A noite do último domingo foi um dia atípico na vida do vigia Mario Petry, 66 anos. Funcionário de uma padaria no bairro João Costa, zona Sul de Joinville, ele foi surpreendido ao encontrar R$ 7.350 enrolados em uma meia, em frente ao estabelecimento. Assim que encontrou o valor, por volta das 21h20, o senhor sabia o que tinha que fazer: localizar o dono da quantia.
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Neste domingo, como de costume, ele cuidava do movimento em frente à panificadora e percebeu que havia um pano rosa enrolado próximo a rua. O vigia achou que alguém tivesse deixado lixo no chão, situação corriqueira no lugar. Ao se aproximar, percebeu que não era lixo.
– Eu achei que fosse uma sujeira ou resto de alguma comida. Às vezes as pessoas derrubam coisas por aqui. Mas, eu me aproximei e percebi que não era lixo. Era uma meia e tinha algo a mais – conta.
Mario não estava errado. Brincalhão, ele conta que viu “duas onças pularem” da peça – em referência as notas de R$ 50 reais no maço. Após desenrolar a meia, confirmou que dentro dele havia uma grande quantia em dinheiro. Sem saber o que fazer no momento, ele colocou as notas no bolso e levou pra casa. Apenas no dia seguinte resolveu dividir com a esposa o acontecido.
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– Eu queria descobrir quem era o dono para poder devolver, mas não podia falar para ninguém. O risco de entregar para a pessoa errada era grande. Eu guardei o dinheiro em casa, e esperei alguém aparecer na padaria procurando a quantia.
O trajeto
A cabeleireira Dalva de Jesus, 44 anos, carregou suas economias na bolsa durante todo o domingo em um esconderijo temporário, uma meia longa feminina. No dia, ela foi à igreja com a família, parou em uma padaria e retornou para casa. Ela só se deu conta que havia perdido todo o seu dinheiro na segunda-feira de manhã, quando precisou comprar gás para cozinhar. A cabeleireira não conseguiu conter o desespero no momento e acreditou que nunca mais recuperaria a quantia.
– Eu só vi no dia seguinte e, a partir disso, eu não prestei mais. Só chorei o dia inteiro. Não tinha ânimo pra fazer nada, imagina perder essa quantia e não ter dinheiro para pagar as contas – lamenta.
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Dalva jamais imaginaria que, mesmo em tempos difíceis, um senhor devolveria todo o valor perdido. Assim que conseguiu deixar o desespero de lado, na terça-feira, ela saiu à caça do dinheiro desaparecido. Repetiu todo o trajeto que havia feito no final de semana. Foi à igreja, perguntou para as pessoas próximas, passou pelas mesmas ruas, mas não obteve sucesso. Quando estava quase perdendo a esperança, parou no último lugar em que esteve no domingo: a panificadora onde Mario trabalha.
– Eu fui duas vezes à padaria. Na primeira vez falei com o dono, mas ele não sabia do dinheiro. Na quarta-feira fui novamente e falei com o Mario. Ele me deu esperanças de que talvez alguém tivesse achado. Porém, antes de me contar a verdade, ele fez todo um interrogatório – brinca.
De vigia a detetive
Mario guardou o segredo do tesouro muito bem. Apenas a esposa e os filhos sabiam do fato. A maior preocupação dele era que a notícia caísse no ouvido de muitas pessoas e, a partir disso, aparecesse “vários donos” para o dinheiro. O objetivo de Mario era devolver o valor o mais rápido possível e, claro, para a pessoa certa. Agindo com empatia, o idoso se imaginou no lugar do dono e o quanto essa quantia poderia fazer a diferença.
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– Eu sempre digo aos meus três filhos: se você achar algo, significa que alguém perdeu e deve estar desesperado procurando. Pode ser apenas uma caneta, mas tudo tem um dono – completa.
Quando a cabeleireira apareceu na porta da padaria em busca do montante, Mario elaborou um plano de investigação para confirmar se ela era a dona. A encheu de perguntas, e não revelou que ele mesmo havia localizado a meia rosa em frente à padaria. Para tirar as dúvidas que restavam, o senhor teve uma ideia: solicitou à Dalva o outro par da peça.
– Fui fazendo perguntas, indaguei sobre a cor da meia, onde e a que horas tinha acontecido o fato. Quando ela me entregou o outro pé, eu revelei que tinha encontrado o valor. Ela segurou em meus braços e desabou em choro – conta.
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Para demonstrar reconhecimento pela honestidade do vigia, Dalva ofereceu a ele uma recompensa. Mario, além de grato, orgulha-se de ter ajudado na busca. Ele mora há quase 30 anos na região e já conhecia a cabeleireira e o salão em que ela trabalha.
Jamais imaginou que algum dia poderia vivenciar uma situação como essa. Sentado no sofá ao lado da cabeleireira, o senhor estampa no rosto a convicção de dever cumprido.
– A minha maior alegria foi encontrar a pessoa responsável pelo dinheiro. Fiquei muito contente em poder ajudar.
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