A guerra deflagrada no Oriente Médio a partir de um ataque do grupo extremista Hamas a Israel no último sábado (7) é testemunhada também por catarinenses que estão na região. Ao NSC Total, os relatos de quem sente de perto o conflito são de terror e medo sob o som de bombas e sirenes.
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— A experiência tem sido assustadora e traumatizante, qualquer barulho já é motivo para estar em alerta e o escurecer da noite também — diz a catarinense Maria Paulina, de 22 anos, que vive há um ano e meio em Israel, país com o qual criou laços ao ir cursar o ensino médio em um kibutz, um tradicional modelo israelense de comunidade voluntária, em que jovens estudam e trabalham juntos.
Ela passa pelo conflito a partir de Ramat Gan, cidade vizinha à capital Tel Aviv. A distância de lá para a Faixa de Gaza, um estreito território palestino controlado pelo Hamas e de onde partiu o primeiro ataque surpresa, é de 80 quilômetros. É o equivalente a uma viagem de Biguaçu, na Grande Florianópolis, a Itajaí, município do Litoral Norte de Santa Catarina, do qual Maria é natural.

— O conflito já está em todas as partes de Israel, já que o país é pequeno. Para ter uma melhor noção, em aproximadamente seis ou sete horas, é possível atravessar o país de Norte a Sul — afirma.
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A rotina dos últimos dias tem sido de fuga para subsolos de residências ou bunkers públicos, estrutura também comum no país, para se proteger de ataques nas ocasiões em que sirenes disparam nas ruas.
— Pretendo voltar para o Brasil assim que for possível, caso a situação piore — diz Maria, que relata ainda conviver com notícias difusas sobre a guerra, enquanto aguarda uma saída de paz para a questão.
Jovem catarinense tenta se esconder após alerta de sirenes
Também natural de Santa Catarina, o dentista Marcos André Machado, de 50 anos, diz dar graças a Deus por ter conseguido sair da região. Ele estava em Israel a passeio há uma semana quando tudo teve início.
— Foram momentos de terror — afirma o catarinense, já de volta a Florianópolis, após uma longa viagem iniciada no domingo (8) com escalas na Etiópia, no Norte da África, e em Guarulhos, na Grande São Paulo.
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No sábado, ele estava com um amigo em Jerusalém, cidade dividida entre Israel e a Cisjordânia, território ocupado por maioria palestina e onde também passaram a ocorrer bombardeios. De lá, o catarinense conseguiu um táxi até Tel Aviv, já com a intenção de ir ao aeroporto e tentar um voo de volta ao Brasil.

— No aeroporto, foi um absurdo, porque a gente ouviu as sirenes, todo mundo mandando a gente para o fundo do aeroporto, as pessoas correndo, gritando, chorando. A gente ouvia o barulho dos mísseis, dos antimísseis, de tudo o que se possa imaginar. E aí foram momentos absurdos, porque a gente pensa realmente que vai morrer, é um cenário literalmente de guerra — relata Marcos.
— A gente pensa que isso acontece só em filme. Vivenciar isso é muito difícil, olhar o rosto das pessoas desesperadas — acrescenta o catarinense, que afirma ter amigos que perderam pessoas próximas fuziladas no ataque a uma rave ocorrido no Sul de Israel, de onde o Hamas fez também reféns.
Turista catarinense mostra correria em tentativa de deixar região
Resgate de brasileiros no Oriente Médio
No domingo, o governo Lula (PT) anunciou que levará seis aviões ao Oriente Médio para repatriar brasileiros que queiram voltar ao país natal após o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ter declarado guerra ao Hamas, grupo que controla a Faixa de Gaza. A Força Aérea Brasileira (FAB) já decolou com duas aeronaves até esta segunda (9).
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O resgate será feito por duas aeronaves KC-30, com capacidade entre 220 e 230 passageiros, duas KC-390, que carregam em torno de 80 pessoas, e duas VC-2, cedidas pela Presidência da República, que podem levar entre 38 e 40 passageiros. Ou seja, poderão ser até 700 repatriados.
O Itamaraty estima que 14 mil brasileiros residam em Israel. Cerca de mil hospedados em Tel Aviv e Jerusalém mostraram interesse em voltar. Já em territórios palestinos, há seis mil cidadãos do Brasil. Especificamente na Faixa de Gaza, há cerca de 30. O Brasil ainda não definiu como irá resgatá-los.
O que está acontecendo em Israel

No sábado (7), dia de um feriado judaico, o Hamas promoveu um ataque surpresa a partir da Faixa de Gaza, um estreito território palestino localizado entre o Sul de Israel, o Mar Mediterrâneo e o Egito. Desde então, forças militares dos dois lados têm protagonizado um fogo cruzado de mísseis.
Pelo lado israelense, aos menos 1000 pessoas morreram pelos ataques mobilizados pelo Hamas por terra, ar e mar até esta terça (10). Em resposta, Israel promoveu bombardeios na Faixa de Gaza que mataram ao menos 830 pessoas, também em um intervalo de três dias.
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Os números de vítimas foram divulgados pelas autoridades de cada território. O governo israelense comunicou ainda ter matado 1500 combatentes do Hamas em seu território.
Entre as mortes em Israel, duas delas envolviam brasileiros: tratam-se dos gaúchos Ranani Nidejelski Glazer e Bruna Valeanu. Há ainda uma brasileira desaparecida.
Israel também realiza um cerco total à Faixa de Gaza, que impede o fornecimento de alimentos, eletricidade, combustível e água ao território.
Além disso, o governo israelense convocou 300 mil militares da reserva e pretende uma invasão à área sob domínio do Hamas, que, em resposta, ameaça matar reféns de Israel. Ao ordenar a estratégia, o ministro israelense da Defesa, Yoav Gallant, afirmou lutar contra “animais”.
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Diferentemente de Israel, que conta com bunkers e um sistema de inteligência para tentar se prevenir de ataques, o que falhou desta vez, a Faixa de Gaza não tem estruturas deste tipo.
O conflito também chegou ao Norte de Israel, na fronteira com o Líbano, a partir de onde o grupo paramilitar libanês Hezbullah, que apoia a causa palestina, também promoveu ataques a israelenses, que contra-atacaram.
Qual a origem do conflito
O Hamas é um movimento islamista palestino que controla a região da Faixa de Gaza, com cerca de 2,1 milhões de moradores, e exige a criação de um Estado palestino sobre territórios também reivindicados por israelenses, como a cidade de Jerusalém, sagrada para judeus, muçulmanos e cristãos e hoje dividida entre Israel (Jerusalém Ocidental) e a Cisjordânia (Jerusalém Oriental), um outro território ocupado por palestinos.
O grupo considerado terrorista por israelenses deflagrou o ataque a Israel 50 anos após a Guerra do Yom Kippur, em 1973, quando nações árabes lideradas por Egito e Síria também fizeram um ataque surpresa contra israelenses.
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A primeira guerra árabe-israelense é ainda mais antiga, de 1948, logo após a fundação do Estado de Israel, em uma região sagrada a diferentes religiões que se estende do rio Jordão ao Mar Mediterrâneo.
O território judeu foi reconhecido a partir de uma resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) em resposta aos horrores da Segunda Guerra Mundial, mas recebe a contrariedade desde então de países árabes do Oriente Médio, por se sobrepor a uma área também reivindicada pelo Estado da Palestina, que não tem reconhecimento da comunidade internacional.
Entre os países árabes que apoiam os palestinos está o Irã, que celebrou o ataque mais recente a Israel. O governo iraniano ainda presta suporte com armamentos e inteligência ao Hamas e ao Hezbullah.
O aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, negou, no entanto, participação no ataque surpresa.
Como o Brasil se posiciona
Quando foi deflagrado o primeiro ataque pelo Hamas, o presidente Lula se disse chocado e classificou o episódio como terrorismo, apesar de não mencionar o nome do grupo envolvido.
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“Fiquei chocado com os ataques terroristas realizados hoje [sábado] contra civis em Israel, que causaram numerosas vítimas. Ao expressar minhas condolências aos familiares das vítimas, reafirmo meu repúdio ao terrorismo em qualquer de suas formas”, escreveu o petista.
Ele afirmou ainda que empenhará esforços para chegar a uma solução pacífica, que contemple reivindicações territoriais de judeus e palestinos. O Brasil assumiu este mês a presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU, que tinha uma reunião de emergência prevista para o domingo.
“O governo brasileiro reitera seu compromisso com a solução de dois Estados, com Palestina e Israel convivendo em paz e segurança, dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas. Reafirma que a mera gestão do conflito não constitui alternativa viável para o encaminhamento da questão israelo-palestina”, publicou ainda Lula.
Governo de SC oferece contato para pedido de ajuda
O governo de Santa Catarina, sob gestão Jorginho Mello (PL), afirma estar à disposição de catarinenses na região que precisem de ajuda para serem repatriadas ao Brasil. Para isso, é necessário fazer contato com a Secretaria de Articulação Internacional catarinense a partir do seguinte e-mail: sai@sai.sc.gov.br.
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