Sem guerra, violência, desmatamento ou até mesmo drogas. Foi com essas previsões que a robô Cibernética apareceu na televisão brasileira, em 1999, no finado programa Xuxa Park, diretamente do futuro. Algo deve ter dado muito errado na linha temporal para que nós entrássemos em 2023 com Rússia e Ucrânia guerreando, a violência sem dar trégua, níveis recordes de desmatamento na Amazônia e a liberação de drogas distante de um consenso.
Continua depois da publicidade
Receba notícias de Florianópolis e região pelo WhatsApp
Fartamente explorada nas telas, a futurologia é um exercício que muitos cineastas e roteiristas se propõem a fazer, embora com frequência errem feio. Cibernética é ainda prova do desejo por uma utopia que não se concretiza e virou piada nas redes sociais graças às previsões furadas.
“Somos muito felizes, a natureza está em ordem. Estamos todos bem. Não há guerras, os seres humanos se conscientizaram da paz. Sem drogas, sem violência, o futuro é belo. Obrigada, Xuxa, você está fazendo um ótimo trabalho”, diz a boneca tecnológica interpretada pela atriz Simone Bruno no vídeo que viralizou.
Horóscopo: previsão completa de janeiro para os 12 signos
Continua depois da publicidade
Viagens no tempo são uma constante no 2023 das telas.
Futuro com alienígenas e viagem no tempo
Em “A Guerra do Amanhã”, Chris Pratt vive um ex-militar que vai ao futuro lutar contra alienígenas que ameaçam a Terra. O filme começa em 2022, mas se estende até o ano que se inicia agora, para o qual o protagonista regressa após conseguir uma toxina capaz de matar os invasores.
No sucesso de bilheteria “Vingadores: Ultimato”, também é neste ano que o Homem de Ferro e Hulk descobrem uma maneira de viajar no tempo, na ressaca de um desastre que aniquilou metade de toda a população.
Esse tipo de viagem, no entanto, segue sendo puro produto da ficção científica, bem como os super-heróis, que ainda não apareceram para salvar a humanidade daqueles mesmos problemas que Cibernética elencou nos anos 1990.
Dummies do BBB23 terão nova aparência
O protagonismo de robôs
“X-Men” foi outra saga importada dos quadrinhos que brincou tanto com o transporte entre diferentes eras, quanto com robôs autossuficientes –que, vale dizer, podem até configurar um acerto nessa futurologia, já que 2023 tem máquinas e inteligência artificial capazes de servir mesas em restaurantes ou colar rostos em vídeos pornográficos.
Continua depois da publicidade
No capítulo “Dias de um Futuro Esquecido”, os heróis mutantes aparecem num planeta Terra no qual robôs caminham livremente. Na trama, eles não são bonzinhos como Cibernética. Chamados de sentinelas, os humanoides metálicos foram criados para caçar e matar superpoderosos, emulando as habilidades daqueles com quem lutam.
SC tem período de efervescência cultural com grandes shows e eventos
Se em “Vingadores” 2023 representa o ano em que 50% dos heróis voltam à vida graças à tecnologia, em “X-Men”, também da Marvel mas produzido por um estúdio rival, este ano marca a extinção desses mesmos super-humanos. É um ano bastante intolerante, longe da fantasia deliciosa da robô amiga de Xuxa.
Um dia com crime permitido
Outra franquia a se afastar do faz de conta foi “Uma Noite de Crime”. O episódio “Anarquia”, lançado há oito anos, se passa em 2023, nuns Estados Unidos que acabam de viver uma guinada radical à direita.
É bem verdade que o país e tantos outros viram ascender recentemente lideranças nesse espectro político, mas chegamos a 2023 com a esquerda retomando o poder em muitos deles. A posse de Lula é simbólica para os latino-americanos, e Joe Biden não deixa de ecoar certa rejeição à direita.
Em “Uma Noite de Crime: Anarquia”, no entanto, pautas defendidas pela extrema direita saíram do papel numa medonha reunião de interesses vinculados a armamentistas.
Continua depois da publicidade
Confira as mudanças no Pix que começam a valer a partir desta segunda
Isso porque a ideia central da franquia, atualmente presente nos cinemas e na TV, é a de que, para combater os altos níveis de violência, o governo americano decidiu criar um novo feriado nacional, um expurgo que torna legal, durante 12 horas, qualquer tipo de crime.
Armados com todo tipo de parafernália, os cidadãos ricos mais sádicos saem à caça, enquanto aqueles ricos com bom senso se trancam em casarões com sistemas de segurança de ponta. Os mais pobres, incapazes de comprar armas ou proteção semelhantes, acabam vítimas de um projeto político totalmente desigual.
Fotos: Iate que ancorou em Jurerê Internacional custa 200 milhões de dólares
Depois de ver o 2023 de “Anarquia”, é melhor nem reclamar que as previsões açucaradas de Cibernética no Xuxa Park não se concretizaram.
*Leonardo Sanchez