Parece que há uma nova estação no ar – o “El Niño“, o céu sempre carrancudo, a chuva de lestada como regra. Paisagem melancólica, de vidraças escorridas, brumas e umidade.

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Falta um sol mais constante a essa atmosfera gris que veste a Ilha com um sinistro robe de chambre, um véu que só serve para encobrir suas belezas.

O gosto de viver só prospera debaixo do sol. Olhem os povos que vivem sob o perpétuo carnegão de nuvens estacionado sobre a Inglaterra, a Bélgica, os países “de la Mancha” – até Lyon, na França, no sisudo Hemisfério Norte. Uma permanente cortina de nuvens separa a alegria – a joie de vivre – da couraça nublada desses soturnos reinos da atmosfera “cinza”.

A (im)previsão do tempo promete a volta desse “animador cultural”, o Sol, apenas por algumas horas do dia. Tomara. Pretendo esperar o sol ali no Largo da Alfândega, centro histórico de Floripa, para um caloroso abraço.

Sinto falta não só do antigo sol de Floripa, mas do cheiro de maresia e do som das ondas, marulhando as bordas das canoas ancoradas no Mercado, descarregando peixe.

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Onde estão as ostras que se grudavam às escadas do Miramar e que escalavam as amuradas do Mercado Público? Onde estão os “carrinhos de cavalo”, que margeavam a Praça Fernando Machado, ali, no sopé da Praça XV, ao som do relinchar dos cavalos brancos (e baios) de Napoleão, puxando as “carruagens” de nossa infância? Onde estão os trapiches da orla – o da Alfândega, o da Rita Maria e o dos Estaleiros Arataca? E a Ilha do Carvão, nossa pequena “Alcatraz”?

Olhar a feição da cidade e descobri-la desfigurada, vítima da cruel cirurgia do “progresso”, é um grande choque.

Quero de volta a Floripa espelhada sobre as águas mansas da baía, do tempo em que o sol não se escondia, com medo do tal de El Niño. Os moleques matavam aula nos dias ensolarados, só para exercitar o “triplo twist esticado” – aqueles lançamentos de pedrinhas que ricocheteavam na lâmina d?água, tantas vezes quantas fosse a destreza do lançador – o que requeria um tanto de balística e outro tanto de algum imponderável “jeitinho”.

Só não pode faltar sol. Havendo sol, haverá felicidade.

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