Zero Hora teve acesso à gravação em vídeo do depoimento que desvendou a morte de Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, ocorrida em 4 de abril, em Frederico Westphalen.

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Na noite de 14 de abril, por cerca de 58 minutos, a assistente social Edelvânia Wirganovicz repetiu para a polícia, desta vez formalizando o depoimento, os detalhes que horas antes haviam levado os policiais até a cova em que o corpo nu do menino estava enterrado.

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Diálogos gravados indicam suposto acerto para livrar Boldrini

Em Frederico Westphalen, informalmente, Edelvânia havia confessado participação no crime, dizendo ter recebido dinheiro da madrasta de Bernardo, Graciele Ugulini, para ajudar a enterrá-lo. Conduziu os policiais até o buraco. Levada para Três Passos, prestou depoimento para a delegada regional Cristiane de Moura e Silva. No mesmo prédio, já estavam presos Graciele e o pai do menino, o médico Leandro Boldrini.

Mascando chiclete, contou, por exemplo, sobre o produto comprado para “dissolver rápido a pele” do menino e não “dar cheiro”. Por duas vezes, tomou água. Em alguns trechos da fala, pareceu quase sorrir ao buscar na memória algum detalhe questionado pela delegada. Explicou pausadamente o que disse à amiga Graciele quando soube do plano para matar Bernardo: “Eu disse ‘pensa bem no que tu vai fazer, olha o risco, né, pensa bem para ser bem feitinho'”.

Também descreveu a forma como o menino foi colocado no buraco e o que foi jogado sobre ele.

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Em dois momentos, foi contundente ao negar o envolvimento de qualquer outra pessoa no crime. Questionada sobre se o pai de Bernardo tinha conhecimento do que Graciele fez, Edelvânia afirmou que não, que ele não sabia. Ao final do depoimento, reforçou para a delegada a informação de que não havia outros envolvidos a não ser ela e Graciele.

Aliás, em mais de um momento ela se interessou em saber se a madrasta havia confessado e se havia jogado a culpa sobre ela. Cinquenta minutos depois de começar a falar, chorou rapidamente. Limpou as lágrimas e seguiu colaborando com a escrivã que se preparava para começar a leitura do depoimento para ela.

Pouco depois, outra mulher que estava na sala perguntou o porquê de ela não ter contado nada antes. Edelvânia chorou novamente e esfregou a barriga. A delegada, então, pediu o contato de alguém da família que pudesse ser avisado sobre a prisão dela.

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Leitura do depoimento se deu aos gritos de “justiça”

A validade da confissão de Edelvânia foi muito questionada pelo defensor dela pelo fato de ter sido feita sem a presença de um advogado. A polícia garantiu que ela foi avisada dos direitos constitucionais de ficar calada e de só falar em juízo. De fato, em pelo menos dois momentos, isso foi repetido para Edelvânia na delegacia, durante a gravação.

A leitura do depoimento começa pouco depois de uma hora do início da fala, e a assistente social vai acrescentando mais informações. Aos 71 minutos, a gravação captou gritos oriundos da rua, de pessoas que se aglomeravam na frente da delegacia regional de Três Passos:

– Justiça, assassinos, justiça!

Um médico entra na sala para o exame de lesão corporal, uma praxe que antecede a ida de suspeitos para presídios depois de prestar depoimento à polícia. Ela levanta a blusa, ele examina os pulsos e o pescoço.

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Mais uma vez, podem ser ouvidos gritos, mais nítidos. Edelvânia escuta cabisbaixa. É consolada por quem está na sala, que diz que a saída dela será mais tranquila, já que as pessoas não sabem que está ali. O alvoroço na rua seria por conta da presença do pai do menino e da madrasta, suspeitos de ligação com a morte.

Uma hora e 17 minutos depois de a gravação começar, Edelvânia retira o chiclete da boca. Segue a tentativa de leitura do depoimento, interrompida pelo som de telefones celulares tocando e pelo ingresso de pessoas na sala. A gravação é encerrada. Em seguida, um terceiro momento do vídeo começa – a primeira parte, de menos de cinco minutos, captou as informações sobre a qualificação da suspeita, quando ela diz que seu apelido é “Edi” e que tem um anjo tatuado nas costas.

A segunda parte da gravação é o depoimento em si, e a terceira foi a revisão, com leitura e acréscimo de informações. Foi nesta finalização que Edelvânia lembrou de mais um detalhe: que a madrasta lhe contara que havia tentado matar Bernardo o sufocando-o com um travesseiro. O fato é registrado e, 33 minutos depois, a leitura é concluída.

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Edelvânia, Graciele e Boldrini seguem presos desde 14 de abril. Um irmão da assistente social, Evandro Wirganovicz também foi preso e denunciado por suspeita de ter ajudado a cavar o buraco em que Bernardo foi enterrado. Em depoimento à polícia, Graciele admitiu ter matado Bernardo, mas alegou ter sido por acidente, por excesso de calmantes. Boldrini sempre negou qualquer participação no crime.

Assista à íntegra do depoimento prestado por Edelvânia:

Relembre o caso

Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, desapareceu no dia 4 de abril, uma sexta-feira, em Três Passos, município do Noroeste. De acordo com o pai, o médico cirurgião Leandro Boldrini, 38 anos, ele teria ido à tarde para a cidade de Frederico Westphalen com a madrasta, Graciele Ugulini, 36 anos, para comprar uma TV.

De volta a Três Passos, o menino teria dito que passaria o final de semana na casa de um amigo. Como no domingo ele não retornou, o pai acionou a polícia. Boldrini chegou a contatar uma rádio local para anunciar o desaparecimento. Cartazes com fotos de Bernardo foram espalhados pela cidade, por Santa Maria e Passo Fundo.

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Na noite de segunda-feira, dia 14, o corpo do menino foi encontrado no interior de Frederico Westphalen dentro de um saco plástico e enterrado às margens do Rio Mico, na localidade de Linha São Francisco, interior do município.

Segundo a Polícia Civil, Bernardo foi dopado antes de ser morto com uma injeção letal no dia 4. Seu corpo foi velado em Santa Maria e sepultado na mesma cidade. No dia 14, foram presos o médico Leandro Boldrini – que tem uma clínica particular em Três Passos e atua no hospital do município -, a madrasta, uma amiga dela, identificada como Edelvânia Wirganovicz, 40 anos, que colaborou com a identificação do corpo.

Posteriormente, o irmão de Edelvânia – Evandro Wirganovicz – foi preso temporariamente por suspeita de facilitar a ocultação de cadáver, crime pelo qual ele acabou denunciado pelo Ministério Público.

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Após pedido de aditamento do MP, a Justiça também aceitou a denúncia de Evandro por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de veneno e recurso que dificultou defesa da vítima), e decretou sua prisão preventiva.

Veja como teria ocorrido o crime: