É enganoso post publicado no TikTok afirmando que o programa social Reinserção Social Transcidadania destinado a travestis e pessoas trans estaria sendo lançado em 2023. O conteúdo, que chama a ação pejorativamente de “Bolsa Travesti”, confunde ao mostrar uma entrevista antiga do atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e beneficiários elogiando a iniciativa.

Continua depois da publicidade

Receba notícias de Santa Catarina pelo WhatsApp

Na verdade, o programa teve início em 2015, quando Haddad era prefeito de São Paulo, e segue até os dias atuais na capital paulista. Não há, no âmbito federal, nenhum programa nesse sentido.

Conteúdo investigadoVídeo de trecho de reportagem que mostra Fernando Haddad (PT), ministro da Fazenda, anunciando uma bolsa-auxílio para pessoas transsexuais e travestis. Sobre as imagens, há uma caixa de texto em que se lê “Bolsa Travestis – 840,00 reais/2023”.

Onde foi publicado: TikTok.

Continua depois da publicidade

Conclusão do Comprova: É enganoso post que afirma ser de 2023 vídeo do atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), anunciando o lançamento de um programa de auxílio a pessoas trans e travestis, chamado pejorativamente pela peça de desinformação de “Bolsa Travesti”. A gravação, na verdade, é de 2015, quando Haddad era prefeito de São Paulo. Na época, ele lançou o programa Reinserção Social Transcidadania, que inicialmente oferecia auxílio de R$ 840 para 100 beneficiários, além de acesso à escola e a cursos profissionalizantes.

O vídeo, que circula fora de contexto, é parte de uma reportagem da TV Câmara de São Paulo veiculada em 2 de fevereiro de 2015, com o título “SP: programa da prefeitura estimula o desenvolvimento de travestis”. A íntegra do vídeo tem 4 minutos e 56 segundos de duração.

projeto Reinserção Social Transcidadania é executado há nove anos pela Prefeitura de São Paulo sob responsabilidade da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania e da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho. O objetivo da ação é auxiliar na colocação profissional e reintegração social da população trans e travesti em situação de vulnerabilidade.

Na primeira fase do Transcidadania, foram beneficiados 100 participantes, que receberam uma bolsa de R$ 840, condicionada a ações de elevação da escolaridade e qualificação profissional, em atividades de 30 horas semanais durante dois anos.

Continua depois da publicidade

Ao Comprova, o Ministério da Fazenda informou que não há, no âmbito do governo federal, qualquer programa nesse sentido sendo desenvolvido pela pasta e que o vídeo no post do TikTok foi tirado de contexto.

Em entrevista à Agência Pública em 24 de janeiro deste ano, a Secretária Nacional de Promoção de Defesa das Pessoas LGBTQIA+, Symmy Larrat, afirmou que pretende transformar o Transcidadania em um projeto de âmbito nacional. Não há previsão para a implementação.

O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania foi procurado, mas não houve retorno até a publicação desta verificação.

O Comprova considera enganoso o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Continua depois da publicidade

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 12 de abril, a publicação no TikTok havia alcançado 1,1 milhão de visualizações, 40,2 mil compartilhamentos, 9,7 mil comentários e 16,5 mil curtidas.

Como verificamos: Após assistir ao vídeo, buscamos no Google pelas palavras-chave “Haddad” e “pessoas trans” e encontramos checagens de outras agências como Estadão VerificaFato ou FakeAos FatosUOL Confere e Lupa, além de uma reportagem de 2015 do site oficial do PT.

Na gravação, é possível ver um logotipo vermelho de um canal de TV no microfone do jornalista, que aparece pela primeira vez aos 13 segundos. Com a pista de que o logo seria da TV Câmara de São Paulo, fizemos uma busca no YouTube pelas palavras-chave “TV Câmara São Paulo” e “Haddad”, a partir da qual encontramos o vídeo original, publicado em 2 de fevereiro de 2015.

A reportagem, intitulada “SP: programa da prefeitura estimula o desenvolvimento de travestis”, tem 4 minutos e 56 segundos de duração. O trecho utilizado pela peça de desinformação pode ser encontrado a partir de 1 minuto e 40 segundos.

Continua depois da publicidade

Também reunimos informações a respeito do programa Transcidadania a partir de reportagens e dados do site da prefeitura de São Paulo.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova contatou o perfil @pastor_valdinei por mensagem no TikTok, mas não obteve retorno até a publicação desta verificação. A busca pelo usuário em outras redes sociais retornou um canal no YouTube e uma conta no LinkedIn. No entanto, nenhum dos canais continha informações de contato.

O que podemos aprender com esta verificação: Disseminadores de desinformação costumam utilizar vídeos antigos para confundir o público e tirar informações de contexto. Dessa forma, acabam levando as pessoas a acreditarem que determinado fato é recente, causando uma interpretação equivocada sobre diferentes assuntos. É sempre importante que o leitor questione o conteúdo e busque se informar a respeito do tema junto à imprensa profissional.

O post também mostra que devemos ficar atentos a detalhes. Haddad aparece visivelmente mais jovem no vídeo, algo que, se percebido, já indicaria se tratar de um conteúdo duvidoso.

Continua depois da publicidade

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O conteúdo também foi verificado por outras agências de checagem como Estadão VerificaFato ou Fake, do G1, Aos FatosUOL Confere e Lupa.

Conteúdos envolvendo identidade de gênero e a comunidade LGBTQIA+ já foram alvos de checagens do Comprova. Recentemente, o projeto mostrou que portaria citada em tuíte enganoso não aborda cirurgias de mudança de sexo. Em 2018, constatamos que Haddad não afirmou que governo deve decidir o gênero das crianças e, em 2020, que não é verdade que vacina contra a covid-19 cause câncer, danos genéticos ou “homossexualismo”.