Imagens da guerra civil síria e informações que surgem diariamente sobre novas atrocidades agravam o quadro de horror no conflagrado país governado pelo ditador Bashar al-Assad.

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Um vídeo divulgado ontem pelo Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) mostra jihadistas executando aliados do regime. A ONG, com sede em Londres, não informou detalhes sobre as execuções.

Os homens mortos pela Frente Al-Nusra, uma organização que jura lealdade à Al-Qaeda, “são favoráveis ao regime de Al-Assad, mas não sabemos se são soldados”, afirmou o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.

O vídeo mostra um homem encapuzado que lê um texto, e nove com os olhos vendados, ajoelhados diante dele.

– De acordo com a sharia (lei islâmica), o tribunal da Frente Al-Nusra condenou à morte estes soldados apóstatas, que cometeram massacres contra nosso povo na Síria – afirma o jihadista no vídeo.

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Em seguida, ele pega o revólver e mata os prisioneiros um a um.

ESL promete “castigo severo” a rebeldes

Em outro episódio, na quarta-feira, o Exército Sírio Livre, um dos principais grupos rebeldes, prometeu “castigar com severidade” as atrocidades cometidas por seus homens, em meio à comoção mundial gerada por um vídeo que mostra um suposto chefe rebelde arrancando o coração e o fígado do cadáver de um soldado do regime de Al-Assad. “Qualquer ato contrário aos valores pelos quais o povo sírio pagou com seu sangue e perdeu seus lares não será tolerado, o culpado de abusos será castigado com severidade, mesmo que seja um membro do ESL”, indicou em comunicado.

Vídeos que mostram atrocidades no país são uma constante desde o início do conflito. O regime e os rebeldes, que se enfrentam em um conflito que já deixou 94 mil mortos desde março de 2011, acusam-se mutuamente de crimes de guerra e contra a humanidade.

Enquanto a selvageria síria se mostra cada vez mais intensa, Israel alertou Al-Assad de que pode realizar novos ataques em seu território para conter a suposta transferência de armas pelo regime para o grupo radical Hezbollah.

Ontem, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o premier da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, prometeram pressionar Al-Assad, embora tenham advertido que não há uma solução fácil para o conflito sírio.

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– Não há fórmulas mágicas para resolver situações extraordinariamente violentas e difíceis como a da Síria. Se as tivesse, creio que o primeiro-ministro e eu já as teríamos colocado em prática e a crise teria chegado ao fim – ressaltou Obama, demonstrando preocupação, em entrevista coletiva ao lado do premier turco.

Texto pede transição política rápida

A preocupação da comunidade internacional com a crescente violência na Síria é generalizada. A Assembleia-Geral das Nações Unidas aprovou, na quarta-feira, sua quinta resolução contra o regime sírio. Desta vez, o texto pede “rápida” transição política no

país e condena novamente as violações aos direitos humanos cometidas pelos dois lados. O texto, preparado por

países do Golfo Pérsico, teve 107 votos a favor, 12 contra e 59 abstenções (este último número, bem maior do que em outras votações). A resolução é uma condenação política a Bashar al-Assad.

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O Brasil foi um dos que se abstiveram – decisão inédita na Assembleia-Geral desde o início do conflito, em 2011. O governo brasileiro já havia optado pela abstenção quando fazia parte do Conselho de Segurança, em outubro de 2012, mas na Assembleia apoiou as outras quatro condenações ao regime. Ao explicar o voto, o Brasil disse ser “injustificável” não ter sido incluída no texto uma conclamação explícita para que não haja escalada militar do conflito.

– Não cabe à Assembleia-Geral, mesmo que indiretamente, conferir legitimidade ou decidir quem será o representante da oposição síria, e muito menos do povo – disse a embaixadora do país na ONU, Maria Luiza Viotti.

Diplomatas brasileiros disseram que o país se preocupa com uma possível intervenção externa na Síria e com a continuidade no fornecimento de armas aos dois lados.