O vice-presidente da Venezuela, Tarek El Aissami, rejeitou nesta terça-feira as sanções dos Estados Unidos aplicadas contra ele por tráfico de drogas, classificando-as de “agressão miserável e infame”, pondo fim à trégua que o governo de Nicolás Maduro deu ao presidente americano, Donald Trump.

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“Pessoalmente, recebo esta miserável e infame agressão como um reconhecimento da minha condição de revolucionário anti-imperialista. VENCEREMOS”, escreveu El Aissami na rede social Twitter, respondendo ao anúncio do congelamento dos bens que possa ter em território americano. O empresário Samark José Lopez Bello também é alvo de sanções similares.

O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos acusa o vice-presidente de facilitar, proteger e monitorar carregamentos de drogas da Venezuela com destino ao México e Estados Unidos, enquanto era ministro do Interior (2008-2012) e governador do estado de Aragua (2012-2017).

López Bello, de acordo com versões apresentadas à imprensa pelo sócio de El Aissami, foi incluído nas sanções, que proíbem qualquer cidadão americano ou empresa de fazer negócios com qualquer um dos listados e 13 empresas.

Mas o vice-presidente considera que a medida é um ataque contra o governo do presidente Nicolás Maduro, cuja popularidade está abalada por uma grave crise, com escassez aguda de alimentos e medicamentos e uma inflação projetada pelo FMI em 1.660% para 2017.

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“Essas provocações miseráveis não devem nos distrair da nossa principal tarefa, que é acompanhar @NicolasMaduro na recuperação econômica”, acrescentou El Aissami.

Compasso de espera

Até agora, Maduro tinha voltado suas baterias contra Barack Obama, cujo governo declarou a Venezuela uma ameaça para a segurança dos Estados Unidos e decretou sanções contra sete funcionários venezuelanos, os quais são impedidos de voltar àquele país.

Mas Maduro tem tratado com cautela o governo Trump, de quem chegou a dizer ser vítima de uma “campanha de ódio”. Maduro decidiu que devia entrar em compasso de espera.

Trump, por sua vez, referiu-se tangencialmente à Venezuela em sua campanha eleitoral, advertindo que se não fosse eleito, a Suprema Corte poderia transformar os Estados Unidos em algo parecido ao país sul-americano.

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Mas, segundo a Casa Branca, na segunda-feira expressou ao presidente colombiano, Juan Manuel Santos, sua preocupação com a crise venezuelana durante um telefonema.

O secretário-executivo da opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD), Jesús Torrealba, advertiu que o caso El Aissami “poderia comprometer as relações” com “o único país que paga ‘cash’ à Venezuela pelo petróleo”.

“Agora dirão que o Departamento do Tesouro os plantou (produziu provas falsas), como eles plantam os opositores para fazê-los apodrecer nas prisões do regime”, afirmou o ex-presidente do Parlamento, o opositor Henry Ramos.

Lista negra

El Aissami, um advogado de 42 anos, foi nomeado vice-presidente em 4 de janeiro, após uma ascensão meteórica nas fileiras do chavismo – onde começou como líder estudantil -, e uma notória presença midiática no último ano, sempre ao lado de Maduro.

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O presidente lhe passou várias de suas atribuições, entre elas expropriar bens e nomear vice-ministros, e o nomeou chefe do chamado “comando antigolpe”, responsável pela recente detenção de meia dúzia de adversários do governo.

Mas as autoridades americanas apontaram que as sanções “são o resultado de anos de investigação” e não estão vinculadas à nomeação de El Aissami à vice-presidência.

Segundo o Departamento do Tesouro, El Aissami teria recebido pagamentos do narcotraficante venezuelano Walid Makled, e teria ligações com o violento cartel mexicano Los Zetas.

Washington já tinha acusado outros funcionários venezuelanos de tráfico de drogas.

O ministro do Interior, Nestor Reverol, ex-diretor do Escritório Nacional Antidrogas (ONA), foi acusado em agosto de 2016 por um tribunal federal de Nova York por supostamente receber pagamentos de traficantes de drogas.

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Em maio de 2015, o jornal The Wall Street Journal informou que as autoridades americanas também estavam investigando Diosdado Cabello, um dos mais poderosos líderes do chavismo, por supostas ligações com o tráfico de drogas.

No fim do ano passado, dois sobrinhos da primeira-dama, Cilia Flores, foram condenados por narcotráfico.

Diante de todas estas acusações, Maduro assegurou que são “ataques do imperialismo” para desestabilizar a “revolução bolivariana”, fundada pelo falecido líder Hugo Chávez (1999-2013).

O deputado governista Pedro Carreño declarou à AFP que os Estados Unidos buscam, com a acusação contra El Aissami, “uma vez mais satanizar, estigmatizar e criminalizar a revolução”, enquanto acusou o país de proteger suas estruturas do narcotráfico.

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