Teófilo Ribeiro Neto está na fossa e, diferentemente do que você pode pensar, isso é uma das melhores coisas que já aconteceu com o atirador de 37 anos. Praticante antes apenas do trap americano – uma modalidade amadora do tiro ao prato – o pernambucano radicado em Blumenau agora se arrisca na fossa olímpica, que integra o quadro dos Jogos Olímpicos e estará em Tóquio daqui a pouco mais de três anos. Atual campeão com a equipe blumenauense da primeira etapa do Campeonato Catarinense, Teófilo quis dar um passo um pouco mais largo na curta carreira.
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Em sua espingarda calibre 12, a bandeira do estado natal se destaca. Nascido em Jataúba, polo têxtil da moda íntima – uma espécie de Ilhota pernambucana, digamos assim -, Teófilo veio para o Vale do Itajaí há 12 primaveras a trabalho. Aqui, conheceu a mulher que viria a ser sua esposa, constituiu família e, em 2014, foi apresentado ao tiro esportivo. Foi em uma visita ao Clube Blumenauense de Caça e Tiro três anos atrás que ele escolheu o esporte. Hobby? Segundo ele, não.
– Não consigo assumir algum compromisso e entrar apenas para brincar. Tem que mergulhar de cabeça. Sempre faço isso – afirma Teófilo que, apenas um ano depois de dar os primeiros tiros, foi vice-campeão do Mundial nos Estados Unidos.
A motivação para entrar em uma modalidade olímpica veio com os bons resultados em competições estaduais e nacionais – para se ter ideia, ele acertou todos os 100 tiros ao prato durante o Catarinense, realizado há duas semanas. Com a dificuldade de não poder treinar fossa olímpica em Blumenau, Teófilo precisa encaixar as viagens para Curitiba com a rotina de empresário e pai de família. Nada que seja um empecilho.
Mesmo com todos os obstáculos, ele disputou no fim de semana passado sua primeira competição na nova modalidade e garantiu a medalha de prata na primeira etapa do Campeonato Brasileiro, com 118 acertos em 125 tentativas no total. O número é considerado índice mundial, suficiente para que ele garanta vaga nas olimpíadas, caso mantenha regularidade.
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– O resultado surpreendeu a mim mesmo, não só quem estava acompanhando. Nunca imaginei que pudesse ter um desempenho como esse logo na minha primeira participação – conta empolgado o atirador, que chegou a receber os cumprimentos do técnico da Seleção Brasileira da modalidade.
Confiança e
pés no chão
A participação no Brasileiro empolgou, mas mesmo sem esconder o sorriso, Teófilo prefere colocar os pés no chão e reluta em falar sobre Tóquio-2020 – embora seja, inevitavelmente, seu grande objetivo para os próximos anos. Humilde, o pernambucano de nascimento, mas blumenauense de coração, não descarta que o resultado conquistado no fim de semana tenha sido apenas uma obra do acaso.
– Pode ter sido sorte de principiante ou então um dom que sempre tive. Não sei. Gosto de atirar e é isso que quero – conta, enquanto veste o colete, coloca os óculos e saca a arma usada para os treinos do dia a dia e que serão seus companheiros na busca por um sonho que pode misturar o sotaque nordestino com o japonês nos próximos jogos olímpicos.
A FOSSA OLÍMPICA
? O objetivo na prova é de acertar todos os 125 pratos de 11cm de diâmetro – ou 75, no caso das mulheres.
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? Os seis atiradores com mais acertos, garantem vaga em uma final, em que são disputadas as medalhas.
? O tiro só é considerado bom caso quebre um pedaço visível para o árbitro, por menor que seja.
? Os pratos são lançados a 15 metros de distância, variando em ângulos de 45° à esquerda e 45° à direita.
? Em média, o prato sai das máquinas lançadoras a 100km/h, e é acionado pelo atirador por um comando de voz.