Quando percebeu a movimentação estranha na água, João Paulo Piazzi, 34 anos, que estava num jet ski com um amigo, custou a acreditar no que via – e se aproximou.

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Um grupo com cerca de cem golfinhos saltitava no mar do Morro dos Conventos, em Araranguá, no sul de Santa Catarina. Ele não se conteve em apenas observar os animais e – ao contrário do que recomendam os órgãos ambientais – deslizou com a embarcação entre eles. Durou pouco mais de 10 minutos, tudo gravado em vídeo.

– Se eu acelerava, eles aceleravam. Se eu diminuía, eles paravam. Uma cena incrível, que certamente eu nunca mais vou ver na vida – comenta, Piazzi.

Ele havia entrado na água para levar mantimentos a pescadores que estavam em um barco, cerca de 10 quilômetros distante da praia. Estava no meio do caminho quando avistou, de longe, os golfinhos.

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Nas imagens, que foram feitas no domingo, dá para perceber que Piazzi acelera em direção aos animais quase que instintivamente e quando se aproxima, desliga o motor da embarcação. Em seguida acelera para navegar junto com os golfinhos, que seguem para alto-mar.

Ele não sabia, mas descumpriu lei ambiental

De tão empolgado, ele conta que chegou a pensar em se jogar na água e nadar com os golfinhos – ideia abortada em segundos, por se dar conta que lidava com animais que não estão acostumados ao contato humano. O episódio com os golfinhos pôde ser registrado porque – como de costume nos passeios no mar – Piazzi carregava uma câmara aquática, o que permitiu fazer imagens até debaixo d’água.

O bancário que trabalha no Sul do Estado não sabia, mas por chegar tão perto dos golfinhos acabou descumprindo a lei ambiental.

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Agentes fiscais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão ambiental do governo, explicam que acelerar entre os animais pode, inclusive, configurar crime – passível de abertura de processo judicial e multa.

“A ordem é não se aproximar” – Paulo Flores, doutor em Biologia

Analista ambiental do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos do ICMBio orienta a manter uma distância entre de cem metros dos animais e diz que a proximidade pode ser perigoso tanto para a pessoas como para os golfinhos.

Diário Catarinense – Como o senhor avalia o comportamento dos golfinhos, que parecem ter interagido com o jet ski?

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Paulo Flores – Os golfinhos podem ter se aproximado por dois motivos: investigar a embarcação, que é algo estranho para eles, ou facilitar o deslocamento. No vídeo nós observamos que eles estão sempre perto da parte da frente, que pelo movimento da água é o que dá mais agilidade e, com isso, gera uma economia de energia para os animais. Mas é importante dizer que não se deve chegar tão perto deles. Golfinhos, apesar de parecerem dóceis, não são animais domesticados.

DC – Qual é a distância recomendada?

Paulo – Cem metros é o ideal. Não importa se estiver de prancha, barco ou jet ski, a ordem é não se aproximar. Pelo contrário, ao observar os animais deve-se diminuir a rotação do motor, colocar ponto neutro. Nunca se deve fazer o que se viu no vídeo, como acelerar no meio do grupo ou em direção a eles – pela lei, pode ser considerado como perseguição, o que configura crime ambiental e acarreta em multa (e são R$ 500 por animal que foi perseguido).

DC – Os animais correram risco?

Paulo – Os animais e a pessoa que estava no jet ski. Um golfinho adulto pesa 250 quilos e mede três metros de comprimento. Nunca se sabe qual será a reação deles, se um já seria perigoso, imagine um grupo inteiro. Eles poderiam ter batido no veículo e a pessoa ter caído na água. Os animais também poderiam ter se machucado, além de a interferência do veículo poder ter separado mães de filhotes.

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