Caro Napoleão,

Neste mês de dezembro, quando muitas crianças investem seu tempo e suas esperanças escrevendo cartinhas a Papai Noel, eu, há muito abandonado pela infância, prefiro escrever diretamente a ti.

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Obviamente não espero que possas resolver todos os problemas da cidade. Afinal, não acredito em heróis, assim como creio descrer a maior parte das nossas crianças da figura do velhinho. Porém, é preciso que façamos justiça. Noel nunca promete nada além das balas. Já tu, Napoleão, prometeste muitas coisas, e agora a população reivindica o mínimo que se pode esperar do seu prefeito: que transforme promessas em realizações.

Apesar deste espírito natalino que ronda Blumenau, nós sabemos, o ano termina com um travo amargo na boca. Por todos os cantos da cidade, há pais preocupados com a educação dos seus filhos. Não esperam presentes. Políticos não são pagos para distribuir presentes, mas para garantir direitos e ampliar a sensação de bem-estar coletivo. E é, entretanto, a sensação do retrocesso, da perda de direitos, que acomete o povo quando anuncias que a partir do próximo ano o tempo de permanência diária das crianças em nossas creches será reduzido.

Claro, costumamos sempre responsabilizar quem está longe por nossos erros e falta de planejamento. Porém, Napoleão, antes de te elegeres prefeito, fizeste parte da base que sustentou teu antecessor. Este antecessor cuja administração, como vereador, tinhas a obrigação de fiscalizar. Algo, contudo, saiu errado. Outro dia soubemos do Tapete Negro, e o escândalo virou manchete nacional. Esta semana, a notícia de uma possível fraude na licitação do transporte escolar. 17 milhões! Como escreveu o amigo Giovanne Ramos, a impressão é a de que sobre o asfalto do tapete negro rodam ônibus contratados por uma licitação fraudada. Quantas vagas em creches seriam possíveis com este dinheiro?

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Talvez, se toda energia dispensada para tentar convencer a população da necessidade de uma ponte em meio ao caos, tivesses depositado em questões mais fundamentais, como a educação, a saúde e a economia criativa, agora não estaríamos sentindo este travo amargo na boca. Da tua ponte, Napoleão, restaram tapumes e cinzas. A máquina pública que administras continua inchada, nossos servidores desrespeitados, e os remédios ainda não são entregues em casa. Quando, afinal, começa a nova gestão?

Hoje somos a cidade sem passaporte e sem vagas nas creches. Somos aquela carcaça que já foi barco, mas que agora apodrece naquele local que já foi Prainha, sob as cinzas daquilo que já foi mirante.

Napoleão, hoje, somos a cidade daquilo que já foi.