A batalha contra a balança foi vencida anos atrás, quando deixou os 160kg para o limite de 120 da categoria peso-pesado. A luta sobrepôs os algoritmos na vida de Giácomo Lemos, o Viking do Campeche, que trocou o trabalho de analista de sistemas, com terno e gravata, para dar socos e chutes sem camisa, calçando luvas, pelo mundo.

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Nesta segunda-feira em Seul, na Coreia do Sul, ele colocará em jogo o cinturão do Angel’s Fighting Championship (AFC), título que conquistou em fevereiro deste ano, contra o local Jun Soo Lim, 36 anos, e com um cartel de 12 vitórias e 11 derrotas. Giácomo, aos 29, tem apenas cinco lutas profissionais, ganhou todas – as últimas quatro por nocaute.

O 1,90 metro de altura assusta, mas a voz calma faz parecer que você não está diante de um viking. O apelido, por sinal, veio em um dos primeiros eventos, quando venceu um boxeador experiente por nocaute. O apresentador do evento disse que Giácomo tinha a genética fora do comum. De tanto que gostou do apelido, acabou adotando uma dieta ao estilo dos nórdicos.

– Para treinar a minha mandíbula eu adoro comer carnes gordurosas e comer os ossos. Eu tenho o hábito que nem os vikings, de comer os ossos em grande quantidade. A minha dieta é baseada nisso aí – conta o atleta da equipe Rangel Farias.

A onda viking tem ajudado também na carreira, ainda recente. O AFC, por exemplo, usa a imagem de Giácomo para promover o evento.

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– É bom porque é preciso vender um personagem pra luta, e o público quer ver isso. Eles não querem o Giácomo, eles querem um negócio diferente. É difícil você ver um cara em um evento de MMA um lutador com o meu porte físico, com essa barba, o olho mais claro – explica

Chute pesado em treino com o mestre Rangel Farias
Chute pesado em treino com o mestre Rangel Farias (Foto: Leo Munhoz/Diário Catarinense)

Mudança de cargo

Até janeiro, quando conquistou o cinturão na Coreia do Sul, frustrando o ídolo local, a vida era corrida entre o computador e os treinos. Uma rotina dura, acordando cedo e indo dormir tarde. O esporte, no entanto, sempre esteve presente na vida do atleta.

– Eu era bem nerd. Fiquei oito anos trabalhando atrás do computador, comecei como técnico de informática. Eu jogava muito e gostava, me sentia bem naquele ambiente porque era envergonhado, não conseguia falar com as pessoas na rua. Acabei indo para a área de análise de sistema, fiz curso e tranquei no TCC por causa da luta, mas já passei em todas as matérias. O meu trabalho foi um aplicativo: Floripa Qualidade de Vida, que fala só de dieta, treino, está no Youtube e ajuda as pessoas a terem hábitos saudáveis. Atualmente trabalho só com ele, mas sempre fui um cara de escritório. Pra tirar aquele estresse eu comecei no muay thai com o Rangel Farias. O trabalho de TI é muito estressante e senti necessidade de dar soco, chute para aliviar.

Compete desde antes de nascer

Giácomo luta desde antes de nascer. Como? Explico: o pai, Fernando Machado de Lemos, foi técnico da seleção brasileira de Judô, e a mãe, Rosimeri Salvador, foi medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis, em 1987. Ela, por sinal, foi 23 vezes campeã brasileira da modalidade. Para poder se sustentar, acabou faturando o primeiro lugar em um evento, em 1988, com o então pequeno Giácomo já dentro do ventre.

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– Minha mãe é faixa preta de judô, e de todas da família foi a maior competidora. Ela vivia do judô e já vi ela competindo na necessidade. Numa dessas ela lutou grávida de mim, tinha dois meses de gestação. Ela foi campeã brasileira comigo na barriga (risos) porque precisava do dinheiro – fala.

Treinar é uma atividade que Giácomo faz com prazer
Treinar é uma atividade que Giácomo faz com prazer (Foto: Léo Munhoz/Diário Catarinense)

Viajar é um sacrifício

A viagem até Seul começou na quarta-feira, com previsão de chegada apenas hoje – sem falar no fuso horário diferente. Giácomo, no entanto, não fez uma viagem tranquila. Por conta do tamanho das pernas, ele não cabe nas poltronas das aeronaves. O que fazer então?

– Eu fico sentado apenas na decolagem, depois levanto e fico 30 minutos no banheiro com a perna esticada. Depois fico uma hora em pé, e assim volto ao banheiro. Não tem como eu ficar sentado, é um sofrimento – diz o lutador, que assim diminui a retenção de líquido e evita problemas musculares.

Terno e computador já não fazem mais parte do dia a dia como antes
Terno e computador já não fazem mais parte do dia a dia como antes (Foto: Leo Munhoz/Diário Catarinense)

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