A confusão na sessão de terça-feira à noite, na Câmara de Vereadores de Itapema, continua rendendo assunto na cidade. Depois que a maioria dos parlamentares votou contra a lei de iniciativa popular para criar o Monumento Natural Praia Grossa e Praia do Cabeço, várias pessoas teriam partido em direção aos vereadores, os atingindo com cusparadas. Por isso, 11 vereadores registraram, nesta quarta-feira, um boletim de ocorrência contra alguns dos participantes.

Continua depois da publicidade

Presidente da Comissão de Turismo e Meio Ambiente, o vereador Mouzatt Barreto (DEM) foi um dos que votou contra o projeto e criticou os manifestantes que teriam partido para cima dos vereadores.

– Vivemos em uma democracia, mas a partir do momento que alguém parte para a agressão, perde a razão – acredita Barreto.

Ele diz que votou contra o projeto porque o município não teria condições financeiras de manter o espaço. Ele também falou sobre a intenção dos donos do terreno, que querem transformar o local em um condomínio/hotel e avisou também que, até isso virar realidade, muita coisa precisa acontecer.

– O namoro vai ter que ser longo para virar casamento – comparou o vereador.

Continua depois da publicidade

Fabrício Lazzari (PP) foi um dos quatro vereadores que votou a favor do projeto. Para ele, o fato de ser uma lei de iniciativa popular, já é motivo suficiente para justificar o voto.

– Não poderia ir contra, pois é o mesmo que ficar contra a população. Além disso, segui o estatuto do meu partido que preza pela preservação da natureza – comenta.

A Praia Grossa e a Ponta do Cabeço são duas áreas que ficam entre o Canto da Praia e o Itapema Plaza Resort. A intenção de transformar o local em área de preservação ganhou força nos últimos anos, quando um grupo de investidores demonstrou o interesse em construir um condomínio no local. Este projeto ainda precisa de algumas licenças ambientais para as obras começarem.

Vereadores de Itapema não representam a vontade do povo

Por Willian Meister, professor e membro do movimento popular em defesa da Praia Grossa

A negação do projeto popular causa imensa derrota política ao governo já desmoralizado de nossa cidade e à sua bancada de base na câmara, uma vez que os coloca na contramão do interesse popular e derruba o seu slogan de campanha: “Cuidar das pessoas, melhorar o futuro!”.

Continua depois da publicidade

É necessário se entender que derrubar a proposta de parque não significa liberar caminho à construção na área, pois os projetos ainda estão sob análise do Ministério Público e dos órgão ambientais, necessitando também parecer do Conselho de Meio Ambiente de Itapema. Mas a tônica da votação demonstra o imenso apoio do governo a projetos deste porte, evidenciando profunda relação com a construção civil e a especulação imobiliária.

A luta pela Praia Grossa foi o estopim de um levante popular que não mais aceita esta lógica e se organiza para lutar por suas demandas, contra o patronado de Itapema. A negação do projeto evidencia a importância e urgência de uma discussão maior, em voga Brasil afora: a tão necessária Reforma Política.

É mais que fundamental que revisemos as formas de gestão em nosso sistema político, efetivando a participação e a soberania popular como ferramentas diretas de representatividade. Além disso, é fundamental que se considere o financiamento exclusivamente público de campanha como possibilidade, para se evitar que o poderio econômico tome conta da política conservadora permitindo que atrocidades como estas continuem a acontecer, formando um exército de lobistas que representarão as vontades dos financiadores e negarão as demandas do povo.