A sabedoria popular vive insistindo na máxima de que nunca é tarde para se realizar sonhos. Até onde isso é verdadeiro, vai da meta e da vontade de cada pessoa, mas para algumas, o ¿antes tarde do que nunca¿ é quase uma obrigação pessoal. Aos 65 anos, mais de 30 após rascunhar sua primeira música, José Rodrigues de Souza acaba de se lançar como cantor e compositor de modas sertanejas. Mas a fama, caso venha, o encontrará em seu salão próximo à rodoviária de Joinville, fazendo o que lhe põe comida à mesa e permite os devaneios artísticos: cortar cabelos e aparar barbas.
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Conheça Souza o cabeleireiro cantor de Joinville
– A música ficou até hoje na cabeça e no papel – diz Souza, referindo-se ao longo tempo sem registrar a composição.
Em 1995, com os negócios indo mal, veio visitar o irmão em Joinville. Gostou da cidade, viu que os salões de beleza eram poucos e resolveu ficar. A concorrência aumentou bastante desde então, fazendo o faturamento de Souza cair, o que não o impediu de juntar economias. E, após dois anos de planos e orçamentos, elas finalmente ganharam destino: pagar estúdio e músicos profissionais para a gravação de um quinhão da obra do cabeleireiro-cantor.
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Os R$ 3,7 mil só foram suficientes para registrar duas composições. Assim, vieram à tona no YouTube, no começo de agosto, Ciúmes – aquela composta num quarto de pensão, 32 anos atrás – e Pequena Infância, outra moda com fundo biográfico. Ambas também foram prensadas em CDs, vendidos aos clientes do salão por R$ 10.
– O pouquinho que fiz, sem me preparar, foi bem aceito na internet – avalia Souza, para quem é melhor cantor do que compositor. Tanto é que se diz disponível para shows.
– O que aparecer, aniversário, casamento, enterro de sogra, algo que não canse muito a gente.Nessas eventuais apresentações, possivelmente incluirá outras criações suas. Ele tem mais seis prontas que pretende gravar para, então, lançar um disco completo. Entre essas músicas está Ela Quer Namorar, inspirada por uma estudante que ele sempre observava saltar do ônibus no ponto da rodoviária. Desse modo, da porta de seu estabelecimento, Souza vê as pessoas chegarem, partirem e até pararem. De muitas, ele somente tratará pelos e madeixas, mas algumas virarão mais uma moda de viola.
