“Lá se foi outro romance”, dizia o Woody Allen depois de fazer sexo. É antiga a crença de que a energia gasta numa relação sexual diminui a energia criativa do homem – e que portanto impulso sexual represado aumenta a criatividade. Ou seja: abstinência dá boa literatura. Outra crença é que o tesão estimula a mente e a criatividade é um subproduto da libido, e bom sexo também dá bons livros. De qualquer jeito, a ligação entre hormônios e arte seria indiscutível. Lendo um livro do conhecido biógrafo Richard Ellmann sobre o poeta William Butler Yeats, entre outros irlandeses, descobri que Yeats, preocupado com a diminuição do seu vigor sexual, procurou um médico chamado Norman Haire, que fazia uma cirurgia de rejuvenescimento de acordo com as teorias do austríaco Eugen Steinach, cujos pacientes em Viena incluíam o Dr. Freud (mas não por problemas sexuais, se apressa a dizer Ellmann). A cirurgia revolucionária era o que hoje se chama vasectomia, mas a teoria de Steinach era que ela aumentava a produção de hormônios e revitalizava o organismo. Yeats fez a operação, que teve pouco efeito no seu desempenho sexual, segundo Ellmann, apesar de ele dizer que passara a viver uma “segunda puberdade”, mas muito efeito na sua poesia, que entrou na sua melhor fase. Devido a – nas suas palavras – “um fermento que se apossou da minha imaginação”. O que fermentava eram os hormônios do Dr. Steinach.

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Outro efeito colateral da cirurgia em Yeats foi que ele deixou para trás suas simpatias pelo fascismo e se transformou num cético contra toda arregimentação política e todos os dogmas. Ou seja: pelo menos teoricamente, sempre há a perspectiva de uma segunda puberdade para salvar poetas do mau caminho.