Passageiros do cruzeiro que estava no porto de Itajaí tiveram que enfrentar dois problemas. Além de serem impedidos de sair por causa do protesto, tiveram a rota da viagem modificada pela empresa responsável pelo navio.
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O que deveria ser um momento de lazer e tranquilidade se transformou em pelo menos 30 horas de espera e confusão. Piscina, spa, restaurantes e outras mordomias do imponente cruzeiro Empress, de 211 metros de comprimento, não foram suficientes para compensar a dor de cabeça que cerca de 1,8 mil passageiros passaram até às 20h de ontem. Além do protesto de integrantes do setor pesqueiro, que bloqueou a entrada na zona portuária do rio Itajaí-açu por pelo menos 26 horas, muitos passageiros protestaram por causa da decisão de mudança de rota do cruzeiro, que deveria seguir para Buenos Aires, mas rumou para Búzios, litoral do Rio de Janeiro.
O planejamento de quase nove meses de antecedência de um grupo de seis amigos de Blumenau foi desfeito em poucas horas. Foi assim que o advogado Eduardo Tarnowski viu as férias se tornando em tormento.
– Eu e minha esposa compramos as passagens com dois casais de amigos em março do ano passado, guardamos dinheiro, fizemos planos de lugares para visitar e agora vamos ter que ficar em casa. É muito frustrante, principalmente pela forma como fomos tratados pela empresa. Em momento algum tivemos uma informação oficial da tripulação ou algum responsável sobre o que estava acontecendo. Vamos processá-los por tudo isso – reclama Eduardo.
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Ele e os amigos foram algumas das cerca de 50 pessoas que decidiram abandonar o Empress e não seguir para Búzios. No entanto, isso só foi possível após mais de uma hora de reclamações e até princípio de confusão dentro do cruzeiro. Professor de Direito Marítimo e Portuário da Univali, Osvaldo Agripino de Castro Jr explica que a empresa não poderia manter os passageiros dentro do navio:
– Não é culpa da empresa o impedimento causado pelo protesto, mas se ela decidiu mudar a rota, é uma escolha do passageiro seguir ou não no cruzeiro. Nesses casos, os consumidores podem pedir o ressarcimento da parte da viagem que não foi realizada por causa dos contratempos – orienta.
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Em nota, a assessoria de imprensa da Pullmantur Cruzeiros informou que “teve que readequar o itinerário inicialmente proposto” devido ao atraso provocado pela manifestação de pescadores. O navio deixou o porto de Itajaí com direção a Búzios às 21h30min.
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Ministério diz que fez ampla pesquisa
A nova regra criada pelo Ministério do Meio Ambiente, que tumultuou o setor pesqueiro industrial catarinense nos dois últimos dias, inclui uma lista com 475 espécies apontadas como ameaçadas de extinção, das quais cerca de 80 têm hoje uso comercial.
Por seis meses após a publicação da portaria, ou seja, até meados de junho deste ano, os pescadores ainda podem capturar e vender as espécies recém-incluídas na lista. Os estoques desse trabalho poderão ser comercializados até um ano após a nova regra. Isso quer dizer que, em 2016, não devem mais estar disponíveis as carnes de cherne, garoupa e cação, para dar alguns exemplos.
O ministério afirma que, entre 2010 e 2014, realizou uma avaliação da fauna, ampliando em 800% a quantidade de espécies na comparação com o último levantamento, divulgado em 2003. A pesquisa considerou 12.256 espécies da fauna brasileira, incluindo peixes e invertebrados aquáticos. Foram cerca de 5 mil animais marinhos e de água doce analisados para chegar à lista final.
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O órgão diz ainda que foram utilizadas publicações oficiais relacionadas a cada espécie, como boletins estatísticos de pesca, artigos científicos, dissertações de mestrado e teses de doutorado, livros e demais publicações científicas e técnicas. Participaram da análise o ICMBio e pesquisadores de diversas universidades do país: 1.383 especialistas da comunidade científica de mais de 200 instituições.
O Ministério da Pesca, por meio da assessoria, disse que a iniciativa partiu exclusivamente do Ministério de Meio Ambiente, mas a pasta teria se sensibilizado com o fato de algumas espécies serem comerciais e decidiu analisar mais de perto cada caso citado pelos pescadores nas manifestações de Itajaí. Por isso teria tomado a iniciativa de discutir com o outro órgão a criação de um grupo de trabalho para analisar a portaria.
Os pescadores que protestaram em Itajaí defendem que o Ministério do Meio Ambiente adote medidas alternativas de controle em vez da proibição, como defesos ou cota máxima de captura por barco.
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Entrevista Shirley Stamou
Passageira do navio
“Havia sensação de aprisionamento”
A passageira conta como foi a segunda-feira sem poder sair do barco e a confusão depois do anúncio da mudança de rota:
Como começou o protesto dos passageiros no navio?
Shirley Stamou – Apesar da espera em Itajaí, todos esperavam que o cruzeiro seguisse para Buenos Aires. No entanto, por volta das 18h, a tripulação informou que a rota seria modificada. Isso revoltou muitas pessoas, que começaram a discutir com funcionários do navio.
O que foi feito para resolver o impasse?
Shirley – Eu e meu marido nos reunimos com outros passageiros, alguns advogados, e formamos uma comissão para tentar dialogar com o capitão. Algumas pessoas no navio estavam visivelmente embriagadas e isso prejudicou as conversar.
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A espera durante a segunda-feira também teve problemas?
Shirley – Todos estavam tranquilos. Muitas pessoas passaram o dia na piscina ou aproveitando outras atrações do cruzeiro, algumas observavam do deque a movimentação dos barcos pesqueiros. Apesar de todo o conforto do navio, é impossível negar que havia uma sensação de aprisionamento.
Como vocês souberam da paralisação?
Shirley – Embarcamos na manhã de segunda-feira e deveríamos sair a tarde. A única informação que tivemos do comandante foi que não poderíamos sair do navio. Depois, pela internet, vimos notícia do protesto.
Os impactos econômicos da portaria e do protesto
Além dos efeitos ambientais da portaria do Ministério do Meio Ambiente, há um impacto econômico que deve ocorrer assim que a medida passar a ter efeito. Representantes do setor pesqueiro afirmam que a mudança pode cortar milhares de empregos apenas na região de Itajaí.
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– De uma forma geral, todas as 60 mil pessoas envolvidas direta e indiretamente serão afetadas. Seja com demissões, falências de empresas ou a redução drástica de faturamento – diz Giovani Monteiro, presidente do Sindicatos dos Armadores e das Indústrias da Pesca de Itajaí e Região (Sindipi).
O representante das indústrias de pesca alega que, ano a ano, os pescadores vêm identificando um aumento nos cardumes. Dizem também que, da forma que está a portaria, acabaria com um tipo de pesca, a chamada de espinhel de fundo (consiste em deixar uma série de anzóis com iscas no fundo do mar para pescar chernes e garoupas, por exemplo).
Fechamento tem efeito em cadeia
A operadora dos terminais do porto de Itajaí, a APM Terminals, disse, por meio de sua assessoria, que não haviam navios programados para a chegada ontem e antes de ontem e por isso não teria sofrido nenhum prejuízo com os protestos.
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Já o porto de Navegantes disse que teve um navio de carga preso por 12h no bloqueio. Ele estava programado para atracar por voltas das 6h da manhã de ontem.
– Ainda não é possível calcular prejuízos, contudo o atraso na operação traz muitos transtornos porque é um efeito em cadeia, influenciando até outros portos – disse Osmari de Castilho Ribas, diretor-administrativo da Portonave.