O veto do presidente Jair Bolsonaro a trechos de um projeto que previa a distribuição gratuita de absorventes a mulheres de baixa renda recebeu críticas de mulheres que atuam em ações voltadas justamente a fazer esse papel de combate à chamada pobreza menstrual. A repercussão também foi negativa em Santa Catarina.

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O projeto Menstruando Sem Tabu atende mensalmente 1,5 mil mulheres na Grande Florianópolis e mais 250 em Criciúma, por meio de uma parceria com outra entidade. Apesar disso, há pelo menos outras 5 mil mulheres na região da Capital que estão em uma espécie de lista de espera, mas que por enquanto a iniciativa não consegue atender.

A fundadora do coletivo, Laís Santos, não escondeu a decepção com a notícia de veto à distribuição de absorventes por parte do governo Bolsonaro.

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– É muito triste que questões como essa fiquem barradas pelo financeiro. É tão importante quanto distribuir camisinha nos postos, remédios nos postos de saúde – defende.

Laís diz saber que projetos isolados como o que ela lidera não vão conseguir atender a todas, e via na proposta uma forma de garantir equidade entre mulheres de diferentes classes sociais.

– Não é só o absorvente, é o que a falta de acesso a esse item acarreta para a pessoa que menstrua. (O governo) Vai gastar com o SUS depois porque a pessoa vai apresentar desde infecção urinária até coisas mais graves – questiona.

Tecido, papel higiênico, miolo de pão, papelão e jornal estão entre os itens usados por mulheres de baixa renda que precisam conter o fluxo durante o período menstrual.

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> Pobreza menstrual: entenda o problema no Brasil e em Santa Catarina

“Muitas vão para o tecido, papel higiênico”

Laís Santos rebate críticas de pessoas que consideram o absorvente um gasto baixo para as famílias, e lembra que no momento atual do país muitas famílias têm dificuldade até mesmo para comprar comida.

– Uma chefe de família que hoje recebe o auxílio (emergencial) de R$ 375 muitas vezes tem cinco, seis pessoas que menstruam na mesma casa. Se for somar isso, vai dar R$ 60, para uma renda de R$ 375. Muitas abrem mão de comprar absorvente e vão para o tecido, papel higiênico. Tem relatos que você fica chocado. Entre comprar comida e absorvente, a pessoa vai decidir por comida. É uma batalha perdida – analisa a voluntária.

> Conheça o podcast ‘Naqueles Dias’ que trata sobre a Pobreza Menstrual

O veto de Bolsonaro à distribuição de absorventes também rendeu críticas de lideranças de SC nas redes sociais. A vereadora de Florianópolis, Carla Ayres (PT), que apresentou projeto sobre combate à pobreza menstrual na Capital, afirmou que combater os diferentes tipos de pobreza não seria prioridade do governo atual.

– Esperamos que o Congresso derrube o veto de Bolsonaro e que as pessoas que menstruam possam ter sua dignidade menstrual – publicou em uma rede social.

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A vereadora de Criciúma, Giovana Mondardo (PCdoB), também é autora de um projeto transformado em lei para combate à pobreza menstrual. No Twitter, a parlamentar defendeu que “dignidade menstrual é direito básico” e prometeu pressionar pela derrubada dos vetos no Congresso.

A reportagem tentou contato com as duas cereadoras para comentar o veto de Bolsonaro, mas não teve retorno até a publicação.

> Opinião: Pobreza menstrual é um problema social, sim

Projeto previa distribuição a estudantes e mulheres presas

A proposta que teve artigos vetados por Bolsonaro previa a doação de absorventes a estudantes de baixa renda matriculadas em escolas da rede pública, mulheres em situação de rua ou em situação de vulnerabilidade social extrema; mulheres apreendidas e presidiárias; e mulheres internadas em unidades para cumprimento de medida socioeducativa.

Pesquisa divulgada em maio deste ano revelou que 28% das mulheres brasileiras deixaram de ir à aula por não conseguirem comprar o item de higiene menstrual. O Congresso ainda vai analisar o tema e pode derrubar os vetos de Bolsonaro.

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Vídeo: o que é pobreza menstrual?

Ouça o podcast ‘Naqueles Dias’ sobre pobreza menstrual

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