Mais de 20 anos depois do massacre de Srebrenica e do atroz cerco de Sarajevo, os juízes do Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia (TPII) devem anunciar nesta quinta-feira o veredicto contra o ex-líder político sérvio-bósnio Radovan Karadzic, após um longo julgamento histórico.
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Karadzic, de 70 anos, recebeu 11 acusações por genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra durante o confronto bélico da Bósnia, que deixou mais de 100.000 mortos e 2,2 milhões de deslocados entre 1992 e 1995.
O acusado, cujo julgamento começará às 14H00 (10H00 de Brasília), está “ansioso”, segundo afirmou à AFP seu conselheiro jurídico, Peter Robinson.
Muitas vítimas, incluindo ex-prisioneiros e mães de Srebrenica viajaram para assistir ao julgamento, assim como diplomatas e juristas do mundo inteiro.
A polícia, mobilizada em grande número, foi orientada a se manter “extremamente vigilante” dois dias após os atentados de Bruxelas.
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Alguns manifestantes se reuniram em frente ao tribunal para exigir que Radovan Karadzic seja “punido pelas acusações de genocídio”. “Depois disso, os muçulmanos da Bósnia poderão, enfim, obter um pouco de serenidade”, afirmou Hamdija Karahasanovic, de 67 anos.
“É um dia histórico para a justiça internacional”, acrescentou Jasna Causevic, de 58 anos.
A ex-porta-voz da procuradora do TPII, a francesa Florence Hartmann, foi detida nesta quinta pelos guardas do tribunal aos prantos.
Florence Hartmann, porta-voz da procuradora Carla Del Ponte 2000-2006, foi condenada por desacato ao tribunal em 2009 pela publicação em um livro de duas decisões confidenciais.
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Sua condenação escandalizou muitos jornalistas e organizações ativas nos países da ex-Iugoslávia, que se reuniram em um comitê de apoio.
Radovan Karadzic será a principal autoridade julgada pelo tribunal pelos supostos crimes cometidos durante o conflito, após a morte em 2006, durante o processo, do ex-presidente sérvio Slobodan Milosevic.
Karadzic foi o presidente da república unilateralmente proclamada dos sérvios da Bósnia, a República Srpska.
De acordo com a acusação, ele pretendia dividir a Bósnia e “expulsar para sempre os muçulmanos e croatas dos territórios reivindicados pelos sérvios da Bósnia”.
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Para o promotor Serge Brammertz, o julgamento contra Karadzic é “um dos mais importantes da história do TPII”, tanto pelo número de vítimas como pela “responsabilidade de políticos no sofrimento de seu povo”, afirmou à AFP.
Karadzic, psiquiatra de formação, foi acusado, entre outras coisas, pelo massacre de julho de 1995 de quase 8.000 homens e adolescentes muçulmanos pelas forças sérvias da Bósnia em Srebrenica, o mais grave cometido na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
De acordo com a acusação, o massacre foi uma “limpeza étnica” planejada por Karadzic e Slobodan Milosevic depois do desmembramento da Iugoslávia, em 1991.
A acusação também atribui ao réu a responsabilidade pelo cerco de Sarajevo, que durou 44 dias e matou 10.000 pessoas, assim como dos campos de detenção em “condições de vida desumanas”.
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Karadzic, na época o fugitivo mais procurado da Europa, escapou da justiça internacional por quase 13 anos. Foi detido em julho de 2008 em um ônibus de Belgrado. Ele se fazia passar por um terapeuta de medicina alternativa.
A acusação solicitou a pena de prisão perpétua.
* AFP