Mauricinho Soares (MDB) é apontado pela polícia como um dos principais articuladores do esquema de fraudes no Departamento de Trânsito estadual (Detran) de Joinville. Ele está preso desde a última sexta-feira (8), quando foi abordado em frente à Câmara de Vereadores. Esta foi a segunda prisão do parlamentar em uma semana.

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Esquema no Detran de Joinville “limpava” multas até de outros estados, diz polícia

De acordo com o delegado Pedro Alves, da Delegacia Especializada em Combate à Corrupção (Decor), o papel de Mauricinho na organização criminosa era, utilizando do cargo público, influência política e livre acesso ao órgão, o de cooptar motoristas com CNHs suspensas que tinham interesse em zerar multas das carteiras de habilitação de forma ilícita.

— Essa organização não tinha, necessariamente, uma pessoa que era o cabeça, mas eles atuavam em articulação. Cada um tinha um papel pré-definido e o dele [Mauricinho Soares] era relevante no sentido de trazer um volume bem grande de condutores para poder ter essa liberação de penalidade feita de forma indevida. Ele levava o condutor do veículo, o nome e a documentação até o agente do Detran e, com esses dados, o agente fazia a inserção no sistema com as informações falsas — explica o delegado.

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— Ele era conhecido por ter trânsito fácil no Detran. Tratava as coisas de maneira mais célere, conhecia a rotina administrativa do órgão e, no meio do caminho ,acabou cometendo esses crimes – complementa Rafaello Ross, delegado regional de Joinville.

Até o momento, quatro pessoas foram presas nas duas fases da Operação Profusão. Os envolvidos são investigados pelos crimes de corrupção ativa e passiva, falsidade ideológica, inserção de dados falsos em sistema de informações e organização criminosa.

A suspeita é de que Mauricinho recebia parte do valor do esquema, mas repassava a maioria para os agentes do Detran que faziam parte do grupo. O vereador pode responder por corrupção ativa, já os envolvidos ligados diretamente ao órgão de trânsito por corrupção passava.

Vereador foi preso duas vezes em uma semana

No dia 30 de novembro, quando foi deflagrada a operação, Mauricinho Soares foi preso em flagrante no momento do cumprimento do mandado de busca e apreensão na casa dele. Isso porque os policiais encontraram uma arma de fogo ilegal entre os pertences do parlamentar. Ele chegou a ser conduzido ao presídio, mas, durante a tarde, pagou fiança de R$ 12 mil e foi liberado. Mesmo assim, continua a responder este processo, só que agora em liberdade.

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Ainda sobre o caso da arma, a Câmara de Vereadores de Joinville (CVJ) aprovou, na segunda-feira (4), um pedido para o conselho de ética investigar Mauricinho por quebra de decoro parlamentar. Com 13 votos dos parlamentares presentes na sessão, a solicitação de Diego Machado (PSDB) foi aprovada por unanimidade.

Já no dia 8, Mauricinho foi preso preventivamente e o que motivou o mandado foi a descoberta de novos elementos que ligam o vereador aos casos de fraude no Detran e apontam, ainda, a “participação ativa dele no esquema. indícios mostram, inclusive, as práticas já eram feitas em mandados anteriores do político.

— A prisão preventiva é pra assegurar que a investigação ocorra de forma mais isenta, imparcial, sem possibilidade de influência externa, principalmente da pessoa que está sendo presa. Eventualmente, até no curso do processo a pessoa pode continuar presa, a depender da análise do juiz. Neste caso [do Mauricinho], ele continua preso e vai permanecer — explica Pedro Alves.

Após ser preso, por orientação de seus advogados, Mauricinho permaneceu em silêncio durante o interrogatório. O A Notícia entrou em contato com a defesa, que informou que não irá se manifestar neste momento.

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Quem foi preso até agora

Ainda na sexta-feira, além do vereador, outra pessoa foi presa preventivamente. O investigado é ex-funcionário do Detran e atuava diretamente no Ciretran, setor responsável pela geração de multas. Ele é apontado pela polícia como “um grande articulador” responsável por fomentar especificamente o esquema da fraude de liberação de penalidades.

Desligado do órgão há um ano, ele continuou a integrar a organização criminosa fazendo os trabalhos de forma particular, ainda visando fraudar as situações no Detran. O empresário, inclusive, foi o ponto-chave para dar início às investigações que mostram que o esquema de zerar multas começou em dezembro de 2022 e cessou após as prisões.

No total, quatro pessoas já foram presas nesta operação: um servidor que ainda estava no Detran (1ª fase), um despachante (1ª fase), Mauricinho Soares (2ª fase) e o ex-funcionário do órgão (2ª fase).

Entenda a operação da Polícia Civil

De acordo com Rafaello Ross, a ação conduzida pela Decor tem relação com a liberação irregular de carteiras de motoristas suspensas pelo Departamento de Trânsito. Nesta operação de âmbito policial, quatro pessoas foram presas, entre elas, Mauricinho, pela posse da arma de fogo, um despachante, outro funcionário terceirizado do Detran e um ex-funcionário do órgão.

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A investigação iniciou em janeiro deste ano e, no decorrer da apuração, foram descobertas mais de 100 condutas criminosas. De acordo com Ross, em três meses, foram auditados 60 processos de liberação de CNH a condutores impedidos de dirigir com envolvimento dos suspeitos. Desses, 58 apresentaram irregularidades. Em um dos casos, segundo investigador, o condutor que teve a liberação para dirigir estava com mais de 240 pontos na carteira.

Além das prisões, também foram cumpridos 14 mandados de busca e apreensão e duas ordens de suspensão de atividades de empresas que atuavam em Joinville do ramo despachante e que eram de propriedade de um dos presos. Nos endereços, foram apreendidos aparelhos eletrônicos, especialmente telefones celulares, e documentos relacionados aos fatos sob apuração.

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