A vereadora Ana Lúcia Martins, primeira mulher negra a ser eleita para o cargo em Joinville, no Norte de Santa Catarina, afirmou, nesta segunda-feira (6), em entrevista à CBN, que não descarta passar a contar com escolta policial caso venha a receber uma nova ameaça. Na sexta (3), ela recebeu um e-mail com ofensas racistas e ameaças de morte, pouco mais de dois anos depois de ter sido alvo de postagens nas redes sociais no mesmo tom, quando estava no início de seu mandato pela cidade.

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O conteúdo violento mais recente chegou ao e-mail institucional de Ana Lúcia na ocasião em que a vereadora Maria Tereza Capra (PT), de São Miguel do Oeste, foi cassada por ter denunciado a suposta saudação nazista ocorrida no município do Oeste Catarinense em um acampamento bolsonarista no ano passado. A parlamentar de Joinville vinha prestando solidariedade à colega que perdeu o mandato.

No e-mail enviado para Ana Lúcia, há ameaças de morte a ela, para Maria Tereza Capra e também para a vereadora de Criciúma e suplente de deputada federal Giovana Mondardo (PCdoB). Entre elas, a parlamentar de São Miguel do Oeste passou a contar com escolta policial. Já a vereadora de Joinville é acompanhada pelo Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas (Provita).

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— Nós estamos contando com esse programa de segurança, que é nacional, mantendo ele informado de todas as situações de ameaça. A Câmara de Joinville se colocou totalmente à disposição, a prefeitura também. A vereadora Maria Teresa já está com uma proteção física, está sendo escoltada pelas forças de segurança — disse ao jornalista Rafael Custódio, do Radar CBN.

— Por ora, estamos contando com um pouco de sorte, para que nada venha a nos acontecer. Não vamos desprezar a gravidade desse fato, mas vamos aguardar. Se tiver mais alguma ameaça, com certeza, nós vamos ter que recorrer a uma segurança das forças públicas. Não queremos mais ser vítimas, queremos terminar o nosso mandato e cumprir a nossa missão vivas — completou Martins.

O e-mail recebido pela vereadora de Joinville foi encaminhado com a assinatura do vereador Vanirto Conrad (PDT), identificado na mensagem como presidente da Câmara de São Miguel do Oeste. Atualmente, ele é vice-presidente da Casa, mas presidiu ela até o fim do ano passado.

Vanirto nega a autoria do conteúdo e diz que se trata de um e-mail assinado falsamente com seu nome para incriminá-lo ou de uma invasão a suas redes sociais (veja a íntegra do que ele diz abaixo). O vereador já havia ficado conhecido nacionalmente em janeiro, ocasião em que o PDT abriu processo para expulsá-lo do partido após ter sido apontado pela Polícia Civil como líder de manifestações golpistas, conforme revelou O Globo.

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A vereadora Ana Lúcia Martins não quis atribuir a ele a autoria do e-mail, mas destacou que recebeu as ameaças na madrugada anterior à que Maria Tereza Capra foi cassada, no sábado (4): ou seja, a mensagem já anunciava o iminente afastamento da parlamentar sem que ainda tivesse ocorrido.

— O que nos chama atenção é que… óbvio, é uma pessoa que provavelmente já estava seguindo as nossas redes sociais… mas a pessoa já conhecia, inclusive, a decisão do processo de cassação da vereadora Maria Tereza, porque ele afirma no corpo do e-mail que era para eu avisar a vereadora Maria Tereza que não adiantaria ela apelar para a imprensa, porque ela seria cassada. Ou seja, então é uma pessoa que tinha conhecimento do processo e me usa para passar essa mensagem para a vereadora.

— Eu não posso afirmar de quem é a autoria do e-mail, mas espero de verdade que as apurações cheguem aos responsáveis ou à pessoa responsável, para que isto tenha um fim. Nós não podemos mais ser ameaçadas porque ocupamos um cargo político. Temos que mudar esse entendimento das pessoas de acharem que elas têm total liberdade de nos ofender e, inclusive, de nos ameaçar, de ameaçar a nossa integridade — completou a vereadora.

Veja denúncia da vereadora Ana Lúcia Martins sobre e-mail

Veja a íntegra do que diz Vanirto Conrad, citado no e-mail

“Quero informar que jamais enviei tal e-mails, aliás nem conheço, e nunca tive nenhum contato com Ana Lúcia Martins, vereadora do PT de Joinville que me acusa de tais fatos. Se esse e-mail porventura existir, só pode ser fruto de invasão de minhas redes sociais ou de alguém que criou um e-mail falso em meu nome para criar um factoide político. Informo que já registrei um Boletim de Ocorrência esperando que esta situação seja elucidada com a maior brevidade possível, e os responsáveis por estas notícias falsas sejam punidos na forma da lei.”

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