A arquiteta Morgana Souza Rodrigues, 28 anos, deixou Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, por volta das 23h de domingo (30) em um ônibus de viagem. O destino era sua casa em Garopaba, no Sul de Santa Catarina. A viagem de 400 quilômetros, que em trânsito normal duraria cerca de 4 horas, já se estende por mais de 30h. Parada em um posto de gasolina em São João do Sul, município catarinense próximo à divisa com o estado gaúcho, Morgana vive a angústia de não saber quando chegará em sua residência. “A situação é difícil”, define.
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— Ontem eu estava mal, com uma crise de cistite. Consegui que uma farmácia trouxesse remédio aqui, mas estava chorando de dor — disse Morgana.
No posto onde ela está cerca de dez ônibus também estão estacionados. Dezenas de passageiros estão dividindo o banheiro do espaço e comendo os produtos vendidos no posto.
— No meu ônibus tem idooso, crianças. Ontem uma ambulância teve que resgatar um idoso — disse.
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Sem perspectiva de liberação, a arquiteta diz que já pensou em tentar voltar para Porto Alegre de alguma forma. Uma das alternativas planejadas foi a de voltar com um motorista de transporte por aplicativo, mas o valor da viagem ultrapassa R$ 500. A jovem aguarda que o namorado, que mora na Capital gaúcha, consiga chegar até o posto onde ela está para uma possível carona.
Também em São João do Sul, mas em outro ponto, a advogada Vanessa Garcia, 24 anos, espera voltar para a casa em São José, na Grande Florianópolis. Ela voltava de Santa Maria, no Rio Grande Sul, onde foi votar no segundo turno das eleições. Já na estrada o motorista foi avisado dos bloqueios em solo catarinense.
Vídeo mostra bloqueio em São João do Sul
Ele então parou o veículo em um posto de São João do Sul por volta das 2h da manhã de segunda-feira (31). Vanessa já gastou mais de R$ 100 com alimentação no local. No fim da noite, a empresa de ônibus passou a disponibilizar refeições para os passageiros.
O que assusta a advogada é que cada vez mais manifestantes bolsonaristas chegam ao local. Segundo, eles tentam mobilizar motoristas que ainda cruzam a rodovia para participar dos bloqueios.
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— É uma cena de horror — conta Vanessa.
Os bloqueios também assustam a avó do advogado João Marcelo Staskowian, 41 anos, Raquel Biasi tem 88 anos e está com o neto em um hotel de São Bento do Sul. Os dois se hospedaram no local depois de conseguirem ir de Joinville para Caçador.

— Ela está assustada e não entende muito bem o que está ocorrendo. Pergunta várias vezes o por que está acontecendo e quando a gente vai voltar — diz o dentista.
João teve que cancelar a agenda de atendimentos odontológicos de segunda-feira e repetiu o protocolo para essa terça-feira (1º).
Com a avó idosa, João percorreu o interior dos municípios para tentar chegar até um ponto de bloqueio. Ele diz que pediu para um grupo de manifestantes para poder passar, mas não conseguiu nem apelando para os cuidados com a avó.
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A opção por ficar num hotel foi justamente para dar mais conforto à idosa. Ele abasteceu o carro na segunda e agora só quer sair de São Bento do Sul se houver confirmação da liberação.
— Estou com a gasolina contada — relata João Marcelo.
Maria Aparecida Santos, 53 anos, está presa em Joinville desde segunda-feira. Ela estava em um ônibus com destino à Santos, no Litoral paulista. Esgotada, ela conta que no local estão crianças e idosos acampados no posto.
— Eu não tenho condições de tomar um banho, de dormir. Eu já estou revoltada, não tenho mais condições emocionais e físicas de ficar aqui acampada — comenta Maria.
Segunda ela, muitos passageiros estão com problemas de saúde e precisam de atendimento médico. Também há pessoas sem conseguir comida, por falta de dinheiro.
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— No meu posto tem uma senhora diabética, ela precisa de insulina e ela não tem condições de sair daqui para comprar. Não tem farmácia perto, não tem como ir a pé — relata Maria.
Bloqueios já duram dois dias
Os bloqueios bolsonaristas nas rodovias em Santa Catarina já duram dois dias. Os grupos começaram a fechar rodovias no último domingo descontentes com a vitória de Lula (PT) no segundo turno das eleições presidenciais.
Por volta das 8h40, eram 77 pontos de interdições em trechos federais e estaduais. Dentre eles, 36 estão em rodovias sob jurisdição federal, segundo comunicou a Polícia Rodoviária Federal (PRF).
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