Gaspar pode parecer pequena, principalmente para quem não conhece todo o seu território, que é maior que os de Brusque, Itajaí, ou Criciúma, por exemplo. Talvez porque, quem passa por ela, mensure-a pela quantidade de suas ruas centrais, que não são muitas mesmo. Mas uma cidade não pode ser medida por isso.

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Gaspar é grande nas cascatas e nos parques aquáticos em que se banham centenas de turistas todos os anos. É grande no seu interior dourado pelas arrozeiras, sob a luz de janeiro, tal qual nas cores de nossa bandeira; além do verde da mata atlântica exuberante, que permeia toda a nossa região, e do azul limpo do céu no outono.

Pensando melhor, a bandeira de Gaspar poderia ser de todas as cores, quando se adentra a matriz de São Pedro Apóstolo e os vitrais se acendem, colorindo de fé e arte a alma, quando o céu se abre em pontos multicores nos dias de campeonato de parapente no Morro da Cruz, ou ainda na grande mistura étnica que hoje ladeia nossa cidade.

Ah, mas se for assim, teríamos que dar espaço especial na bandeira de Gaspar aos imigrantes alemães e italianos que chegaram aqui já faz mais de século e preservaram a produção da cana de açúcar iniciada nos latifúndios portugueses. Em terrenos menores, desbravados em mata fechada, suas mãos hábeis fizeram nossa economia crescer, com a produção de arroz.

Gaspar tem cultura vasta, valoriza a sua música, seja de bandas e fanfarras, seja do canto majestoso do coral Santa Cecília a ecoar do alto da escadaria da matriz. Vozes que, quando luminescem, até mesmo os gaturamos e macucos silenciam para escutar. Mas quando penso em transcrever Gaspar, seria numa canção, que dissesse que o que há de essencial aqui é algo impalpável, e está contido no fato: quem por aqui passa, acha que é somente passagem, mas quem fica, não quer mais ir embora.

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A razão deve ser o calor, de uma cidade viva e crescente, forte e hospitaleira, cidade onde tem sempre rosca de polvilho e cuca no café da tarde. Onde todos se conhecem pelo apelido e não pelo nome de batismo. Dar-lhe-ei outro nome então, batizo Gaspar de Vindoura, pois renasce cada dia mais iluminada e bela, pungente e lustra, e desabotoadamente grande, como já é para todos nós, gasparenses.

* Karine Alves Ribeiro, 31 anos, é vice-presidente da Sociedade Escritores de Gaspar e membro do Grupo Literário A Ilha (Florianópolis). Nasceu em Caçador, desde 1985 mora em Blumenau e trabalha em Gaspar.

Cidade Menina

Minha Cidade menina,

Tão nova e tão vivida

É mãe solteira

Mas nunca deixou nada faltar.

Do seu peito escorre um rio

Hidratando sua terra

Florescendo esperanças

Para seu povo alimentar.

No seu coração uma igreja

Ao alto de um morro

Para não perder de vista

Quem quiser sua fé renovar.

Nossa mãe é cuidadosa

Mas deixa corrermos livre

Por suas cachoeiras

E outras belezas sem par.

Seus filhos bem criados

Talvez um dia daqui sairão

Mas jamais se esquecerão

Da nossa cidade Gaspar.

** Edson Simon, 43 anos, é escritor, contador e presidente da Sociedade Escritores de Gaspar (SEG).