Para eles, não há internet, Netflix ou tevê a cabo que resolva. Nada substitui o passeio entre os corredores de lançamentos e clássicos e o pedido de dicas às atendentes. Mais do que ficar algumas horas sentado no sofá da sala para apreciar obras da sétima arte, eles mantêm o hábito, quase um ritual, de visitar as videolocadoras.

Continua depois da publicidade

Em um tempo no qual o acesso a filmes está facilitado e a pirataria dá acesso a obras com poucos recursos, as videolocadoras ainda conseguem ter um público fiel e serem referência para os cinéfilos. Em Jaraguá do Sul, diversas delas contam com uma ampla lista de clientes.

Uma das mais antigas videolocadoras da cidade é a JOA, acrônimo do nome de seu proprietário, Jorge Orlando Amodio. Situado em uma esquina do Centro da cidade, o espaço foi inaugurado há 24 anos e sobrevive ao tempo, passando incólume pelos ciclos que a locação de filmes já viveu. É ele quem conta que Jaraguá do Sul já chegou a ter 55 videolocadoras. Hoje, o número está próximo a 20 estabelecimentos.

As dificuldades enfrentadas são a concorrência com outras mídias, assim como manter uma margem de lucro atrativa frente aos altos custos de manutenção. Mesmo assim, os anos dedicados à loja valeram a pena e o negócio ainda é rentável. No caso de Jorge, há um fator extra. Mais que empresário, ele é um fã de filmes. Foi devido a essa paixão que surgiu a ideia do negócio, lá no começo dos anos 1990.

Continua depois da publicidade

– Sempre fui um aficionado por vídeo. Eu tinha as fitas originais, gravava o madrugadão da Globo. Antes de me aposentar do Banco do Brasil, criei a locadora. No começo, eu atendia depois do expediente no banco, depois assumi aqui. Sempre fomos eu e minha mulher, Soeli Antunes, que cuidamos daqui – afirma Jorge, hoje com 58 anos de idade.

Ele vivenciou o fim das fitas VHS, usadas em videocassetes, e a chegada dos DVDs. Também viu o Blu-ray tornar-se a nova opção e já está de olho na nova mídia que deve ganhar às ruas em 2015, o Blu-ray 4K. Afirmando que para manter-se à frente do mercado é necessário ser pioneiro, Jorge investe nas tecnologias e oferta tudo a seus clientes. Hoje, é o Blu-ray a mídia mais locada, evidenciando outra característica das videolocadoras: quem as frequenta busca qualidade.

– São pessoas que não se sujeitam a baixar um filme da internet e que têm ojeriza à pirataria. E também tem a amizade. Há clientes que moram longe e vêm até aqui para locar filmes. Meu cliente mais antigo está comigo há 24 anos – conta, sorrindo.

Continua depois da publicidade

:: Leia mais notícias da região do Vale do Itapocu::

Conhecer para indicar

A figura de Jorge parece realmente marcante. Mais que cinéfilo, ele é dedicado e assiste a quase todos os filmes que chegam a seu acervo. Apesar de preferir a ação, assiste a gêneros que não aprecia tanto, tudo para poder indicar cada obra a seus clientes. Na videolocadora, uma televisão tem sempre um filme rodando. E em casa não há folga: mesmo após um dia com filmes no trabalho, as obras ganham espaço na televisão doméstica.

O carisma e o profundo conhecimento de filmes são os diferenciais que fazem da JOA uma das mais antigas da cidade. Porém, para Jorge, outros dois fatores são fundamentais para que uma videolocadora possa manter-se ativa: um bom e vasto acervo e uma carteira de clientes razoável. Na loja, são 1.365 títulos de Blu-ray, mais 7,3 mil títulos de DVDs.

Os mais locados são os de aventura e ação, seguido das comédias. Além de manter o cardápio de lançamentos sempre atualizado, a JOA conta com um bom acervo de clássicos, além de filmes que fogem ao padrão hollywoodiano, como obras do cinema europeu.

Continua depois da publicidade

Visitas quase diárias ao acervo

Aurélio Bernardo Maenchen é daqueles clientes que conhecem o acervo tão bem quanto os proprietários do negócio. Frequenta a Matrix Videolocadora pelo menos três vezes por semana. Cliente desde que a locadora tinha outro nome e endereço, ele já locou 558 filmes. Aurélio tentou adaptar-se à novidades. Por um tempo, tentou os sites e filmes da internet. Porém, a tentativa não foi aprovada.

– Não é a mesma coisa, a qualidade não é boa. Então, eu loco o Blu-ray e uso no home theater. É quase um cinema em casa – sorri.

Se o primeiro objetivo dos filmes é o entretenimento, das obras ele também já tirou lições de vida. Os filmes do diretor Steven Spielberg são citados como exemplo de bons trabalhos cinematográficos. Para facilitar a locação, Aurélio compra créditos e apenas desconta a partir de cada filme emprestado.

Continua depois da publicidade

A Matrix é outra das antigas videolocadoras da cidade. A loja original, que se chamava Barão Videolocadora, foi aberta em 1988. Wilhelm Guido Borowicz e sua ex-esposa, Liris Terezinha Bogo, eram os proprietários do negócio, que chegou a manter três filiais. A separação do casal encerrou a sociedade, mas não a loja. Liris tocou o negócio e hoje é o filho do casal, Artur Bogo, que está à frente da videolocadora.

Segundo ele, a loja tem há nove anos o novo nome, Matrix, e desde então diversificou suas ofertas. Além de vídeos, a Matrix abriga uma tabacaria e uma loja de presentes. Ele explica que apenas a videolocadora seria sustentável, porém o lucro cairia, o que justifica manter o mix de produtos e serviços.

– É um leque de produtos que se complementam – explica.