Maria Izildinha Kreusch, 62 anos, conquista pela simpatia e pelo carinho que consegue demonstrar com quem vive à sua volta. A vovó Izildinha, como as crianças chamam a cozinheira do Centro de Educação Infantil (CEI) Maria Zimmermann, no bairro Boa Vista, em Blumenau, é alguém que traz nas mãos e no sorriso tímido histórias para contar e encantar.

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Izildinha, como gosta de ser chamada, é uma habilidosa artesã que consegue driblar os "narizes tortos" da criançada para os legumes, frutas e saladas e explora a imaginação na hora do almoço. São barquinhos, carrinhos, bonecos e até personagens de desenhos animados que ganham forma na ponta da faca da cozinheira.

A habilidade começou depois que um dos netos dela, em casa, disse que só ia comer laranja se a avó fizesse uma "carinha". Izildinha então colocou a imaginação para funcionar e com dois bagos de feijão fez a tal carinha. Mas a ligação dela com as crianças começou muito antes do episódio com o pequeno na cozinha de casa. Foi em um dos vários momentos delicados que passou durante a vida que a cozinheira descobriu uma das grandes motivações da vida.

Izildinha coleciona mais de mil esculturas com alimentos
Izildinha coleciona mais de mil esculturas com alimentos (Foto: Nathan Neumann)

Há cerca de sete anos, a filha, acometida por um câncer, pediu a ela que trabalhasse no meio dos "anjos", como lembra emocionada quando fala da história. Até então, Izildinha já havia trabalhado no restaurante próprio e cozinhado até para um presidente da República e para os atores do seriado "Os Trapalhões".

Largou tudo para abraçar o emprego na creche e atender ao desejo da filha que faleceu, deixando um filho. Há dois meses, tragicamente Izildinha perdeu o neto. Desde então, a senhora de abraço apertado e de sorriso tímido, marcado pelas pesadas perdas, encontra força para seguir em frente no carrinho e dedicação às crianças.

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Pra mim é como se fossem todos meus netinhos. Amo o que faço. Minha maior alegria é estar aqui no meio dessas crianças. Eles chegam aqui e pedem "Vovó Izildinha, faz os bichinhos pra gente?". Eles pedem até frango com maionese, coisa que não dá pra fazer – lembra a cozinheira em meio a risadas curtas.

– As crianças já estão bem habituadas a ela. Ela nos ajuda muito e é muito importante a relação que ela consegue estabelecer entre os pequenos e os alimentos. Já recebemos alguns relatos de pais que disseram que a criança come melhor e cria hábitos alimentares que em casa não têm – afirma, Claudia Belegante Augustinho, diretora do CEI.

Ao longo dos cinco anos de atuação na creche, Izildinha coleciona mais de mil esculturas com alimentos e procura patrocinadores para lançar um livro de receitas. Tudo é selecionado minuciosamente. Ela conta que o processo de criação é automático. Basta olhar para o alimento e imaginar.

Olho para a fruta ou para o legume e imagino mais ou menos com o que o formato dela parece. Aí, vou cortando, fatiando e descascando e vai surgindo. Cada vez sai algo diferente – conta a cozinheira.

Durante a entrevista cedida à reportagem, Izildinha fez um barquinho de mamão com dois tripulantes de ovos cozidos, um boneco de abacate com olhos e a boca de cenoura, uma cobra de banana e cenouras e um carrinho de bebê com laranja. Uma mistura que acima de tudo leva carrinho, superação, habilidade e muito amor, aquele amor gostoso e gentil de uma vovó de muitos netos.

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