Nilandres Lodi, que perdeu a esposa e teve as pernas amputadas após o casal e um amigo serem atropelados na madrugada de ano novo nos Ingleses, esteve frente à frente com o motorista do Camaro, Jeferson Bueno, na tarde desta sexta-feira no Fórum Central de Florianópolis. A defesa do condutor levou um perito particular à audiência, que informou ao juiz Marcelo Volpato que o veículo estava a 45 km/h no momento do acidente. O sentimento da vítima, ao sair de cadeira de rodas da Vara do Júri, foi de indignação.
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— Ele pagou um perito particular para vir aqui falar um monte de mentiras sem fundamento. Querer dizer que estava a 45 km/h, acho que você dirige um carro, então 45 km/h o choque fazer tudo que fez? Olha a besteira que o cara vem falar. Aí não tem dinheiro para pagar indenização, mas para andar de Camaro, pagar fiança e contratar perito tem — disse ao lado do filho de 6 anos.
Nilandres descreveu como uma “sensação horrível” estar ao lado do condutor do Camaro ouvindo a versão da defesa. Ele contestou ainda a alegação de que Bueno não conhecia os Ingleses, “sendo que a gente viu ele desde de tarde acelerando aquele carro pela cidade”.
Jeferson Bueno ficou cinco meses foragido após o acidente, teve mandado de prisão decretado e, mesmo sem se apresentar à polícia, obteve um habeas corpus. A liberdade foi concedida com a condição de que ele comparecesse em todos os atos de Marcelo Volpato. Os próximos passos do processo agora são as alegações finais. Provavelmente em outubro, o juiz dará a sentença em primeiro grau se pronuncia o réu pelos crimes e se vai levar ele ou não a júri popular.
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Advogados tentam blindar motorista
Depois que Nilandres deixou o prédio da Justiça, os advogados de Jeferson Bueno, Ademir Campana e seu filho Romulo Campana, conversaram com a imprensa, mas tentaram blindar o cliente. Ademir informou que Bueno havia deixado o Fórum pela saída dos presos que são levado pelo Deap. No entanto, o motorista não poderia deixar o prédio por este acesso e saiu pela porta principal, quase vinte minutos depois dos seus advogados e não conversou os jornalistas.
— Nós queremos evitar essa exposição até em respeito às vítimas. Eu sei que o fato é grave, teve perda de pessoas, meu cliente também está abalado e ele é tão vítima quanto as pessoas que estão procurando Justiça. E não é malabarismo da defesa — declarara Ademir Campana minutos antes.
A defesa de Bueno segue sustentando que a culpa do acidente foi do motorista do Audi, um segundo veículo envolvido. Campana também argumentou que a falta de sinalização foi crucial para a colisão, mas que o seu cliente estava entre “45 e 50 km/h”:
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— Eu vejo que o lado oficial não apontou com exatidão. Isso será discutido nas diligências do MP e da defesa.
Campana garante que o seu cliente não será condenado:
— A defesa tem convicção que não vai para o tribunal. Não houve homicídio. Quem deu causa para esse acidente foi o condutor do Audi, inclusive nós ajuizamos uma ação cível contra o motorista do Audi lá no Rio Grande do Sul.
Campana também disse que o seu cliente procurou Nilandres, e que a vítima não quis conversar. Sobre o auxilio para o tratamento, o advogado afirmou entender que pelo fato de Bueno não ser culpado, não há por que indenizar a vítima.
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Vídeo: Jeferson Bueno deixa Fórum sem falar com a imprensa
Motorista do Camaro que atropelou três nos Ingleses sai sem falar com a imprensa após depor no @tjscnoticias pic.twitter.com/NRgHHaCuXo
— Marcus Bruno (@OMarcusBruno) 22 de setembro de 2017
Tratamento para as próteses vai começar
Nilandres, que voltou com os filhos para Passo Fundo (RS) após o acidente, vai retornar a Florianópolis para começar, na semana que vem, o tratamento de colocação das próteses. O dinheiro para o processo, quase R$ 50 mil, veio através de uma vaquinha entre amigos.
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— Eu estou sobrevivendo hoje graças a ajuda dos parentes e de amigos.
Inclusive neste sábado será realizado um evento beneficente no norte da Ilha promovido por motoclubes de diversos locais do Brasil. Além de ter as pernas amputadas, Nilandres perdeu parte do movimento dos braços e terá de fazer uma cirurgia para corrigir a visão de um olho.
O acidente
Bueno atropelou Cristiane Flores, 31 anos, que morreu no local, o esposo dela, Nilandres Lodi, 36 anos, que teve as duas pernas amputadas, e Gean Mattos, 22 anos. O motorista conduzia um Camaro com placas de Sapiranga. Por volta das 3h, o carro invadiu a calçada em frente à loja RMS Auto Som, na rodovia Armando Cali Bulos. Nilandres era proprietário do estabelecimento e retornava com a esposa para a casa da família, que fica nos fundos do local. Lá, familiares e os filhos, uma menina de 13 anos e um menino de 5, os aguardavam.
Antes de atingir as três pessoas, o Camaro bateu em um Audi – que era conduzido por Robson de Jesus Cordeiro e está em nome de Valdir Luiz Vieira – e numa Hilux. Nilandre e Cristiane eram de Passo Fundo (RS) e estavam juntos há 8 anos, três deles morando em Florianópolis. Bueno fugiu do local do acidente.
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Vídeo: Nilandres diz que defesa contratou um perito para dizer mentiras
Nilandres Lodi, que perdeu a esposa e teve as pernas amputadas após acidente do Camaro nos Ingleses: contrataram um perito p/ dizer mentiras pic.twitter.com/LJkiP1JCba
— Marcus Bruno (@OMarcusBruno) 22 de setembro de 2017