Os moradores do Residencial Bethesda, de Joinville, estão desde 18 de março cumprindo à risca as regras de isolamento social durante a pandemia do novo coronavírus. Ninguém sai, e só quem entra são os profissionais que atuam no lar de idosos mais antigo de Joinville. As saudades da família e, principalmente, do carinho dos filhos, netos e bisnetos, no entanto, não deixou de aparecer. Por isso, a coordenação do residencial decidiu ser engenhosa e proporcionar este momento, mesmo que com algumas "intervenções".

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Inspirados por iniciativas de outros países, fabricaram uma capa com espaço para braços. Ela foi instalada na porta do prédio principal do lar de idosos na última sexta-feira (22) e fez sucesso no fim de semana.

— Estamos quase agendando as visitas, para garantir que não crie uma fila no portão. No sábado e no domingo, tivemos 32 visitas — conta a coordenadora, Cristiane.

Foi dela que surgiu a ideia, após receber relatos de residenciais para a terceira idade dos Estados Unidos da Associação Nacional de Gerontologia. Se a inspiração chegou fácil, a produção da capa não foi tão simples de viabilizar. Cristiane procurou muito por costureiras que topassem o desafio, até que Sirlene Pensky, moradora do Distrito de Pirabeiraba, onde também está localizado o Bethesda, assumiu a missão.

— Fizemos o primeiro teste, mas não deu certo. Então ela foi fazendo as adaptações, o que não é fácil, porque é uma cortina de plástico — explica Cristiane.

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A conclusão coincidiu, sem que ninguém estivesse prevendo, com o Dia do Abraço, celebrado internacionalmente em 22 de maio. Rosane Gilgen Schroeder foi a primeira a testar. Apesar de morar perto do residencial e conseguir falar com a mãe, Relindes Asta, de 82 anos, pelo telefone ou de longe, no muro, a experiência foi bem diferente.

— Falo com ela duas, três vezes por semana, no telefone ou vou pessoalmente lá e conversamos pelo portão. Mas o abraço foi muito emocionante, depois de dois meses sem se tocar — conta Rosane.

Segundo Cristiane, o começo da pandemia foi mais difícil para fazer os moradores do residencial entenderem e aceitarem que não poderiam receber visitas dos parentes. A tecnologia colaborou um pouco, com funcionários ajudando os idosos a realizarem vídeo chamadas para os familiares. Mesmo assim, nada substitui o acolhimento de um abraço.

Foi esta também a sensação de Gilberto Raul Zwetsch. Ele também ia visitar a mãe, Iracy, de 89 anos, em encontros do outro lado do portão nos últimos dois meses. Mas ter a chance de estar bem pertinho fez toda a diferença.

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— Foi muito gostoso poder abraçar de novo a minha mãe. Todos sentíamos muita falta — conta ele.

Para que ele seja possível, todo mundo precisa ter paciência. Cada visitante ultrapassa o portão sozinho, após passar por uma triagem feita por meio de mensuração de temperatura e de um questionário. Depois, é necessário passar álcool gel nas mãos. Entre cada abraço, a capa especial é higienizada nos dois lados.

Uma nova cortina já está sendo fabricada para também ser acessível. Ela terá mais um par de espaços para os braços em uma altura mais baixa. Desta forma, os idosos que estão em cadeiras de rodas também poderão receber este carinho.

Confira o vídeo do abraço de Rosane e da mãe, Relindes Asta.