urupema.
Em 2020, o Queijo Artesanal Serrano conquistou o reconhecimento de Identificação Geográfica (IG).
– Para queijo, foi a primeira no Brasil em denominação de origem. E isso representa um maior estudo na comprovação de que esse produto está diretamente ligado ao meio em que ele é produzido. Significa que mesmo com a mesma receita, com o mesmo leite, com a mesma estrutura que tem aqui, se fizer em outra região ele não vai sair o mesmo queijo – explica a extensionista rural da Epagri, Andréia Meira Batista.
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Com sabor acentuado, o produto é feito com leite de vacas de raças de corte ou mista alimentadas basicamente com pastagens nativas e tem maior percentual de gordura. A produção ocorre em propriedades que se dedicam à pecuária de corte, com métodos tradicionais, mão de obra familiar e reduzido padrão tecnológico. O tempo de maturação varia – quanto maior for o período, mais forte é o sabor final.
Anualmente, mais de 1,6 mil toneladas do queijo são comercializadas, com faturamento bruto de cerca de R$ 21 milhões. Como é um produto artesanal, apenas uma pequena parcela da produção é exportada para outros estados, principalmente Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e o Distrito Federal.
4) Vinhos de Altitude

O clima frio de regiões com altitude entre 900 e 1.400 metros sobre o nível do mar faz muito bem à saúde dos vinhedos e à qualidade das uvas. O resultado são vinhos nobres, com aroma marcante e acidez equilibrada, que costumam agradar o paladar dos enólogos.
Em Santa Catarina, 41 propriedades, espalhadas por 32 municípios, têm altitude superior a 900 metros, onde são produzidas diversas variedades de uvas, que resultam na elaboração anual de um milhão de garrafas de vinho.
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O cultivo de parreiras viníferas e elaboração de vinhos de altitude na região começou em 1999, após pesquisas da Epagri mostrarem que vinhas europeias se adaptaram à região de São Joaquim e permitiram a produção de bons vinhos experimentais. Depois, dezenas de empresas de SC decidiram entrar no setor de vitivinicultura para diversificar atividades, aproveitando o frio da Serra Catarinense.
Após oito anos de trabalho na organização de informações sobre solo, altitude, clima, tipos de uvas e modo de cultivo, em 2021, os vinhos de altitude de Santa Catarina conquistaram o reconhecimento de IG.
Hoje, são mais de 300 hectares cultivados nos municípios de Rancho Queimado, Anitápolis, Alfredo Wagner, Bom Retiro, Urubici, Bom Jardim da Serra, São Joaquim, Urupema, Painel, Lages, Capão Alto, Campo Belo do Sul, São José do Cerrito, Vargem, Brunópolis, Campos Novos, Curitibanos, Frei Rogério, Monte Carlo, Tangará, Fraiburgo, Pinheiro Preto, Videira, Rio das Antas, Iomerê, Arroio Trinta, Santo Veloso, Treze Tílias, Macieira, Caçador, Vargem Bonita e Água Doce.
5) Mel de Melato de Bracatinga

O mel de melato é mais um produto único de Santa Catarina que recebeu reconhecimento de Identificação Geográfica em 2021. O produto é fabricado pelas abelhas a partir do líquido açucarado que insetos sugadores (cochonilhas) produzem ao se alimentarem da seiva da planta bracatinga. Esse fenômeno só acontece em lugares com mais de 700 metros de altitude.
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A região delimitada pelos pesquisadores da Epagri para essa IG compreende 111 municípios, no Planalto Sul e no Planalto Norte de Santa Catarina, que representam 45% da área do Estado.
Segundo a Federação das Associações de Apicultores de Santa Catarina (Faasc), são 1.350 apicultores (1.108 em SC, 66 no PR, e 26 no RS), com aproximadamente 120 mil colmeias rastreadas, cadastradas, que produzem aproximadamente 500 toneladas do mel de melato de bracatinga por safra, que ocorre a cada dois anos.
O mel de melato é escuro, levemente menos adocicado que o de origem floral e possui maior quantidade de minerais, além de propriedades medicinais. O produto está conquistando cada vez mais o mercado brasileiro. Segundo a Epagri, cerca de 95% da produção desse mel é exportada.
6) Maçã Fuji da Região de São Joaquim

Em 2021, Santa Catarina obteve a sexta indicação geográfica, a partir do reconhecimento da maçã produzida na Serra de Santa Catarina com a denominação: Maçã Fuji da Região de São Joaquim. Os municípios de Bom Jardim da Serra, Painel, Urubici e Urupema também estão na área delimitada pelos pesquisadores da Epagri para receber este selo.
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A pesquisadora Mariuccia Schlichting explica que existem três principais polos produtores de maçã no Brasil: em São Joaquim, na Serra catarinense; Fraiburgo, no Meio-Oeste de SC, e em Vacaria (RS). Nessas regiões as variedades predominantes são a Gala e a Fuji, mas em proporções diferentes. Em São Joaquim e nas cidades próximas, há um predomínio da Fuji.
Como o frio favorece a fisiologia da planta, as frutas precisam crescer num ambiente com, no mínimo, 700 horas de frio abaixo de 7 °C.
– A maçã de São Joaquim se destaca tanto no aspecto visual, como também no sabor. Normalmente nas regiões mais frias ela desenvolve mais pingo de mel, um distúrbio fisiológico que torna a fruta mais doce. Geralmente ela tem a coloração mais vermelha, é maior e tem formato mais arredondado. Ela também apresenta menor percentual de frutos deformados e achatados em relação às demais regiões produtoras – explica a pesquisadora.
A Maçã fuji da Região de São Joaquim é reconhecida internacionalmente e vendida para mais de 100 países. Em 2021, foram exportadas quase 74 mil toneladas da fruta, totalizando em quase 100 mil dólares de arrecadação. Os maiores compradores foram Bangladesh, Índia e Rússia.
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7) Erva-mate do Planalto Norte

A mais recente Identificação Geográfica (IG) de Santa Catarina foi concedida à erva-mate do Planalto Norte do Estado, em maio de 2022. A planta é cultivada historicamente em meio à floresta de araucária, de forma harmônica, sem desmatamento. A erva-mate tem um maior nível de doçura e menor amargor que as similares do mercado.
Gilberto Neppel, engenheiro-agrônomo extensionista da gerência regional da Epagri em Canoinhas e gestor do projeto de certificação da erva-mate do Planalto Norte, explica que este sombreamento tem papel fundamental durante o inverno, formando uma barreira contra as perdas de radiação e os ventos, por exemplo, o que contribui para a conservação de calor no solo e no ar, mantendo assim a umidade necessária para a planta.
A IG abrange os municípios de Bela Vista do Toldo, Canoinhas, Irineópolis, Mafra, Major Vieira, Matos Costa, Monte Castelo, Papanduva, Porto União, Rio Negrinho, Timbó Grande, Três Barras e parcialmente os municípios de Caçador, Calmon, Campo Alegre, Itaiópolis, Lebon Régis, Santa Cecília, Santa Terezinha e São Bento do Sul.
Conforme a Epagri, o Planalto Norte catarinense produz em média 100 mil toneladas de erva-mate a cada ano, a metade do total catarinense. Do total, 80% são produzidos no sistema tradicional, sob a sombra da mata. O restante vem de lavouras de monocultura, que não receberam o selo da IG.
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A qualidade da erva-mate é reconhecida internacionalmente. Cerca de 70% da produção de erva-mate da região é exportada, principalmente para Uruguai, Chile, Argentina e Paraguai, segundo a Epagri. Alguns países da Europa também compram o produto para consumo na forma de chá.
Como a região tem uma produção muito acima do que é consumido, o produto ainda chega ao interior de Santa Catarina, ao Rio Grande do Sul e ao Paraná.