– Estou mal, apreensivo e sem chão.
É assim que o vereador mais votado na história de uma das maiores e mais antigas cidades de Santa Catarina, com 247 anos de existência, tem se manifestado nos últimos dias. O caso de Marcius tem criado desconforto no cenário político lageano, repercutiu nos últimos dias na imprensa local e tem deixado o clima tenso no legislativo municipal.
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Em apenas um ano, Marcius Machado (PR), de Lages, passou de fenômeno das urnas a alguém sem apoio na Câmara Municipal. De nome cotadíssimo a deputado e a próximo prefeito, ele perdeu força política, é atacado até por legisladores do seu próprio bloco e, pior que isso, pode ser cassado pela Justiça Eleitoral. Por tudo isso, Marcius é a prova viva de que, em política, tudo pode acontecer em um piscar de olhos.
Com uma carreira construída na militância do movimento estudantil, Marcius vinha numa crescente política nos últimos anos. Em 2004, na primeira campanha que disputou para vereador, ainda pelo PPS, foi o 29º mais votado entre 117 candidatos, obteve 1.033 votos e ficou como primeiro suplente. Naquela eleição, Arnaldo Moraes (PFL) havia se consagrado como o campeão das urnas em toda a história de Lages, com 3.526 votos.
Em 2008, também pelo PPS, Marcius se candidatou pela segunda vez, foi o sétimo mais votado e se elegeu com 2.057 votos, praticamente o dobro em relação à eleição anterior. Já em 2012, Marcius superou com folga não só a ele próprio, mas a todos os outros, e foi reeleito ao conquistar a maior votação da história de Lages, com 3.808 votos, quase duas vezes o total obtido em 2008.
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Marcius foi muito cumprimentado, concedeu várias entrevistas e logo passou a ser cogitado para deputado estadual e até mesmo a próximo prefeito. Mas 2013 chegou e os sonhos de Marcius se tornaram pesadelos. O seu jeito polêmico, combativo e muitas vezes autoritário o levou a perder aliados e somar desafetos entre os demais 18 vereadores lageanos, alguns inclusive da base de apoio ao prefeito Elizeu Mattos (PMDB), da qual Marcius faz parte.
Tal personalidade fez com que Marcius, de 34 anos, ficasse sem apoio suficiente para ocupar a presidência da Câmara em 2014, conforme havia sido combinado no início do ano. Ele atribui o fracasso do seu plano de chegar ao cargo máximo do Legislativo lageano ao que considera uma traição por parte do vereador Adilson Roza (PTB), mas Padeiro, como é conhecido, garante que nunca prometeu apoio a Marcius, e por isso não teria obrigação nenhuma de indicá-lo à presidência.
Não bastasse isso, Marcius enfrenta na Justiça Eleitoral uma ação que pode resultar na perda do seu mandato de vereador por infidelidade partidária. Alegando perseguição política e falta de espaço para concorrer a deputado estadual no próximo ano pelo PPS, Marcius solicitou sua desfiliação ao vice-prefeito Toni Duarte, presidente municipal do partido, a fim de ingressar no PR, sigla com a qual diz ter se identificado ideologicamente e na qual teria mais oportunidades.
Mesmo não concordando com as teses de perseguição política e falta de espaço no PPS, Toni Duarte aceitou o pedido, mas o Ministério Público não acatou os argumentos de Marcius e recomendou a sua cassação.
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A ação pode ser julgada a qualquer momento, e Marcius sabe dos riscos que corre. Ele tem esperança de ser absolvido, mas não esconde o medo e a frustração por um ano que, para ele, começou perfeito e termina num verdadeiro inferno astral.
– O povo lageano conhece a minha história. Eu sempre fui perseguido desde o começo da minha carreira política. Se eu for cassado por ter trocado de partido não perderei os direitos políticos e serei candidato a deputado estadual, mas sem o mandato de vereador fica mais difícil conquistar a eleição, pois estarei fora dos holofotes. Estou mal, apreensivo e sem chão.