Sete pessoas foram presas temporariamente na manhã desta segunda-feira em cinco cidades catarinenses, após o Ministério Público estadual descobrir que uma quadrilha furava a fila de exames do Sistema Único de Saúde (SUS). Um oitavo suspeito ainda ficou de se entregar à polícia. As prisões e 19 mandados de busca e apreensão aconteceram em Florianópolis, Biguaçu, Major Gercino, Palhoça e São João Batista.
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Entre os presos pela Operação Ressonância, estão três vereadores de São João Batista e um de Biguaçu, Manoel Airton Pereira (PP), o Bilico. Conforme o Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), o núcleo do esquema era no Hospital Celso Ramos, no centro da Capital, onde um servidor do Estado com acesso ao banco de dados do SUS fraudava a ordem de exames, principalmente os de ressonância magnética e tomografia. O valor cobrado ficava entre R$ 200 e R$600. A vantagem também poderia ser política, através da fidelização de eleitores, por parte dos vereadores investigados.
— Haviam intermediadores que captavam pacientes. Eles por sua vez, entregavam um envelope com o cartão do SUS e o dinheiro exigido. A troca dos envelopes pelas requisições acontecia nos fundos do hospital, num local chamado barraco, ou em um quiosque ali próximo — detalhou o promotor Alexandre Graziotin, coordenador do Gaeco.
Tinha gente que vivia dessa fraude
A Operação Ressonância apura crimes de falsidade ideológica, estelionato, associação criminosa, inserção de dados falsos nos sistemas de informação, corrupção passiva e crimes eleitorais. Conforme o Ministério Público, não há médicos envolvidos no esquema. A operação iniciou partir de uma denúncia da Secretaria Estadual de Saúde (SES) enviada em novembro de 2015 para a 33ª Promotoria de Justiça da Capital. De acordo com o secretário João Paulo Kleinübing, funcionários de secretarias municipais perceberam as irregularidades.
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— O processo inicial foi no final do ano passado, quando recebemos a informação de que estaria acontecendo dentro de hospitais algum tipo de favorecimento para a realização de exames e procedimentos. Isso é inadmissível. Então a gente fez um trabalho conjunto no sentido de coibir isso — explicou Kleinübing.
— Trata-se de um esquema muito antigo, já consolidado por bastante tempo. Tanto que ele continuou durante os 11 meses das investigações. Tinha gente que vivia exclusivamente dessa fraude — revelou a promotora Sonia Piardi.
“Meu cliente sempre pegou fila”
O Ministério Público não revelou o nome dos presos, mas a reportagem identificou que entre eles está o vereador Bilico, justamente o mais votado de Biguaçu. A defesa do político afirma que ainda não teve acesso aos autos do processo. Segundo o advogado Anderson Nazário, o cliente não tem nenhuma relação com a fraude.
— Eventualmente ele encaminhava pessoas para exames, levava os pacientes para fazer esses exames, mas nunca fez ou recebeu qualquer pagamento por encaminhar esses pacientes. Ele sempre pegou fila para ser atendido — argumentou o advogado.
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A operação teve apoio dos núcleos regionais do Gaeco de Joinville, Chapecó, Criciúma, Lages, Itajaí e Blumenau, do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), da PM e IGP.